Circuito Tecnológico do Agronegócio: startups criam movimento para levar mais tecnologia ao campo

 

Startups criam movimento para levar cada vez mais tecnologia para o campo
Startups criam movimento para levar cada vez mais tecnologia para o campo

 

O Brasil é um dos principais fornecedores de produtos agropecuários para o mundo e, apesar do seu potencial, o setor ainda carece de tecnologia se comparado ao seu crescimento e a outros países. Um grupo de empreendedores enxergou essa carência e um mercado em potencial a ser investido. Com a inovação sendo fomentada e o boom de startups brasileiras, o agronegócio começa a receber novos empreendimentos voltados para seu desenvolvimento. Dessa visão nasceram as startups E.Gado, Bov Control, Safe Trace, Agroinova e BBroker-o$alim, voltadas para soluções na pecuária, piscicultura e gestão de agronegócios. E a tendência ganhou ares de movimento, que começa a ser chamado pelo grupo de empreendedores de Circuito Tecnológico do Agronegócio.

“A ideia é unir as forças das startups para levar mais inovação ao campo. Queremos mostrar aos players do agronegócio que podemos tornar a atividade mais competitiva, mais rentável e com soluções customizadas, pensando sempre que estamos lidando com um setor bastante tradicional no que se trata de tecnologia”, explica Gabriel Rissoni, sócio da E.Gado e um dos adeptos do movimento.

A empresa de leilões online fundada por Gabriel e seu sócio Pedro Mana iniciou suas atividades oficialmente no início de 2014 mas há dois anos estuda o mercado. A ideia surgiu após a dificuldade dos empreendedores de vender uma vaca que compraram como investimento pela internet, identificando que não havia leilões online nesse ramo. Levando à frente, eles anunciaram um leilão em uma página do Facebook e tiveram uma grande procura e curiosidade por parte de produtores e leiloeiros.

“Quando arriscamos com uma proposta mais pretensiosa, vimos que ali tinha um negócio. Depois de entender todo seu funcionamento, começamos a desenvolver uma ferramenta de negociação que possibilitava virtualizar todo o processo de leilão tradicional para uma sistema online, do mesmo modo que é feito tradicionalmente”, conta Gabriel.

Apesar de incipiente, a empresa já projeta evoluções e pretende virtualizar totalmente o leilão, com sistema de filmagem e transmissão que promete diminuir o custo do leiloeiro de 5% a 1% do gasto atualmente.

“O leilão hoje é um evento social, mas demanda uma logística e um operacional muito custoso. Utilizando a internet, haverá uma maior divulgação e visibilidade, logo mais adesão e compradores a um custo muito baixo.”

Cientes da resistência que pode existir, os sócios da E.Gado defendem a preservação das tradições para uma melhor aceitação da tecnologia. “É possível agregar tecnologia na tradição, quebrar barreiras e manter costumes. Queremos flexibilizar esse pensamento e mostrar que a internet é uma ferramenta muito agregadora, barata e trará muitas possibilidades.”

Voltada também para a pecuária, a Bov Control foi destaque em 2013 e ficou entre as cinco principais startups do IBM Smart Camp, além de ter sido selecionada pelo Microsoft BizSpark. Criada por Danilo Leão e Alecsey Fernandes, a empresa desenvolveu um sistema de monitoramento de gado que, acessado por um aplicativo multiplataforma, coleta todas as informações do rebanho, como peso, produção de leite, vacinação e localização. Apesar de a empresa ter sido inaugurada em 2010, seu destaque no mercado brasileiro só aconteceu depois da popularização dos smartphones no país. Mais de 1,3 mil fazendeiros já fizeram o download, sendo que 30% dos usuários são estrangeiros.

 

O sócio da Agroinova Dalton
O sócio da Agroinova Dalton Sales: sistema torna negócio mais ágil e produtivo

 

Além da tecnologia, as startups querem levar noções de gestão e gerenciamento para o campo. O sistema criado pela Agroinova fornece consultoria para controle da produção e da informação focado na piscicultura. Fundada em 2012 por Adriano Romero e por Dalton Skajko Sales, está instalada na Incubadora de Empresas do Agronegócio no campus da USP em Pirassununga (SP). A primeira percepção da carência no setor aconteceu no levantamento de dados e gestão da alimentação de tilápias em tanques, antes feito no clássico papel e caneta. A partir daí, eles desenvolveram uma ferramenta manuseada por smartphone que possibilita gerenciar a quantidade de ração distribuída pelos funcionários, além de medir a temperatura e a acidez da água.

“É difícil encontrar hoje uma empresa que não tenha uma gestão da informação bem estruturada. O agronegócio só tem a ganhar com um sistema que auxilie na melhoria dos indicadores, no controle do trabalho com informações bem organizadas. Dessa forma o produtor consegue mapear os problemas e aplicar melhorias com mais agilidade, tornando o negócio mais rentável e produtivo”, explica Sales.

Apesar da resistência natural encontrada pelos empreendedores no agronegócio, a Agroinova possui 45 clientes e caminha para consolidar seu produto no mercado.

“O Brasil hoje abastece o mundo com alimentos, a custo competitivo e agregando tecnologia, por isso o agronegócio brasileiro é cada vez mais fundamental para a economia. Com a tecnologia que nós e outros estão criando, é claro que a próxima grande revolução no setor passará pela tecnologia de ponta e da informação”, revela Dalton.

A plataforma BBroker-o$alim segue o mesmo intuito de gestão, mas voltada para a comercialização agrícola de sementes e commodities. Para seu idealizador, Antonio Carlos Lacerda, a chegada da internet deu a oportunidade de empreendedores como ele levarem lucro para produtores, revendedoras e sementeiros com suas inovações.

“As empresas estão sobrecarregadas de informação e usar intermediários ou plataformas não especializadas desestrutura a comunicação, os dados. Nós queremos criar conexão digital no meio rural para efetivar os negócios, além da gestão e comercialização da porteira para fora”, explica.

O software desenvolvido, que coleciona o prêmio de vencedor da Batalha de Startups, do Fórum de Tecnologia e Inovação, ocorrido em Curitiba em dezembro passado, é customizado para a necessidade de cada cliente e está em fase de consolidação no mercado. Mais que uma tendência, segundo Lacerda, a tecnologia no meio rural já é uma realidade, e o crescimento da inovação no agronegócio é a aposta da vez. “As propriedades rurais não são mais vistas como fazendas, sítios, são empresas que, por sinal, são responsáveis por 22% do PIB brasileiro. O que falta são ideias e elas estão surgindo. A inovação precisa de um campo fértil para se proliferar.”

Pioneirismo incentiva novos negócios 

Já mais madura, a Safe Trace foi fundada em 2005 pelos engenheiros Vasco Picchi e Francisco Biasoto. Envolvido com o negócio pecuário pela consultoria em frigoríficos exercida pelo seu pai, Vasco questionou se seria possível fazer um recall de carnes usando um sistema de monitoramento e a negativa despertou sua curiosidade. Na universidade, ele encontrou o sócio que daria o suporte técnico para criar a tecnologia e foram apoiados pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de Itajubá (Incit). Em passos lentos, eles não viram abertura no mercado até o foco de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, onde o negócio tomou forma e a demanda foi providencial.

Com algumas reformulações, o modelo criado pelos jovens recebeu investimentos do fundo Fir Capital. Hoje, sua tecnologia abrange desde o início da produção até a gôndola do supermercado, rastreando alimentos de forma geral e garantindo sua procedência tanto em requisitos de sustentabilidade como de saúde pública. Em nove anos, a empresa conta com investidores, 15 funcionários, uma equipe terceirizada com mais de 100 pessoas em campo e um faturamento de R$ 85milhões.

“Hoje nós estamos presentes em cinco frigoríficos, oito fazendas e conquistamos uma grande rede de supermercados como cliente, alavancando ainda mais o negócio. Também desenvolvemos outra técnica para dar foco ao rastreamento do café, com tecnologia de etiquetas eletrônicas aplicadas às sacas ainda na propriedade rural e que pode ser acompanhado a qualquer momento pelos produtores”, explica Rodrigo Argüeso, presidente da companhia.

 

Por Equipe SNA/RJ 

 

 

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