O corte 0,50% na Selic, aprovado na semana passada pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central, deve ser repassado na mesma proporção aos financiamentos com juros livres do crédito rural de curto prazo, que podem ficar mais baratos, disseram executivos do Santander e Bradesco. No caso das operações de investimentos, com vencimento superior a um ano, não deve haver alteração no momento, já que a projeção do mercado é de alta em um período mais longo.
O Diretor de Agronegócios do Santander, Carlos Aguiar, disse que os juros livres pré-fixados para operações com vencimento de um ano, como as de custeio, estão em torno de 14% ao ano. Essas alíquotas poderão ser reduzidas em 0,50%. A curva de juros projetada pelo mercado para agosto de 2024 caiu de 11% para 10,50%, novo alvo para quem aposta nas taxas pós-fixadas, que também são opção para o produtor rural.
“Para quem toma financiamentos pré-fixados, melhorou o preço. No pós-fixado, dificilmente vai haver um corte mais rápido do que o projetado, mas ele toma esse risco de a taxa chegar ou não a 10,50% no ano que vem”, disse.
“Há mudança no humor do mercado e dos produtores com o corte na Selic, porque acham que vai ficar mais barato. O repasse para as operações é praticamente imediato, o mercado se ajusta na hora”, acrescentou.
Ele afirmou que o corte de 0,50% surpreendeu o mercado, que esperava redução de 0,25%, acelerando a precificação na curva de juros de curto prazo. O movimento do BC, no entanto, deixa o cenário de longo prazo mais incerto.
“Para as operações de investimentos rurais não muda nada, porque a curva de juros volta a precificar mais alto”, indicou. O comportamento do mercado monitora possíveis “surpresas no caminho” na política monetária, como repique de inflação.
O Banco do Brasil, que lidera as operações para o agronegócio, disse que a dinâmica negocial das operações com juros livres incorpora reflexos da taxa básica de juros na composição do seu custo. “Assim, o ajuste ocorrido [na taxa Selic] tem influência, sim, nos seus preços e provocará uma redução no juro pago pelo mutuário”, informou em resposta à reportagem. A instituição destacou que o ajuste depende da taxa pactuada com cada cliente, considerando o perfil do tomador.
Roberto França, Diretor de Agronegócios do Bradesco, que lidera os desembolsos de crédito rural entre os bancos privados, disse que a queda da Selic já estava precificada nas operações mais recentes. “A expectativa de queda já fez com que colocássemos uma precificação mais eficiente, mas a redução em si traz benefícios. As próximas operações já terão o benefício da Selic mais baixa”, disse.
Segundo ele, as operações de curto prazo com juros livres já estão abaixo de 14% ao ano no banco, e a previsão de momento é chegar próximo de 12,50% em 12 meses, perto do que é oferecido a juros controlados do Plano Safra. “Os bancos já começam a pensar e a fazer operações com recursos livres no patamar do recurso obrigatório para grandes produtores, na faixa de 12% ao ano”, disse.
A redução da Selic, por outro lado, não interfere nas operações com juros controlados, com subvenção ou não. Nesses casos, as alíquotas já estão definidas e seguirão em vigor até junho de 2024. Já o custo do Tesouro Nacional para pagar a equalização pode cair e fazer o orçamento da subvenção render mais, se a taxa média projetada para o Plano Safra tiver sido maior que a vigente. Se isso ocorrer, pode haver mais espaço orçamentário para subvencionar mais operações e alcançar mais produtores. Consultado, o órgão não respondeu até a conclusão deste texto.
Uma fonte que atuou na elaboração dos últimos Planos Safras disse que a queda nos juros da economia pode diminuir o gasto da União para equalizar as operações cujos recursos são captados com fontes atreladas à Taxa Média Selic anualizada (TMS) ou ao CDI. Segundo ela, o movimento pode gerar impacto também na Taxa Referencial (TR), componente de custo de captação da Poupança Rural, por exemplo, principal fonte equalizada, e até na Taxa de Longo Prazo (TLP), usada pelo BNDES. Já outro especialista disse que o Tesouro usou a projeção do Boletim Focus para a projeção da Selic ao longo do ano-safra, o que, na prática, não mudará seus gastos.
O principal efeito, reforçou a primeira fonte, é nos juros livres, que representam fatia expressiva do Plano Safra 2023/24, com R$ 177.8 bilhões. Ao todo, foram ofertados R$ 435.8 bilhões para pequenos, médios e grandes produtores. “A redução da Selic no curto e médio prazo permite melhores condições para os bancos oferecerem recursos com taxas livres em níveis mais próximos de 12%, que é a taxa estabelecida nos recursos controlados a grandes produtores”, disse.