O próximo semestre promete caracterizar mais um ano de El Niño, com adiantamento de chuvas e seca em algumas regiões, fatores que podem prejudicar culturas como o café, laranja, cana-de-açúcar por dificuldade na colheita. Em contrapartida, as safras de grãos 2014/2015 tendem a se beneficiar com o fenômeno. A soja, por exemplo, pode melhorar em produtividade no Brasil e atingir uma lacuna de outros mercados, como dos Estados Unidos, que sentem impactos negativos na oleaginosa em cenários de El Niño.
Na última terça-feira (15) a Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada às Nações Unidas, divulgou um boletim com expectativas claras sobre o fenômeno.
“As previsões indicam um modelo com grande potencial para El Niño, provavelmente, até o final do segundo trimestre de 2014”, diz o comunicado.
O meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Fabrício Silva, explica que o fenômeno caracteriza-se com o aquecimento das águas do Pacífico e pode ser constatado mediante cinco meses consecutivos de temperaturas maiores ou iguais a 0,5° Celsius acima da média da superfície do oceano.
“De modo geral, a gente espera mais chuvas na parte Centro-Sul do País, principalmente no Sul, não só do Brasil como de outros países, e uma redução nas chuvas do Nordeste e Norte. Em média, significa maior produtividade de grãos no Centro-Sul e muito déficit no Nordeste”, afirma Silva.
O último El Niño atingiu a safra de 2009/2010 de maneira moderada. Neste período, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam uma variação de 1,1% na safra de grãos a nível nacional. Porém, só a soja registrou um aumento de 4,7%, que se manteve no ano seguinte, com o crescimento de 2,9% em 2010/2011.
Este avanço pode aumentar a competitividade do produto nacional, uma vez que outros países também sentem os reflexos do El Niño. “Há uma forte tendência de perda quantitativa na produção de algumas culturas da Argentina. Outro país muito prejudicado são os Estados Unidos, que leva muita chuva no momento da colheita. Este pode ser um ano perigoso tanto para o milho quanto para a soja de lá”, avalia o agrometeorologista do Somar Meteorologia, Marco Antônio dos Santos.
Na pecuária, o meteorologista especializado em agricultura do Climatempo, Alexandre Nascimento, diz que o quadro climático torna-se favorável para as pastagens, principalmente nas regiões do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Prejuízos
“Quando temos um outono e inverno mais chuvoso as culturas mais prejudicadas são café, cana e laranja porque coincide com a época da colheita. Pode gerar paralisações e interferência na qualidade do produto, como a diminuição nos níveis de ATR [Açúcar Total Recuperável] da cana, por exemplo, principalmente na Região Sudeste”, explica o agrometeorologista do Somar.
No último El Niño a cana-de-açúcar foi uma das culturas mais afetadas, com variação de 0,40% na produtividade da safra 2009/2010 a nível nacional, segundo dados da Conab.
“As chuvas estiveram acima da média de setembro a novembro, nas principais regiões produtoras do Centro-Sul. No Nordeste, ocorreu o contrário. Desde a primeira quinzena de julho, o excesso de chuvas tem impedido que a colheita ocorra em ritmo acelerado em SP, MG, MS e PR, além de afetar diretamente a maturação. No Nordeste, a falta de chuvas prejudica a brotação e o crescimento”, diz relatório do período.
Os cereais de inverno como trigo, aveia, cevada e centeio também podem ser afetados pelo excesso de chuvas.
Fonte: DCI
