Mulheres na Agricultura: um panorama no Mês das Mães

Traços distintivos da maternidade no campo. Foto/Pixabay/StockSnap

Ao longo de várias reportagens, o Portal SNA destacou que a maior inserção das mulheres no mercado de trabalho rural esteve entre as mais benéficas consequências da revolução agrícola que o Brasil protagonizou em décadas recentes. O aperfeiçoamento da tecnologia permitiu a realização de atividades sem a força bruta exigida pelos antigos maquinários, encurtou a distância até compradores e instituições de crédito, além das cooperativas, que dão o respaldo técnico, financeiro e logístico para que as agricultoras possam escoar sua produção e ter o apoio necessário, muitas vezes em pequenas propriedades familiares.

Nesse contexto, ser mãe e seguir nas atividades típicas da rotina agrícola ainda é um desafio enorme, que pode gerar sobrecarga devido às peculiaridades da vida no campo. Nas grandes cidades, há toda uma rede de apoio com creches e escolas em tempo integral, além das comodidades urbanas. Já nas pequenas comunidades, onde vivem tantas “mães do agro”, as tarefas tendem e se sobrepor e acumular, por mais que família e amigos ajudem. O local de trabalho, com frequência, é também a moradia, que traz demandas em tamanho igual ou até maior que as obrigações da lavoura.

Para se ter uma ideia, apenas a partir de 1994 as agricultoras que comprovassem atividade laboral passaram a ter direito à licença maternidade remunerada, benefício concedido às trabalhadoras urbanas no Brasil desde 1943. A pandemia evidenciou particularmente esse desgaste, quando as mulheres precisaram tratar da comercialização dos produtos da família e compreender os mecanismos de venda digital, além de manter os filhos em casa, exercendo o papel de professoras nas aulas, que passaram a ser on-line.

Muitas mães, inclusive, tiveram que aprender o que não sabiam para auxiliar os filhos nos estudos remotos, embora a escolaridade delas venha aumentando, segundo dados demográficos. Outra dificuldade é que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não permite que pais agricultores levem seus filhos para o trabalho, nem mesmo a feiras, pois a atitude pode levar ao entendimento de trabalho infantil, o que é vedado por lei. Desse modo, se a vida das mães que trabalham já é difícil, a das agricultoras exige um equilíbrio ainda mais delicado de se atingir.

Mudanças de paradigmas, valores e tecnologia: um salto de qualidade

Apesar desses desafios, algumas mudanças no perfil das gerações mais jovens trazem alívio às matriarcas. Tornou-se comum que os filhos busquem aprimoramento técnico e acadêmico nos grandes polos de estudo, para então voltar para casa e aplicar esse conhecimento no trabalho da família. É a inversão do que ocorria em outras épocas, quando os pais se sacrificavam para que seus descendentes pudessem viver longe das lavouras. Com essa nova dinâmica, as pequenas propriedades seguem ativas e aprimorando sua produtividade, permitindo às agricultoras mais jovens uma plenitude de realizações pessoais e profissionais que suas mães e avós não tiveram.

Mesmo quando os filhos ainda são pequenos, os novos tempos fizeram chegar também ao campo novos costumes. Os maridos compreenderam a importância de dividir as tarefas tanto em casa quanto na lavoura, e a evolução dos itens de uso doméstico permitiu maior agilidade e menos trabalho braçal nos cuidados com o lar. Por fim, mas não menos importante, a chegada das plataformas digitais democratizou o acesso a ferramentas seguras e eficazes de realizar praticamente tudo, desde o controle de produção, mesmo em locais modestos, até transações bancárias e aquisição de insumos e maquinário. As distâncias, que antes isolavam, hoje são vencidas por poucos cliques e permitem às mães independência e praticidade em suas rotinas.

Neste Mês das Mães, é essencial honrar e celebrar o legado das mulheres na agricultura. São elas que, com amor, dedicação e sabedoria, garantem não apenas a subsistência de suas famílias, mas também a preservação de um modo de vida ancestral que é parte integrante da identidade cultural do Brasil. Que seu trabalho e contribuição sejam reconhecidos e valorizados continuamente.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb 13.9290)

 

 

 

 

 

 

 

 

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