As chuvas não chegam e as perdas já começam a ser contabilizadas em todas as regiões produtoras de milho safrinha do Brasil. A perspectiva também não é positiva no curto e médio prazo. Segundo o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, as últimas previsões indicam o final do bloqueio atmosférico que atua sob a região Central do País no final desta semana, porém, as chuvas esperadas para os próximos dias e meados de maio são de baixíssima intensidade e pontuais.
“A condição para o milho safrinha é bastante grave. Todas as regiões produtoras estão há mais de 20 dias sem chuvas, as perdas são grandes e a maior parte das áreas não tem mais tempo de recuperação”, disse Santos. “A exceção fica por conta de Mato Grosso, onde choveu melhor nos últimos meses, o que resulta em uma capacidade hídrica maior do solo. No entanto, essas chuvas não foram generalizadas e, portanto, não aliviam muito o quadro geral do estado”.
Para os próximos dias, após o final desse bloqueio, os volumes previstos de chuvas são de, em média, 5 mm e, no quadro atual, não trazem qualquer mudança significativa nas expectativas dos produtores brasileiros. E além da falta de chuvas, completam as condições desfavoráveis para as lavouras de milho da segunda safra as elevadas temperaturas que também vêm sendo registradas por todas as principais áreas produtoras.
Dessa forma, o agrometeorologista relata ainda uma situação em que as plantas, que são bastante sensíveis a momentos como estes, estão sofrendo não só com o stress hídrico, mas também com o térmico, o que resulta em uma perda de produtividade muito mais rápida e intensa. “Se as temperaturas não estivessem tão altas, haveria a incidência do orvalho, que é como uma irrigação – bem mais branda do que a mecanizada, é claro – mas é uma ajuda. E isso não está acontecendo”, disse.
Com tudo isso, a projeção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) de 57.13 milhões de toneladas para a safrinha de milho deste ano acabou ficando para trás e o esperado pelos agricultores é algo abaixo de 55 milhões. Nos principais estados produtores, lideranças já falam de perdas que superam os 10%.
No mercado internacional, esta é uma informação que já vem repercutindo também e há analistas estimando uma quebra de 3 a 10 milhões de toneladas. Para Michael Cordonnier, um dos mais respeitados consultores internacionais, a safrinha brasileira poderia ficar, dentro desse padrão climático, entre 51 milhões e 55 milhões de toneladas. “Eu estimaria que cerca de 40% da safrinha esteja em níveis diferentes de déficit de umidade. Se esse padrão persistir, não será um desastre, mas certamente irá provocar uma redução na produtividade, principalmente no milho plantado mais tarde”, disse Cordonnier.
Os estados mais afetados até este momento são Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Ainda assim, Mato Grosso e Paraná também inspiram uma preocupação crescente. Há alguns municípios, afinal, aonde a estiagem já chega há 40 dias. E essa seca em abril coincidiu com as fases de florescimento e enchimento de grãos, o que agrava ainda mais a situação.
Segundo o fisiologista Dirceu Gassen, as lavouras que mais sofrem neste momento e, por isso, já não possuem tanto potencial de recuperação são aquelas que estão, justamente, as que se encontram nas fases de floração e enchimento de grãos, já que trata-se do estágio de maior atenção.
“A fase mais crítica do milho ao déficit hídrico ocorre nos estádios de floração e de polinização. A falta de água e a temperatura elevada interferem na sincronização entre a produção de pólen (pendão) e na emissão dos estilo-estigmas (boneca). A desidratação pode dessecar e tornar o estilo-estigma não-receptivo a polinização. A combinação de déficit hídrico e temperaturas elevadas determinam falhas nas espigas de milho”, disse.
No gráfico abaixo, a linha vermelha mostra o potencial de perda diária na produção de grãos de milho por conta do déficit hídrico.
Gráfico de perda diária do milho – Fonte: Dirceu Gassen
Em Goiás, a perspectiva é que de uma quebra inicial de 20% na safrinha de milho devido ao clima irregular. Contudo, esse percentual pode ser maior caso as chuvas não retornem ao estado. “Estamos há mais de 25 dias sem chuvas nas principais regiões produtoras, especialmente no Sudoeste. E essa localidade é responsável por 70% a 75% da produção de milho no estado”, disse o assessor técnico da FAEG (Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás), Cristiano Palavro.
Para essa temporada, a estimativa inicial era de uma safrinha de 8 milhões de toneladas. “Mas tivemos o potencial das plantas afetado, principalmente na fase de florescimento em que a planta tem maior necessidade de água. E se não ocorrer a polinização nesse momento não adianta chover depois, pois a formação da espiga será ruim e não terá recuperação”, disse o assessor.
No Paraná, o cenário é semelhante, isso porque, as lavouras do cereal também têm sentido os efeitos da seca, especialmente no Norte do estado. “O milho cultivado entre janeiro e fevereiro está sentido a seca, já que está em fase de enchimento de grãos. Porém, a condição do grão cultivado de fevereiro em diante é mais preocupante. Nesse momento, temos uma expectativa de quebra de 10% a 15% de modo geral no estado, mas a cada dia a estimativa de perda é maior”, disse o presidente da Aprosoja Paraná, José Eduardo Sismeiro.
A liderança ainda destaca que nas terras argilosas ainda há umidade e é o suficiente para as plantas não morrerem. Contrariamente, nas arenosas, o milho apresenta condição pior, já que sente mais os efeitos do clima adverso. “Temos uma situação muito grave e produtores que podem nem colher caso a ausência de chuvas continue. Nesse momento, não há mais nada a ser feito, precisamos de precipitações. Por enquanto, o que podemos destacar é que não vamos alcançar a safrinha do ano passado”, disse Sismeiro.
No Triângulo Mineiro, o quadro também é grave e há regiões sem chuvas há mais de 40 dias. Em Coromandel (MG), grande parte das lavouras está em fase de pendoamento e dependem de chuvas expressivas para garantir o potencial produtivo. Na média da região a produtividade média é de 120 sacas por hectare, mas se as chuvas não retornarem com intensidade, o rendimento poderá ficar entre 40 a 50 sacas por hectare, conforme destacam os produtores rurais.
“Temos áreas com perdas irreversíveis, mesmo que não seja possível quantificar ainda, já sabemos que os danos existem. E mesmo que as chuvas voltem depois do dia 25 de abril, as plantas não conseguirão recuperar o potencial produtivo”, disse o produtor rural Abdala Daguer Neto.
As lavouras de São Paulo sofrem com a adversidade climática, especialmente nas áreas de sequeiro. “As lavouras irrigadas estão ótimas, mas nas áreas de sequeiro a situação é complicada. Já podemos falar em perdas entre 20% a 30%, os solos arenosos estão padecendo bastante, está muito calor e não temos chuvas”, disse o produtor rural de Buri, Frederico D’Avila.
Em São Gabriel do Oeste (MS), principal região produtora do grão na segunda safra, a falta de chuvas já supera 20 dias e os termômetros marcam 35ºC a 36ºC. O presidente do Sindicato rural do município, Júlio César Bortolini, disse que a situação se agrava a cada dia. “E mesmo que chova nesse momento já temos perdas, pois o milho é uma planta diferenciada, com 45 dias já define a formação das espigas. Em 2015, colhemos em torno de 116 sacas por hectare, quase 7.000 quilos por hectare e esse ano não iremos atingir a metade”, disse a liderança sindical.
Fonte: Notícias Agrícolas