A estiagem que castiga o campo queimou boa parte das lavouras de café, principal commodity do agronegócio mineiro, e o preço do grão pago ao produtor praticamente dobrou. A saca de 60 quilos, que custava R$ 220 há dois meses, agora é vendida em torno de R$ 425 – diferença de 93%. Nem toda a colheita, porém, será vendida por essa cifra, pois muitos cafeicultores, como é de praxe no campo, já negociaram boa parte da produção pelo valor antigo para honrar compromissos financeiros, seja com adubos ou com a mão de obra.
Até 7 de fevereiro, segundo pesquisa da Safras & Mercado, empresa de consultoria em agronegócio, 71% da safra estadual 2013/2014 já havia sido negociada. “Negociei cerca de 70% da safra antes da colheita”, conta Carlos Alexandre Miranda Botrel, produtor em Três Pontas, no Sul de Minas. Há outro problema: boa parte dos fazendeiros perdeu um percentual grande da lavoura em razão da estiagem. Ralph Junqueira, cafeicultor em Carmo de Minas, também no Sul do estado, planejava colher 2,5 mil sacas este ano, mas deve retirar da lavoura em torno de 1,5 mil sacas.
“Apesar da alta do preço, essa diferença (93%) não compensou a perda que tivemos com a lavoura”, disse o produtor. O atual preço, apesar do expressivo aumento em relação ao negociado no início deste ano, ainda está abaixo do apurado em 2011, quando a saca chegou a valer R$ 550. “E é bom lembrar que, de lá para cá, houve inflação”, lamentou Ralph. Apenas para recordar, a inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ficou em 6,5% em 2011, em 5,84% em 2012 e, em 2013, 5,91%.
Já a possibilidade de o preço da saca continuar subindo dependerá de São Pedro, como explica Breno Mesquita, presidente das comissões de café da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg).
“É muito difícil prever se o preço continuará subindo, pois vai depender de São Pedro. A maioria dos produtores teve de vender o produto (pelo preço antigo) para acertar compromissos. Esses não se beneficiaram do aumento. Ainda é prematuro mensurar o percentual de perda, porque o período de seca não terminou. Há uma perda, mas qual será só saberemos quando terminar a colheita. O que temos recebido de informações de cafeicultores da Zona da Mata mineira, do Sul do estado e do Triângulo Mineiro é preocupante.”, diz Mesquita.
Grãos chocos
Mas o percentual de perda pode ser alto. Para se ter ideia, estudo da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais) em cafezais no estado revelou problemas de qualidade com até 45% de grãos chochos em algumas propriedades do Sul de Minas. Tal índice foi apurado numa fazenda em Três Pontas, uma das cidades que mais produz o grão no país. Carlos Alexandre, o produtor que vendeu 70% da safra antes da colheita, estima que sua perda está em torno de 30%.
“De três anos para cá, as lavouras foram prejudicadas pela seca. O jeito é esperar e quando vier a chuva tentar adubar e garantir outros tratos para a planta”, avaliou Carlos. O estudo da Epamig concluiu que houve perdas em outras propriedades de outros municípios do Sul de Minas. Em Machado, o percentual chegou a 25%. Em São Sebastião do Paraíso, 20%. Em Lavras, 12%. Ralph Junqueira, o produtor de Carmo de Minas, sente uma dor no coração ao observar que os grãos não desenvolveram como planejado em parte de sua plantação: “O crescimento da lavoura está pequeno. O fruto no pé não está crescendo como deveria. Está chocho.”
A Epamig também fez o balanço em Patrocínio, no Alto Paranaíba, onde o percentual de grãos chochos chegou a 7,7%. É naquele município que fica a propriedade de Ricardo Bartholo: “Quem não tem irrigação fica nas mãos de São Pedro. Eu estimava colher 5 mil sacas neste ano, mas devo colher em torno de quatro mil sacas”.
Fonte: Estado de Minas