Após um movimento de boa alta pela manhã, quando registrou máxima do dia a R$ 4,8730, e se manter em alta moderada ao longo da tarde, o dólar perdeu fôlego nos minutos finais de negociação e encerrou a sessão desta quinta-feira, 29, cotado a R$ 4,8470 para venda, praticamente estável (- 0,01%).
Mercado de câmbio
Operadores identificaram um movimento vendedor no mercado de câmbio, simultâneo as novas máximas do Ibovespa e mínimas dos juros futuros, diante da expectativa pelo anúncio da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta de inflação de 2026, após o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar, por volta de 16h40, que concederia entrevista coletiva depois das 17h.
Mercado spot
Com o mercado spot já fechado, Haddad confirmou manutenção da meta de inflação de 3% para 2024, 2025 e também para 2026. O Ministro informou que, segundo prerrogativa do Presidente da República, será adotado regime de meta contínua a partir de 2025, após o término do mandato de Roberto Campos Neto, em 2024. Em relação à gestão da política monetária, Haddad disse que “há grande expectativa do governo de cortes consistente da Selic a partir de agosto”.
Projeções de inflação
Pela manhã, declarações de Campos Neto e redução de projeções de inflação no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) já haviam reforçado a expectativa da redução da taxa básica em agosto, como sinalizado na ata do COPOM. O vencimento julho do dólar futuro, que havia recuado com a decisão do CMN, acabou retomando fôlego em seguida e fechou em alta de 0,12%, cotado a R$ 4,8610.
Alta do dólar
Com o alívio no fim do pregão, o dólar interrompeu uma sequência de dois dias seguidos de alta. Mesmo assim, a divisa já acumula uma valorização de 1,45% na semana. Operadores afirmam que parte da alta do dólar nos últimos dias e na maior parte da sessão de hoje foi motivada por realização de lucros e recomposição de posições defensivas, dado ao recente movimento de apreciação do real, que levou o dólar de R$ 5,07 no fim de maio para a casa de R$ 4,76 no fechamento do último dia 26. Investidores já se preparam também para a rolagem dos contratos futuros e a disputa, amanhã, pela formação da última Ptax de junho. No mês, o dólar ainda registra uma queda de 4,45%.
Exterior
No exterior, o Dólar Índice DXY em alta firme ao longo do dia e registrou uma máxima aos 103.437 pontos, com ganhos mais fortes da moeda americana em relação ao euro. Leitura final do PIB dos EUA no 1º trimestre revelou um crescimento de 2% (taxa anualizada), bem acima da estimativa anterior e da projeção de analistas (+ 1,30%). Houve uma desaceleração em relação ao 4º trimestre de 2022 (+ 2,60%).
Desaquecimento
A avaliação é que sem um quadro de desaquecimento abrupto da atividade, há espaço para o Federal Reserve aumentar os juros em pelo menos mais 0,50% neste ano, como sinalizado nas projeções mais recentes dos próprios integrantes do Banco Central americano e pontuado ontem pelo Presidente Jerome Powell.
“Tivemos um movimento de alta muito forte do real e nas últimas semanas e agora houve um ajuste natural com uma acomodação das commodities e com o Fed mais duro, sinalizando que novas altas de juros vão se materializar”, disse o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. “Mas essa alta do dólar para R$ 4,80 não é nada significativa, que mostre aumento da percepção de risco”.
Lima ressalta que o real estava em nível “muito descontado” em razão de “fatores de risco internos”. A possibilidade de trajetória explosiva do endividamento público foi afastada, por exemplo, pelo novo arcabouço fiscal. O economista também indicou que há menos incertezas sobre a taxa terminal de juros nos Estados Unidos, dado que já é quase certo que altas adicionais até o fim do ano não vão superar 0,50%.
Queda da volatilidade da taxa de câmbio
Segundo o economista, com menos riscos, houve uma queda da volatilidade da taxa de câmbio e maior apetite por operações de “carry trade”, que devem continuar atraentes com ciclo de corte da Selic e FedFunds um pouco mais elevados.
“Se o BC não cortar os juros de forma errada, não vai haver estresse no câmbio. Com acomodação dos preços das commodities, o dólar deve ficar ao redor do nível atual, entre R$ 4,80 e R$ 4,90 no curto prazo”, disse Lima. “A gente precisa fazer muita coisa errada para a taxa ir para R$ 5,10 ou R$ 5,20. Ou o Fed sinalizar que vai ter que fazer muito mais na política monetária”.