No Brasil, o ano começa depois do Carnaval. E qual é o dia do Carnaval? Esta pergunta é sempre repetida no início de cada ano. A razão é simples: o Carnaval não é uma data ou um feriado fixo, como o dia da Independência em 7 de setembro, por exemplo. Ele é uma data móvel. Varia todo ano. Por que é assim? Por estar vinculado à data da Páscoa.
A Páscoa é uma festa móvel. Pelas primeiras regras estabelecidas pela Igreja Católica no século IV, no concílio de Nicéia (325), celebra-se a Páscoa no primeiro domingo após a primeira lua cheia, depois do equinócio de primavera do hemisfério Norte, 20 de março. A Páscoa pode ocorrer o mais cedo no dia 22 de março e o mais tarde no dia 25 de abril.
Como consequência indireta, o período de Carnaval também se estabeleceu na sociedade ocidental: inicia-se no final de semana anterior à Quarta-feira de Cinzas e termina na Terça-feira, conhecida em francês como Mardi-Gras, a Terça-Feira Gorda. E em sendo assim, volta a pergunta: como é fixada a cada ano a data da Páscoa?
Neste ano da Graça de 2025, a primeira lua cheia depois do Equinócio ocorrerá na passagem do 13 para 14 de abril. E o domingo da Páscoa do Senhor, será no dia 20. A Páscoa determina todo ano, num calendário litúrgico móvel, a data de outras festas religiosas como a Ascensão de Jesus aos Céus, 40 dias depois da Páscoa, e Pentecostes, dez dias depois da Ascensão e 50 depois da Páscoa.
No hemisfério Norte, o equinócio de março marca o início da primavera. Os dias se tornam mais longos, em geral chove e aumentam as temperaturas. Nos campos retorna o verde na vegetação, renasce a fotossíntese e para os agricultores é tempo de preparar a terra, plantar e semear.
No hemisfério Sul e em grande parte do Brasil, o equinócio de março marca o início do outono. As águas de março fecham o verão. É tempo de colheita, das safras. Algumas mais precoces, como a safra de soja, ocorrem no início do verão. A grande colheita do milho, segunda safra, início do outono.
No mundo rural, durante o Carnaval, desfilam colheitadeiras e tratores nos tratos com as lavouras e as colheitas. A data móvel do Carnaval evoca a dinâmica, o provisório e a passagem. Lembra a passagem do tempo, o ciclo dos cultivos, das estações e até da vida humana, tão efêmera, como uma erva do campo (Sl 90,5-6).
Evaristo de Miranda é pesquisador, doutor em Ecologia e membro da Academia Nacional de Agricultura da SNA. https://evaristodemiranda.com.br/
