Uma alternativa de negócio está ajudando fruticultores a agregarem valor à produção e evitarem o desperdício. A técnica de desidratação de frutas tem permitido a eles vender o produto por um valor maior, evitar o desperdício causado por más condições de transporte e logística e não jogar fora o excedente da colheita. O quilo da fruta desidratada chega a ser vendido por preço 90 vezes superior ao da fruta in natura.
Embora a versão desidratada perca cerca de 70% do peso, em função da retirada da água, na avaliação dos produtores rurais a atividade compensa. Agricultores de várias partes do país têm recebido consultoria e capacitação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Na cidade de Ipiranga, no Piauí, a 260 quilômetros da capital, Teresina, a desidratação de frutas diversificou o portfólio de produtos da empresa familiar Lili Doces. Henrique José de Sá Lopes, um dos proprietários ao lado do irmão, conta que a fábrica sempre plantou as frutas utilizadas no preparo dos doces e existe há 18 anos.
Há três anos, a empresa começou a fazer o processo de desidratação, primeiro usando o calor do sol. Como a técnica não é considerada a mais adequada, posteriormente foram adquiridas quatro máquinas de desidratação e construída uma área especial para o processo. De acordo com Henrique Lopes, o investimento foi de R$ 30 mil a R$ 40 mil, valor coberto em um ano e meio.
A ideia de entrar no mercado das frutas desidratadas partiu do empresário Leonardo Chiappetta, com lojas no Mercado Municipal de São Paulo e no Shopping Eldorado. Henrique contatou o empresário que há muitos anos comercializa produtos desidratados, em uma feira de negócios. “Eu tinha muitas frutas que ele não tinha em São Paulo, como caju, buriti, abacaxi, goiaba, bacuri. O Sebrae trouxe ele e um pessoal de São Paulo que já fazia frutas desidratadas e passaram duas semanas fazendo curso conosco”.
Henrique Lopes destacou que atualmente Leonardo Chiappetta é seu principal cliente. O empresário conta que, enquanto o quilo da melancia in natura é vendido a R$ 0,40 no comércio, o da versão desidratada chega a R$ 33, valor 82,5 vezes superior. No caso do caju, é possível vender a fruta in natura por R$ 0,20 o quilo e a desidratada por R$ 18, ou seja, 90 vezes mais.
No povoado Vila Retiro, situado a 30 quilômetros de Ilhéus (BA), a adoção do processo de desidratação de frutas está beneficiando 28 famílias. Segundo Ailton Jesus Bevenuto, vice-presidente da Associação de Moradores e Produtores do Retiro, os moradores da região costumavam plantar cacau, mas tiveram que abandonar a produção em razão da vassoura de bruxa, praga que ataca as lavouras.
Ailton explica que a população começou a plantar frutas, mas o desperdício era grande. “A gente desperdiçava muita fruta, principalmente a banana, que é o carro-chefe. A estrada é ruim, então até chegar em Ilhéus perdia bastante coisa”, ressaltou.
Há quatro anos, os agricultores começaram a aderir à desidratação. Ailton Bevenuto disse que, inicialmente, o processo utilizado era a desidratação solar. Hoje, já é usado um desidratador a gás doado pela Caixa Econômica Federal. A construção do imóvel onde o processo ocorre foi financiada por uma empresa, a Bahia Mineração. Os agricultores também tiveram acesso a cursos do Sebrae.
O projeto foi batizado de Doce Retiro e desidrata e comercializa frutas como côco, cupuaçu, goiaba e abacaxi. “A gente vende em Ilhéus e estamos buscando mercados. Nossa unidade ainda é pequena, então não temos condições de absorver tudo. O nosso pensamento, para o futuro, é abranger toda a produção em alimentação desidratada”, frisou o vice-presidente da associação de moradores.
De acordo com Ênio Queijada, gerente de Agronegócio do Sebrae, além de Bahia e Piauí, há produtores que aprenderam a técnica, com a ajuda da instituição, em Pernambuco e Minas Gerais. Segundo ele, o mercado para as frutas desidratadas ainda é restrito às classes A e B, mas está em crescimento. “Existe a saúde, a conveniência de poder carregar facilmente. Hoje, os próprios supermercados desenvolvem [linhas de produtos desidratados]”, diz.
O gerente de Agronegócio destaca que a fruta separada para a desidratação não é de má qualidade. “Existia um certo preconceito de que ela era desidratada para não ser perdida. Mas é a fruta de boa qualidade que corria o risco de se deteriorar pelo choque físico do caminhão, demora, logística”, explica. Ênio Queijada ressalta que muitos agricultores interessados na técnica se organizam em associações e cooperativas para ter condições de arcar com os investimentos necessários.
Além da aquisição de máquinas e construção de espaço físico, o processo de desidratação acarreta em gastos com energia elétrica. Quanto maior o teor de água da fruta, mais o processo demorará e maiores serão os custos.
Fonte: Agência Brasil