Luiz Octavio Pires Leal, membro da Academia Brasileira de Medicina Veterinária

 Por Marcelo Sá

A SNA conversou com Luiz Octavio, conhecido no meio profissional como L.O., que continua trabalhando com o entusiasmo de sempre aos 88 anos de idade. Formado pela Universidade Rural (Km47),em 1958, é também jornalista há cerca de meio século, atuando em assuntos relativos ao agronegócio. Tem experiência nacional e internacional tendo feito um curso no Departamento de Ciência Avícola da Universidade do Texas, em 1961.Publicou oito livros e atuou em jornais, rádios e emissoras de TV.

 

 SNA: O que lhe motivou a estudar Veterinária?

L.O.: Impressionado com o grande cientista Josué de Castro, através dos seus livros Geografia da Fome e Geopolítica da Fome, e tendo ficado encantado com a visita que fiz a uma granja, de um médico, colega do meu pai, cheguei à conclusão de que ovos e frangos seriam os principais fornecedores das proteínas de alto valor biológico do futuro próximo. Isso pelo ciclo curto de produção e pela possibilidade de uma criação em grande densidade.

SNA: E como era o Km47 daquela época?

L.O.: Era organizado, muito bem tratado, bonito, com muito prestígio, bem equipado e com ótimas instalações e professores, na maioria, da melhor qualidade. Era um privilégio estudar lá. E foi lá que pude sonhar e desenvolver a minha vocação de veterinário especialista em avicultura.

SNA: E atuou, na prática, nessa especialidade?

L.O.: Na teoria, fui Chefe do Setor de Treinamento e Divulgação da Comissão Nacional de Avicultura, a principal responsável pela introdução, no Brasil, da moderna técnica da avicultura industrial. E o resultado está aí: somos um dos principais produtores de frangos de corte do mundo, assim como de ovos. Na prática, durante os primeiros 15 anos de formado, dei assistência veterinária a muitas granjas, diagnosticando patologias e indicando os tratamentos.

 SNA: E por que parou?

L.O.: Parei e comecei a intensificar a atuação no jornalismo, porque, corretamente, a avicultura industrial mudou-se para os Estados do Sul, com melhor clima e melhor mão de obra, e eu, como carioca convicto, não quis me mudar para lá.

SNA: E foi então que a sua outra vocação, como comunicador, ganhou mais força?

L.O.: Foi. Atualmente (2023), minhas atividades principais, são a edição de dois sites educativos para a SNA-Sociedade Nacional de Agricultura: animalbusiness.com.br (existente há 12 anos) e alimentosesaude.com (o mais novo).Também crio e organizo seminários e colaboro com a nossa Academia Brasileira de Medicina Veterinária.

SNA: E está satisfeito com o trabalho?

L.O.: Muito satisfeito. Recebo total apoio da SNA que permite que eu o realize meu trabalho com liberdade. Muito importante também é o excelente ambiente que reina nessa organização, fundada em 1897, financeiramente independente, considerada de utilidade pública, sem objetivo lucrativo nem conotação política ou religiosa. Não estou satisfeito é com o caos em que se transformou o nosso rico País, com índice muito alto de analfabetismo.

SNA: Mudando de assunto: qual a sua opinião sobre o ensino da Veterinária no Brasil?

L.O.: Minha impressão, e mais do que impressão, a convicção, é a pior possível. Com meu perdão pela deselegância do termo: a legislação brasileira transformou o ensino da minha primeira profissão, numa verdadeira baderna, num comércio desonesto, numa fábrica de desilusões, e de profissionais incapazes, numa mentira, numa terrível covardia com o País. Veja o absurdo: no Brasil, estão autorizadas pela nossa legislação, mais do que 500 faculdades de Veterinária. Repito: mais de 500, muitas delas com ensino à distância. O mundo todo tem menos do que 400 faculdades de veterinária. Uma pergunta sem resposta: onde encontrar professores para essa quantidade de faculdades de veterinária?

SNA: Mas nenhuma das 500 serve?

L.O.: Umas poucas, geralmente entre oficiais, e mesmo algumas pagas oferecem um ensino de razoável ou mesmo de boa qualidade. O problema é que equipar de forma moderna uma faculdade de veterinária custa muito caro. Encontrar bons professores não é uma dificuldade menor.

 SNA: Na sua opinião, quem opta por ser médico veterinário tem noção do que está fazendo?

L.O.: Se você está se referindo à abrangência dessa profissão, aposto que não sabe exatamente o que está fazendo. Dependendo da região do Brasil, o limite desse desconhecimento, varia. No Centro-Oeste, veterinário cuida de boi. Em Minas, de vaca de leite e de cavalo Mangalarga Marchador; no Pantanal, de milhares de cabeças de gado Nelore; No Sul, de avicultura e de cavalos; Em São Paulo, a variedade é grande. E nas cidades, veterinário cuida da cães e de gatos e os mais raros, de cavalos de esporte. É claro que isso é uma simplificação, mas que não está muito distante da realidade. Não são muitos os interessados que sabem que a veterinária é uma profissão de Saúde Pública. O trabalho da OPAS (ONU), que trata das doenças comuns aos homens e aos animais, tem quase mil páginas. E este é apenas um exemplo. A veterinária tem relação com a pesquisa médica, em geral, nos mais diversos campos, como a reprodução assistida, a cirurgia, a farmacologia, a nutrição, o diagnóstico por imagem, a ecologia, e muitos outros.

SNA: Qual é a explicação para o grande progresso do agronegócio brasileiro e sua posição de contribuir para a alimentação de cerca de um bilhão de pessoas no mundo, e se ter transformado no principal setor da economia brasileira?

L.O.: As explicações são muitas: a disponibilidade de espaço e de água e o clima são algumas delas. Porém, o principal fator foi a criação da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária que, através da contratação e do treinamento de profissionais da melhor qualidade, revolucionou o agronegócio brasileiro em todos os seus diversos segmentos.

 SNA: E o futuro?

L.O: Os processos tanto de produção como de industrialização e comercialização no agronegócio são muito dinâmicos o que torna necessário uma aceleração na formação de profissionais de nível médio capazes de enfrentar os novos desafios.

 

 

 

 

 

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