Consultoria analisa os principais indicadores das condições financeira dos produtores de soja do Brasil. O tema de tendências e comercialização de soja e milho fará parte do primeiro painel do evento DATAGRO Abertura de Safra – Soja, Milho e Algodão 2023/24, que acontece nos dias 23 e 24 de agosto, pela primeira vez em Cuiabá.
O balanço parcial da DATAGRO Grãos sobre as finanças dos sojicultores brasileiros no 1º semestre de 2023, levantamento que antecede a divulgação anual de intenção de plantio da safra de verão pela Consultoria, indica um desempenho misto no geral, mas pendendo para o lado negativo, sendo desestimulante para o plantio da nova temporada.
Essa inclinação negativa está ligada aos preços médios muito inferiores às elevadas médias do mesmo período do ano passado; à obtenção de lucratividades ainda positivas na maior parte dos casos, mas inferiores na comparação com 2022 e à rentabilidade fortemente negativa.
Analisando o comportamento dos preços, o mais visível dos indicadores, nota-se que as médias em reais registradas nesses primeiros seis meses do ano estão muito abaixo dos excelentes resultados do mesmo período de 2021 e 2022, se aproximando das médias históricas. Tomando por base cinco das principais praças de negociação do País, os preços médios deste ano estão de 21% a 22% inferiores ao ano anterior nas cotações em reais, e também entre 21% e 22% nas cotações em dólares.
“De um modo geral, até o momento, as cotações médias ainda garantem resultados positivos de renda a grande parte dos produtores, à exceção dos que sofreram perdas mais destacadas com o clima, como foi o caso da metade Oeste do Rio Grande do Sul”, disse Flávio Roberto de França Junior, economista e líder de conteúdo da DATAGRO Grãos. Até o dia 7 de julho, apenas 66% da safra brasileira de soja deste ano estava comercializada pelos produtores, contra 77% em 2022, cerca de 91% no recorde de 2020 e 80% na média dos últimos 5 anos.
A segunda variável mais relevante é a lucratividade bruta, que compara a receita obtida com o custo de produção, que a princípio tende a manter a preferência do produtor brasileiro pela oleaginosa. A despeito da expressiva queda dos preços e dos maiores custos de produção, o setor mantém lucratividades dominantemente positivas pelo 17º ao consecutivo, embora tenha piorado em relação aos excelentes resultados do ano passado e com expectativa de um pouco mais de declínio até o fechamento da temporada.
Esse cenário foi possível devido à obtenção de preços médios em reais ainda acima dos padrões normais e, portanto, remuneradores aos sojicultores, apesar de muito aquém do excelente padrão dos últimos dois anos.
O terceiro indicador é a rentabilidade financeira, que considera a soja como uma opção de investimento. O 1º semestre apresentou resultados fortemente negativos, muito abaixo do excelente desempenho no mesmo acumulado de 2022, “o pior nessa série de 23 anos”, indicou França Junior. Dessa forma, o desempenho foi muito pior quando comparado com a de outros ativos analisados em virtude do aumento gradativo da aversão ao risco do mercado.
“Em outras palavras, guardar a soja para vender mais tarde foi uma péssima opção entre janeiro e junho deste ano, quadro que tende a continuar muito ruim nos próximos meses”, disse o líder de conteúdo da DATAGRO Grãos.
A média de preço da soja no Brasil acumulou uma perda real (já descontada a inflação) de 29,90% no acumulado de 2023 até junho. No mesmo período de 2022, a média brasileira era de + 5,71%.