NDVI e soja: desmistificando o índice

O NDVI (Índice de Vegetação da Diferença Normalizada) constitui-se atualmente no índice de vegetação mais popular e de maior utilização no processamento digital de imagens dentro da chamada agricultura de precisão.Foto: Embrapa Soja

SNA dá continuidade à parceria com a Embrapa Soja e seus pesquisadores na divulgação de  trabalhos em andamento, ou já concluídos, de cunho acadêmico, informações com profundidade técnica  para estudantes, professores e interessados em se aperfeiçoar no agronegócio. Verifique a seguir…

Tomadas de decisões cada vez mais rápidas e assertivas são hoje fundamentais para o sucesso da atividade agrícola. Diante disso, a busca por informações através do sensoriamento remoto tem atraído os principais gestores da cadeia produtiva da soja, e o uso de índices de vegetação tem ocorrido de forma ampla e popular. Para esse sensoriamento, o NDVI (Índice de Vegetação da Diferença Normalizada) constitui-se atualmente no índice de vegetação mais popular e de maior utilização no processamento digital de imagens dentro da chamada agricultura de precisão.

Um veterano

Mas você sabia que o NDVI já tem mais de 50 anos? Isso mesmo! Proposto inicialmente em 1973, o NDVI tinha por objetivo monitorar a fenologia da vegetação nativa por meio das imagens do recém lançado satélite Landsat-1. Anos depois, o NDVI passou a ser associado às condições de desenvolvimento de lavouras agrícolas, incluindo a soja.

Já no século 21, o NDVI passou a ser ainda mais utilizado sob a ótica da chamada agricultura de precisão, sendo reconhecido como importante aliado na detecção e mapeamento da variabilidade espacial em áreas produtoras por meio de sensores de campo e, sobretudo, de imagens de satélite. Nos últimos anos, com a popularização de drones ou VANTs (veículos aéreos não tripulados), o NDVI experienciou uma nova etapa de sua utilização, com ampla difusão em diferentes setores do agronegócio.

Hoje, anos após sua formulação, o NDVI permanece como um dos mais importantes indicadores da variabilidade espacial em culturas agrícolas Porém, as interpretações do NDVI sãomuitas vezes enviesadas em relação às reais informações extraídas das lavouras de soja, uma vez que seus valores são diretamente dependentes da cobertura do solo e não necessariamente das condições às quais as plantas estão submetidas.

Diante da necessidade de disciplinar o uso do NDVI para o monitoramento agrícola, contribuindo para que o índice não caia em descrença pelos setores ligados à cadeia produtiva da soja, a Embrapa Soja coloca à disposição da sociedade brasileira a publicação intitulada 50 anos do NDVI: desmistificando o índice e ponderando sua utilização para o monitoramento da soja na era digital.

Essa publicação demonstra que as variações nos valores de NDVI da soja coletados em nível de dossel ocorrem, de forma majoritária, em função do percentual de cobertura do solo, biomassa e área foliar, e com magnitude diminuta em função de estresses fisiológicos, bióticos ou abióticos.

Mas, afinal, o que é o NDVI?

O NDVI é um índice obtido por uma simples equação de diferença normalizada, composta pelos valores de reflectância das bandas vermelho e infravermelho-próximo (NIR): NDVI = (NIR – Vermelho) / (NIR + Vermelho). Essa equação, a mais difundida para cálculo de índices de vegetação, foi concebida considerando o comportamento espectral da vegetação, com baixa reflectância na banda do vermelho e elevada reflectância na banda infravermelho-próximo, o que resulta em um valor matemático entre -1 e 1, onde áreas vegetadas apresentam valores substancialmente maiores que o solo exposto ou palhada em áreas agrícolas.

E quais são as limitações no uso do NDVI para monitoramento de estresses na soja? A Embrapa Soja reuniu dados de NDVI mensurados em experimentos conduzidos na Embrapa Soja, na Universidade Estadual de Maringá e em áreas de parceiros, entre as safras 2010/2011 e 2023/2024 utilizando sensores a bordo de VANTs, que contemplam a influência do solo exposto, da palhada e das sombras.

Além disso, também foram empregados sensores no nível de superfície a campo, os quais medem somente a folha da soja, livre da influência do solo exposto e/ou palhada. Sob diferentes fontes de estresses bióticos e abióticos em plantas de soja, como deficiência hídrica e nutricional, ocorrência de doença e presença de inseto, o NDVI foliar da soja (aquele livre da influência do solo exposto e/ou palhada) apresentou mínima variação, enquanto que o NDVI medido no nível do dossel (o que compreende a influência do solo exposto, da palhada e das sombras) apresentou ampla variabilidade.

Assim, a publicação da Embrapa Soja que marca o 50 anos do NDVI pondera, com base na contextualização histórica da formulação do índice, que o NDVI foi proposto como indicador quantitativo da cobertura vegetal do solo e da biomassa ali presente; e foi assim utilizado nos anos seguintes, servindo como poderosa ferramenta de monitoramento da dinâmica da vegetação e subsidiando inferências quanto à fenologia e até mesmo, ainda que de forma indireta, sobre as condições de desenvolvimento da vegetação.

indicador qualitativo e quantitativo

Entretanto, mais recentemente, o NDVI passou a ser muito utilizado como indicador qualitativo e quantitativo de parâmetros agronômicos, como por exemplo a produtividade, e até mesmo para o diagnóstico agronômico em áreas monitoradas. Contudo, desde a proposição do NDVI até os dias atuais, fica evidenciado que a relação entre NDVI e parâmetros agronômicos se dá pela relação direta entre NDVI e biomassa, e pela relação indireta entre a biomassa e tais parâmetros.

Espera-se, assim, que a publicação disponibilizada contribua para disciplinar o uso do NDVI para o monitoramento agrícola, para que o índice não caia em descrença pelos setores ligados à cadeia produtiva da soja. Assim, contribuir para fornecer à agricultura brasileira uma ferramenta digital eficiente para o monitoramento da cobertura do solo nos diferentes sistemas de produção de soja. Disciplinar o uso do NDVI permite, ainda, expandir o horizonte da pesquisa agrícola para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novas ferramentas e técnicas espectrais que possam conferir maior assertividade à estimativa de variáveis de interesse agronômico e ao diagnóstico em campo.

Para obter mais informações sobre este assunto, acesse gratuitamente o texto completo da publicação citada AQUI 

De: Luís Guilherme Teixeira Crusiol, Rubson Natal Ribeiro Sibaldelli e José Renato Bouças Farias
Edição de texto e imagem: Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp