A rotação de culturas, prática muito antiga na agricultura, é muito pouco utilizada no Brasil. “Talvez esteja, aqui, um grande espaço para a melhoria do processo de produção”, ressalta o pesquisador Fernando Mendes Lamas, da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados (MS). De acordo com ele, hoje predomina, especialmente no Cerrado, o cultivo de soja no verão e milho safrinha ou algodão safrinha.
“No entanto, estas monoculturas estão dando sinais claros de fadiga. Talvez, o maior problema destas monoculturas seja a degradação dos atributos físicos, químicos e biológicos da terra, o que está limitando o potencial produtivo dos solos”, ressalta.
Conforme o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em algumas regiões do Brasil – como Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, dentre outras unidades da federação –, os produtores rurais utilizam adequadamente a rotação de culturas.
“Neste assunto, temos muito a melhorar, o que irá contribuir para a eficiência dos processos, uma grande necessidade atual.”
O pesquisador sugere que, para se ter um bom sistema de produção, é fundamental o estabelecimento de um plantio de rotação de culturas, cujas espécies envolvidas vão depender da região, como, por exemplo: no Oeste da Bahia, poderiam ser plantadas soja mais braquiária e milho mais crotalária; no Mato Grosso, soja mais milho, soja mais milho mais braquiária, além de soja mais algodão; no Mato Grosso do Sul, a rotação de culturas poderia ser de feijão mais milho, soja mais algodão e feijão mais milho mais braquiária.
“A adubação também deve ser feita como base nas demandas, em especial na extração, de cada uma das espécies envolvidas componentes do sistema de produção. O manejo de plantas daninhas, de pragas e doenças também deve considerar as espécies envolvidas.”
Diversos agricultores, de acordo com o especialista, “já utilizam adequadamente a rotação de culturas com resultados espetaculares”, a exemplo do milho mais braquiária (no verão); algodão (no verão seguinte); soja mais milho mais braquiária (crotalária); da utilização de cultivares transgênicas como estratégias de manejo de plantas daninhas e de insetos pragas; da utilização de sistemas integrados de produção; entre outros.
Quando questionado sobre a diferença, nos dias de hoje, de trabalhar com produto e trabalhar com sistemas, Lamas afirma que, na primeira situação, muitos aspectos acabam sendo desconsiderados. “Já em sistema consideram-se todas as espécies envolvidas nele, cujo número, exigências e ciclo são diferentes e, na maioria dos casos, exigem estratégias de manejo diferenciadas”, salienta o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.
MODERNIZAÇÃO DO CAMPO
Na visão de Lamas, nos últimos anos, as máquinas e implementos agrícolas foram os itens envolvidos na produção que mais se modernizaram, em todos os aspectos. “Na busca por aumentar o rendimento operacional, os produtos estão demandando cada vez máquinas e implementos maiores. E a prática de adubação talvez tenha sido a que maior modificação introduziu, tornando muito frequente o uso da adubação a lanço, que nem sempre é recomendada”, ressalta. “Este processo, utilizando especialmente o fósforo, somente é recomendado para condições bem específicas e não de forma generalizada como estamos vendo.”
Os modos de aplicação dos fertilizantes fosfatados estão relacionados à aplicação a lanço, pela qual o fósforo é adicionado à superfície do solo, sem reações (inertes) e de forma concentrada nos primeiros centímetros do solo. Esta prática, em solos com baixa concentração deste nutriente, torna o fósforo limitante, principalmente por causa da má distribuição na terra, o que pode comprometer o rendimento da soja, por exemplo, se houver falta de umidade.
Falta conhecimento para transformar informações em inovações
As informações sobre as modernas tecnologias têm chegado aos mais variados segmentos de produtores rurais no País, na opinião do pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste Fernando Mendes Lamas. “Muitas vezes, o que falta é o conhecimento para transformar as informações em inovações, que vão contribuir para aumentar as produtividades, a eficiência e/ou reduzir custos de produção, e para assegurar a sustentabilidade da agricultura, independentemente da grandeza da unidade de produção”, ressalta o especialista.
Ainda relacionando a importância da informação e da inovação, Lamas explica que a eficiência da adubação pode ser significativamente melhorada se for melhorada a estrutura do solo, por meio de práticas mecânicas e culturais. “O uso de práticas mecânicas, se adequadamente empregadas, elimina obstáculos ao crescimento das raízes e à infiltração de água; o manejo de plantas de cobertura (braquiária, milho, capim Sudão, crotalárias, entre outras) melhora a parte física, química e biológica do solo e, consequentemente, a eficiência da adubação. Com isto serão necessários menos quilos de fertilizantes para se produzir uma mesma quantidade de grãos ou de fibras.”
Nesta troca e/ou inclusão de informações e inovações no campo, Lamas destaca que o acesso ao crédito é um fator que pode contribuir, se bem aplicado, para a melhoria da produtividade e da eficiência. Com mais dinheiro, um contingente significativo de agricultores brasileiros poderia investir, por exemplo, na adoção do Sistema Plantio Direto (SPD), “embora ainda haja muito a melhorar na forma de adoção do sistema plantio direto por técnicos e produtores rurais”.
Por equipe SNA/RJ