Café sem perspectivas de melhora para 2014

O diretor da SNA José Milton Dallari. Foto: Nilton Bastos
O diretor da SNA José Milton Dallari. Foto: Nilton Bastos

Com preços baixos e alto custo de produção, a produção brasileira de café começa 2014 em busca de alternativas para contornar a crise enfrentada pelo setor. Embora o Brasil continue sendo o maior produtor e exportador do grão, com uma qualidade reconhecida em todo o mundo, o produtor brasileiro viu o café arábica – principal tipo produzido no país – enfrentar uma desvalorização de 30% durante 2013. Com expectativa de colher 47 milhões de toneladas, número 6% inferior à última safra, o cenário para o ano é incerto.

“Estamos vivendo um cenário extremamente complexo, com preços baixos, produção alta e mercado internacional retraído”, observa o especialista em café e diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) José Milton Dallari.

Com uma taxa de crescimento do mercado entre 1,5% e 2%, a produção tem sido maior do que a demanda. E o cenário para 2014 não é mais animador. “Creio que o panorama vai ser igualzinho. Estamos vendendo bastante café e o que ocorre é que os mercados internacionais estão recompondo estoques a preço baixo”, acrescenta Dallari. Na opinião dele, não há dúvidas sobre quem é o maior prejudicado. “O único que está pagando esse ajuste é o produtor rural.”

Na tentativa de resgatar o setor, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou, em novembro do ano passado, a renegociação das dívidas dos produtores. A expectativa do governo era aquecer o preço do produto, mas novas ações podem ser adotadas caso não haja efeito. O ministério estuda, ainda, conceder crédito aos cafeicultores para incentivar a diversificação das propriedades. O diretor técnico da SNA classificou como “pífias” as medidas anunciadas pelo governo.

Enquanto esperam por uma mudança no mercado, os produtores continuam sem conseguir sequer “empatar” o investimento feito nas lavouras. “Temos um custo de produção de R$ 250 a R$ 340 (por hectare), se pegar Cerrado e área de montanha. E estamos vendendo o café a R$ 220, R$ 230 a saca”, calcula Dallari. Para muitos, manter a mesma área plantada – sem expansão – seria uma forma de reduzir a oferta e equilibrar os preços. “Acho que a área cultivada tem de sofrer ajustes, porém não faz sentido patrocinar uma expansão na zona do Cerrado com café de baixa qualidade em detrimento de um café de alta qualidade”, argumenta o especialista.

Breno Mesquita, da CNA. Foto: Wenderson Araújo
Breno Mesquita, da CNA. Foto: Wenderson Araújo

 

Para o presidente das comissões do café da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, o momento atual pode servir de oportunidade para que seja traçado um grande diagnóstico do setor no Brasil, com a participação de entidades, universidades e técnicos. “A situação ficou num ponto tão difícil que nós temos de conhecer a real profundidade dessa crise”, observa. De acordo com ele, a cultura não conta, hoje, com um planejamento estratégico no país.

Um dos pontos em que falta informação, segundo Mesquita, é com relação à capacidade de pagamento dos produtores. “Se ela for de ‘x’ anos, o que temos de fazer para, na data do vencimento, ele ter condições de honrar com o compromisso? Não existe um planejamento estratégico. O que queremos é criar uma oportunidade de conhecer o setor”, argumenta.

Mesquita – que classifica o ano de 2013 como “horrível” para o setor – acredita que as perspectivas de melhora para o ano que vem são muito pequenas. Ele ressalta que o financiamento da dívida não irá resolver o problema da renda do produtor, mas aponta algumas alternativas. “Existe ainda uma parcela da safra a ser comercializada e, motivando ou subsidiando o produtor, ele pode obter um preço mais interessante para comercializar”, argumenta.

 

Por Equipe SNA/RJ

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