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Os preços do milho na região de Campinas (SP), representados pelo Indicador ESALQ/BM&FBovespa, vêm registrando avanços expressivos em fevereiro, conforme mostram dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
Segundo pesquisadores do Cepea, o impulso vem da baixa disponibilidade doméstica por conta dos menores estoques de passagem, do atraso na colheita das lavouras de primeira safra e do maior interesse comprador por novos lotes em um ambiente em que vendedores estão afastados do spot.
De acordo com a Conab, a relação estoque sobre o consumo interno de milho estava em 2,5% no final do de janeiro, patamar nunca antes registrado no Brasil. Até então, a menor relação havia sido registada em janeiro de 2012, quando os estoques eram equivalentes a 4,1% do consumo anual.
Em termos de colheita da primeira safra, na média nacional, os dados da Conab apontam que 20,9% das lavouras haviam sido colhidas até 23 de fevereiro, contra 24,9% no mesmo período de 2024. Já para o estado de São Paulo, os dados apontam expressivo atraso. Até o último final de semana, apenas 6% das lavouras paulistas haviam sido colhidas, contra 20% em 2024, segundo a Conab.
Nesse ambiente, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu significativos 13,1% na parcial de fevereiro (até o dia 24), fechando a R$ 84,85/saca de 60 kg nessa segunda-feira, 24 – o maior patamar nominal desde março de 2023. Na parcial do ano (até dia 24 de fevereiro), o Indicador acumula forte avanço de 16,7%. Vale destacar que, especificamente nos últimos seis dias úteis (entre 14 e 24 de fevereiro), o Indicador teve forte acréscimo de 6,2%.
Essa movimentação recente foi refletida nos preços relatados por agentes colaboradores do Cepea, os quais participam da amostra diária envolvendo os 162 municípios que compõem a microrregião de Campinas na estrutura do Indicador. São considerados preços do produto de dentro do estado de São Paulo, com diferimento de ICMS, e de fora do estado, já descontado o custo do ICMS.
Na semana passada, enquanto parte dos agentes operava com preços relativamente estáveis, outros já entendiam que o mercado estava “mais firme” e, então, restringiram suas ofertas de venda ou buscaram antecipar parcialmente suas compras. A dispersão dos dados é refletida pelo Coeficiente de Variação (CV).
Conforme a metodologia do Indicador, a cada dia o CV precisa ficar igual ou inferior ao CV médio dos últimos 20 dias úteis, acrescido de 25% (chamado de CV crítico). A exceção é quando a variação monetária do Indicador supera o desvio-padrão do dia anterior (vide detalhes na metodologia, aqui).
No dia 13 de fevereiro, por exemplo, o CV da amostra inicial estava em 4%, com um CV crítico de 3,9%. No dia 14, o CV passou para 4,3% e, no dia 17, voltou para a casa dos 4%. Nesses três dias, havia na amostra inicial dados fora do intervalo de dois desvios-padrões (primeiro critério para ajuste da amostra), o que contribuiu para que o CV se ajustasse ao nível crítico após tratamento estatístico.
Porém, entre 18 e 24 de fevereiro, a dispersão dos dados se ampliou, ao ponto de todas as informações estarem no intervalo inferior a dois desvios-padrões – nessa segunda-feira, 24, o CV foi de 6,02%. Nesses dias, como o CV estava superior ao nível crítico, a amostra precisou ser ajustada, retirando-se os preços mais distantes da média.
Na amostra do dia 18 de fevereiro, especificamente, os dados mais distantes em relação à média foram os valores máximos, o que influenciou para a variação negativa do Indicador em relação ao dia anterior. Nos demais dias, mais agentes passaram a relatar preços maiores em relação ao dia anterior, fazendo com que os valores mínimos ficassem mais distantes da média. Ao ajustar a amostra pelo CV, as variações do Indicador foram expressivas.
Todo o processo de cálculo do Indicador é estatístico, sem a interferência de “sensibilidades” humanas. O uso de desvio-padrão e do CV é essencial para manter um processo alinhado com o padrão de preços do mercado. A amostra é composta por dezenas de agentes colaboradores, que chegam a relatar mais de uma centena de preços diariamente. A metodologia sempre esteve pública nas homepages do Cepea e da B3, com as quais são realizadas auditorias periódicas por parte da Bolsa.
Destaca-se, por fim, que a Equipe do Cepea, em conjunto com a B3, está sempre em busca contínua de melhorias. O Cepea e a B3 já apresentaram a agentes propostas de ajustes metodológicos, para os quais o Cepea simulou 10 meses e comparou os resultados com o modelo atual. Esse ajuste metodológico, que foi considerado satisfatório por agentes de mercado, levará à implementação de critério de elegibilidade de dados do agente colaborador, relativos à frequência diária de participação na amostra inicial, assim como critério de concentração de dados do agente colaborador, referentes à quantidade diária de dados na amostra inicial. O Cepea aguarda a tramitação junto à B3 e aos órgãos reguladores para sua efetiva implementação.
Fonte: CEPEA