O constante crescimento da produção brasileira de grãos está relacionado a fatores como o uso de biotecnologias, boas práticas agrícolas, expansão da área plantada e também ao emprego adequado da correção de solo com calcário.
Gargalo
Mas na contramão deste avanço está o gargalo chamado armazenamento. Hoje, o Brasil possui um déficit de armazenagem estática de grãos de 118,5 milhões de toneladas, uma vez que a capacidade nacional de estocagem é de 194 milhões de toneladas e a produção brasileira é de 312,5 milhões de toneladas, de acordo com o presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos – (CSEAG) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Paulo Bertolini.
Indústria de armazenagem
Bertolini afirma que, no Brasil, a indústria que fabrica equipamentos para armazenagem, processamento, classificação e secagem de grãos tem potencial e tecnologia pra atender o mercado nacional e internacional, inclusive, atualmente, exportando pra mais de quarenta países.
“Para acompanharmos o crescimento da produção nacional destes produtos é preciso investir, no mínimo, R$ 15 bilhões todos os anos, sendo necessário mais recursos dentro da linha do Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) e que esse capital não seja contingenciado e esteja disponível no momento adequado, que é, praticamente, um ano antes de a safra ser colhida. É imprescindível que o produtor tenha linhas de crédito modernas e menos burocráticas”.
Comprometimento dos grãos
O representante da Abimaq reforça que todos os anos, nessa época, em que tá sendo feita a colheita da segunda safra de milho, os produtos estão sendo armazenados a céu aberto e sujeitos a pegar chuva, ataque de roedores, insetos, aves; portanto colocando esta produção colhida em risco por falta de um espaço adequado de estocagem.
“A falta de locais adequados, de silos, e também de estruturas de secagem, processamento e limpeza de grãos, causa um risco para a segurança alimentar, não só dos 210 milhões de brasileiros, mas também das 800 milhões de pessoas mundo afora que dependem da produção brasileira de grãos”, enfatizou.
Localização dos armazéns
Também foi ressaltado pelo presidente da CSEAG, que quando se fala em infraestrutura, trata-se, não somente, de rodovias, ferrovias e portos, mas, principalmente, da armazenagem e que esta deve ser construída, prioritariamente, dentro das fazendas, sendo o local mais racional, mais econômico e mais vantajoso para o agricultor na hora colher, de comercializar e de processar sua produção.
Brasil x EUA
Para efeito de comparação, enquanto o Brasil consegue dissecar e armazenar sua safra inteira com déficit na armazenagem de 118 milhões de toneladas, o seu principal concorrente no mercado internacional, que são os Estados Unidos, conseguem armazenar mais de uma safra e meia. “E a principal característica de lá é que mais de 60% dessa estrutura fica dentro das fazendas, enquanto, no Brasil, apenas 15% da capacidade estática total está dentro das propriedades e 85% em áreas industriais e urbanas, dificultando, consideravelmente, a estocagem da produção”, compara Paulo Bertolini.
Guerra: Rússia x Ucrânia
A Ucrânia era uma grande fornecedora de milho para a Europa, e essa demanda, em parte, está sendo suprida pela a produção brasileira. Porém, o milho nacional é, essencialmente, provindo de biotecnologia e a União Europeia, por questões ideológicas, proibiu a produção e entrada deste artigo no seu bloco. Mas diante da necessidade, causada pela guerra, a UE autorizou a importação do milho produzido no Brasil.
Paulo acredita que a tendência, com o prolongamento desse conflito, é a oportunização de novos mercados para o Brasil e também para a Argentina e os EUA, que são os três maiores exportadores de milho do mundo. “Os três, juntos, têm 80% do mercado internacional de milho e são os responsáveis por 50% da produção mundial. Então é óbvio que esse conflito na Europa afeta, em princípio, o milho, que é importante para o Brasil, mas também outros grãos”.
Por Equipe SNA