‘O homem urbano começa a reconhecer a importância do homem rural’, diz presidente da SNA em debate

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Mauro Lopes, do Ibre/FGV, Jorge Jacob Neto, da UFRRJ, Paulo Noronha, do Brasil Econômico, Antonio Alvarenga, da SNA, e Gesmar Rosa dos Santos em debate. Foto: Daniel Castelo Branco/Brasil Econômico

 

 

A fragilidade da política brasileira que envolve a agricultura, estudos mais avançados com energia limpa, mudanças climáticas, infraestrutura e logística foram alguns dos temas discutidos durante debate promovido pelo jornal Brasil Econômico, no dia 7 de abril, sob coordenação do editor do periódico, Paulo Henrique de Noronha. Foram convidados à mesa Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA); Gesmar Rosa dos Santos, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea); Jorge Jacob Neto, professor doutor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); e Mauro de Rezende Lopes, coordenador de projetos do Centro de Estudos Agrícolas do Instituto Brasileiro de Economia  da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

“A irrigação no Brasil Central está ocorrendo em larga escala, no entanto, há pequenos córregos que já estão desaparecendo. Foi burrice nossa, no passado, não ter preservado nossas matas ciliares, destruído nossas nascentes”, destacou Jacob, quando o assunto “clima e água” abriu o diálogo entre os debatedores.

“É preciso colocar preço na água, para evitar abusos. O que falta no Brasil é a conscientização quanto ao seu uso. E a irrigação (agrícola) é um problema de governança muito sério”, disse Rezende, criticando a falta de políticas governamentais para agir e/ou reagir nos momentos em que as mudanças climáticas têm sido cruciais e determinantes no plantio e na colheita das safras.

“Não fossem os atuais problemas, nós poderíamos produzir uma segunda safra em lugares onde não se produz, até ir para a terceira safra. No Centro-Oeste, o Mato Grosso, por exemplo, pode ter uma terceira safra”, informou.

Jacob se posicionou como um árduo defensor da tecnologia no campo, como forma de diminuir certos impactos negativos que continuam prejudicando as lavouras, como é o caso da seca prolongada que ainda atinge boa parte do Brasil.

“Há poucas pesquisas para preservar as nascentes dos rios. E querem responsabilizar os produtores rurais por todos esses problemas, quando, na verdade, não existe implantação de tecnologia, principalmente porque não há forte ajuda do governo”, ressaltou o professor da UFFRJ.

Segundo o técnico do Ipea, os produtos exportados são altamente dependentes da água, a exemplo do café, da cana-de-açúcar e da soja.

“Precisamos nos conscientizar da necessidade do uso mais adequado da água e da terra. Todos nós erramos (quanto ao desperdício) – os pequenos e os grandes produtores -, mas isto também ocorreu e ocorre nas indústrias, nas empresas, enfim, nas áreas urbanas”, ressaltou Santos.

ENERGIA POLUENTE X LIMPA

O presidente da SNA chamou a atenção para a necessidade de se considerar formas alternativas de energia com o intuito de preservar o meio ambiente.

“O etanol está sendo mais sacrificado. A vantagem (sobre a gasolina) desapareceu e a gasolina está com um preço surreal”, apontou Alvarenga.

“O governo incentivou o consumo de gasolina, cortando o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), ou seja, incentivou a compra de mais carros e o consumo de combustível poluente. E agora?”, questionou Alvarenga.

Apesar de tudo, ele acredita que o programa do etanol deve ganhar mais fôlego em 2015, após as eleições deste ano.

De acordo com Lopes, o preço do etanol e da gasolina susta o processo de desenvolvimento tecnológico.

“Quem vai produzir o etanol para vender a R$ 1 o litro? As empresas estão paradas”, afirmou.

O técnico do Ipea confirmou que os estudos sobre energia limpa não avançaram muito no País.

“Em termos de preços, não dá para o etanol competir. Entre 2005 e 2009, houve um aumento da produção de etanol, que se tornou uma opção para o consumidor. O biodiesel começou forte, mas com notícias erradas, até porque as pesquisas demoram muito tempo para serem concluídas”, avaliou Santos.

“O biodiesel é um pouco mais caro para o consumidor em relação ao preço do etanol. Por isso, há um desânimo neste setor.”

Para Alvarenga, existem problemas ambientais muito mais sérios, em outras partes do mundo, que não estão sendo discutidos pelos organismos de defesa do meio ambiente.

“A exploração do xisto nos Estados Unidos, por exemplo, é um problema ambiental muito maior e mais grave, e poucos têm tocado neste assunto.”

Encerrando este tópico do debate, Santos (do Ipea) anunciou que deve lançar um livro, até o final do ano, sob o título “40 anos de etanol no Brasil: enfrentar ou esconder a crise”, como forma de discutir o uso do combustível no País.

PESQUISAS

 

Antonio Alvarenga diz que governo deveria dar mais atenção à Embrapa. Foto:
Antonio Alvarenga diz que governo precisa dedicar mais recursos à Embrapa. Foto: Daniel Castelo Branco/Brasil Econômico

 

Na parte do debate sobre “pesquisa no campo”, Jacob foi enfático ao dizer que, no Brasil, existem pesquisas soltas.

“É dinheiro que se dá para qualquer coisa, sem propósito, sem objetivo. Por outro lado, é perigoso tolher a liberdade de qualquer pesquisador”, ponderou o professor da UFFRJ.

“Pesquisa é muito cara, mas dá resultado. E hoje, com certeza, o País tem muito mais tecnologia por causa das pesquisas”, garantiu Alvarenga.

O presidente da SNA também fez nova crítica ao destacar que o governo já deu muito dinheiro para a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e menos verba para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

“Para a Embrapa, a ajuda ainda está muito fraca. Ela está precisando de mais recursos para investir nas importantes pesquisas que vem desenvolvendo e que ainda pode desenvolver no futuro”, defendeu.

GOVERNO

Sobre a falta de governança do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), todos foram unânimes ao concordar que há assuntos sobre a agricultura espalhados por diversos órgãos do governo federal. “O agronegócio no Brasil é debatido em diversos ministérios, sem rumo. O Mapa é altamente fragilizado. Só na gestão da presidente Dilma já passaram quatro ministros pela pasta”, criticou Alvarenga.

“É uma fragilidade, uma governança solta em torno da agricultura. É preciso assumir o controle da política do País. A fragilidade é tamanha que a CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), praticamente, assumiu o ‘status de ministério’”, destacou o presidente da SNA.

“Esta falta de governabilidade na área da agricultura cria um clima de insegurança jurídica no campo”, completou Lopes, do Ibre/FGV.

Apesar das críticas à falta de governabilidade na Agricultura, Alvarenga elogiou a recente aprovação do Código Florestal, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

“A ministra (Izabella Teixeira) mediou entre ambientalistas e produtores, e apesar de algumas polêmicas conseguiu chega a um código de consenso. No entanto, sua implantação vai demandar tempo, porque é bem complexo. A partir daí, teremos um Brasil e meio”, brincou Alvarenga.

“O quadro técnico do Mapa foi lipoaspirado. O MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário), por exemplo, conta com um grupo pensante dez vezes maior que o do Mapa”, apontou Lopes.

“Além disso, o Brasil tem mania minimalista, cria factóide orçamentário, faz um estardalhaço para dizer que vai investir no campo quando, na verdade, até agora, apenas o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) parece ter condições de ir para frente”, ressaltou o coordenador do Ibre/FGV.

O AGRONEGÓCIO

“O agronegócio está avançando muito, apesar das dificuldades. Nós seguramos o PIB (Produto Interno Bruto) do País, seguramos a economia. O Brasil tem lugar de destaque como fornecedor mundial de alimentos, mas precisamos agregar mais valor aos nossos produtos. Poderíamos exportar mais farelo, milho, carne, por exemplo”, salientou Alvarenga.

“O homem urbano já começa a reconhecer a importância do homem rural. O produtor é um herói, que está carregando a economia brasileira nas costas.”

Quanto ao problema da falta de infraestrutura e logística eficiente para o escoamento das safras, o presidente da SNA foi direto: “É uma vergonha. A margem de lucro do produtor de soja, por exemplo, é pequena, porque ele perde muito no transporte”.

Para o professor da UFFRJ, um dos maiores problemas é que o governo federal não investiu em ferrovias.

“O agronegócio, se tivesse planejamento, não deixaria dívidas como as que a Copa do Mundo vai deixar”, criticou Jacob, durante encerramento do debate promovido pelo jornal Brasil Econômico.

 

Por equipe SNA/RJ 

 

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