Mapeamento de dados é principal gargalo do setor de seguro agrícola, diz Antonio Alvarenga

O segmento de seguro agrícola cresceu 62,2% em 2013, de acordo com números da Superintendência de Seguros Privados (Susep) até novembro do ano passado. Ou seja, mesmo sem contabilizar o resultado de dezembro, representa quase o dobro da expansão média, de 36,6%, observada nos últimos 10 anos. A expectativa é de manutenção da tendência, mas há entraves importantes a serem vencidos: agricultores reclamam produtos e preços que atendam suas necessidades e maior subvenção por parte do governo; seguradoras carecem de uma sólida base de dados de produção e produtividade, por regiões, para desenvolverem produtos adequados.

Enquanto essa equação não fecha, a expansão galopante do setor deriva da modernização da gestão regionalizada de grandes produtores, do aumento da safra e, principalmente, da baixa penetração dos seguros agrícolas no setor: no Brasil, o percentual de área segurada sobre área plantada é de apenas 8,8%, contra 82,3% nos Estados Unidos.

“O principal gargalo é o mapeamento de dados de produção e produtividade, para que se possa fazer um cálculo atuarial justo para todos. Tem que ser feita uma parceria entre os três. Hoje, tem instrumentos tecnológicos, como satélites, para acompanhar muito bem a produção, a produtividade média por região, a perda que o produtor teve. E o governo então entra para bancar”, argumenta o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antônio Alvarenga.

Atualmente, a subvenção do governo brasileiro para o seguro agrícola alcança o percentual máximo de 60%, enquanto os Estados Unidos bancam até 100% do custo, dependendo do produto cultivado e da região onde está a propriedade. “Em países europeus, como Itália e Portugal, os percentuais de subvenção chegam, respectivamente, a 75% e 80%”, de acordo com o Bruno Kelly, professor da Escola Nacional de Seguros (Funenseg).

A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) criou uma comissão especificamente para desenvolver o segmento. O Ministério da Agricultura também conta com uma câmara exclusiva para esse debate. Os três atores têm conversado, “mas o ritmo do trabalho ainda é lento para a necessidade do país”, avalia Alvarenga.

Por conta disso, a evolução tem se dado de forma regionalizada e por segmento agrícola. “Alguns estados evoluíram em qualidade de produto de seguro e participação, como Paraná e Rio Grande do Sul. No Brasil Central, a participação é pequena e a qualidade é baixa”, analisa o coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja Mato Grosso, Adolfo Petry. “O produtor não vê o seguro como ferramenta para reduzir risco e sim como aumento de custo. Ainda estamos trabalhando com as seguradoras para conseguirmos desenvolver produto adequado”.

Além das questões estruturais a serem desenvolvidas, os três atores estão aprendendo a lidar também com mudanças climáticas em curso. Este ano, o BB Mapfre, que detém 70% do segmento, viu a sinistralidade se multiplicar por conta da seca. O recorde foi estabelecido nos 10 primeiros dias de fevereiro, com dois mil avisos de sinistros. Para atender os clientes, o grupo teve que ajustar sua equipe e mandar 300 peritos, auditores e analistas para o campo.

Fonte: Brasil Econômico

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