Fernando Pimentel fala sobre apagão logístico e potenciais mercados para grãos brasileiros

Por equipe SNA

Cálculos da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) apontam para um prejuízo de pelo menos US$4 bilhões aos produtores, este ano, por conta do apagão logístico para a exportação de soja e de milho. A entidade estima que o país exporte 40 milhões de toneladas de soja e 18 milhões de toneladas de milho.

O custo para levar cada tonelada aos portos de Santos ou Paranaguá passou de US$81 para US$98 por tonelada, cerca de US$70 a mais do que pagam os concorrentes da Argentina e dos EUA. Esse custo é descontado do preço da soja, cotada a US$525 a tonelada, e do milho, US$246 a tonelada.

Em meio ao caos logístico, no entanto, autoridades agropecuárias do Japão, em recente visita ao Brasil, manifestaram ao governo interesse em aumentar a compra do milho brasileiro para garantir o abastecimento interno, diante da estimativa de queda na produção americana. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em 2012, o Japão comprou três milhões de toneladas de milho brasileiro, totalizando US$ 814,6 milhões.

“O Japão é um país relativamente pequeno se comparado a seus pares na Ásia. Junto com a Coreia do Sul, é um potencial mercado a ser desenvolvido e, na somatória, todos podem assumir uma proporção importante para o milho brasileiro. Mas, antes de pensarmos em abrir mais mercado, temos que resolver o gargalo que se transformou a logística de graneis no Brasil”, diz o diretor da SNA Fernando Pimentel.

A seguir, veja uma entrevista com Fernando Pimentel sobre o tema:

SNA: O que o aumento dessa parceria com o Japão pode significar para o Brasil? Com a atual situação logística brasileira, existe a possibilidade de estreitarmos estes laços a ponto de fazer frente aos Estados Unidos?

Fernando Pimentel: O Japão é um país relativamente pequeno se comparado a seus pares na Ásia. Junto com a Coreia do Sul, é um potencial mercado a ser desenvolvido e, na somatória, todos podem assumir uma proporção importante para o milho brasileiro. Mas, antes de pensarmos em abrir mais mercado, temos que resolver o gargalo que se transformou a logística de graneis no Brasil. Não somos competitivos em relação aos americanos. No ano passado, exportamos muito por conta da quebra da safra americana. De fato, tivemos uma certa dose de sorte, pois os produtores teriam tido prejuízo com o milho no Centro-Oeste se São Pedro não tivesse castigado as lavouras dos Estados Unidos. O que vimos no ano passado dificilmente irá ocorrer nos próximos anos. Custou caro para as tradings levar esse milho embora.

SNA: Para que outros países o Brasil tem chances de aumentar as exportações aproveitando essa instabilidade americana?

FP: Coreia do Sul e, claro, a China são potenciais clientes.

SNA: No caso da soja, com que países o Brasil poderia aumentar seus negócios?
FP: Na China, Indonésia e Coreia do Sul. No Japão, já temos um espaço ocupado.

SNA: Como o caos logístico pode atrapalhar os planos de negócios do Brasil num ano em que se prevê safra recorde?

FP: Diante da nossa performance de embarques bastante complicada na safra 2012/13, vamos ver uma retração das tradings na compra de milho para entregas no segundo semestre. No mês de março, ainda estávamos embarcando milho, o que complicou o fluxo da soja, portanto as tradings devem reduzir seus planos de exportar milho dentro do limite que a nossa precária logística permite. Acredito que varie entre 13 e 15 milhões de toneladas, no máximo. Os produtores irão precisar de apoio do governo para colocar esse milho de inverno no mercado.

SNA: O que o senhor acha que pode ser feito para diminuir os impactos do caos logístico?

FP: Construir novos portos, melhorar a operação dos existentes, construir novas vias de escoamento, estradas, ferrovias e hidrovias e aumentar a capacidade estática de armazenagem no campo. Do mesmo jeito que tivemos programas de fomento para aquisição de máquinas MODERFROTA, PSI, entre outros, temos que ter programas agressivos para fomentar a construção de silos e armazéns no campo.

SNA: Como o produtor deve reagir neste momento?

FP: Isso depende muito do desempenho do produtor na venda de sua safra 2013. O importante é ter cautela, pois será um ano de grande volatilidade nos preços dos grãos. No longo prazo, produtores que têm escala suficiente para justificar o investimento (> 1000 ha) devem buscar linhas para construir seus próprios silos, abrir as oportunidades de mercado e diminuir a dependência dos poucos compradores locais, que são as tradings, cerealistas e cooperativas. Um produtor com silo próprio no MT, por exemplo, encontra de 10 a 15 potenciais compradores para o seu grão. Basta, para isso, trabalhar com um bom corretor de commodities que promova suas vendas. Um produtor que entrega sua produção para compradores locais vai encontrar entre 3 e 4 compradores, o que refletirá nos preços. Neste ano, estimamos que a diferença nos preços pagos entre os dois casos poderá chegar a R$ 6/sc de soja, dependendo da região. Essa diferença se acumula tanto na fixação do preço propriamente dito, como também nos descontos por qualidade (normalmente maiores na moeda do comprador) e no frete da fazenda até o armazém do comprador.

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