Retração do leite no exterior deve limitar alta doméstica

A forte queda nos preços do leite em pó no mercado internacional, que se acentuou recentemente, tende a limitar a valorização das cotações ao produtor no Brasil, embora o cenário seja de uma menor oferta interna de matéria-prima. O motivo é que, com as atuais cotações internacionais, até mesmo o leite em pó de países de fora do Mercosul ficou mais competitivo para entrar no mercado brasileiro, segundo especialistas e indústrias.

No último leilão da plataforma Global Dairy Trade (GDT), referência para os preços de lácteos no mercado internacional, na terça-feira, a cotação do leite em pó ficou em US$ 1.890,00 a tonelada, quase 42,3% inferior aos US$ 3.272,00 de igual período de 2015. O recuo reflete um ambiente de aumento da produção na União Europeia e nos EUA e de retração da demanda de China e Rússia.

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Nesse patamar registrado no leilão, o leite em pó importado dos EUA – por US$ 2.400,00 a tonelada, acrescendo a Tarifa Externa Comum (TEC) para produto de fora do Mercosul de 28% e considerando um dólar a R$ 4,00 – teria um preço equivalente, em leite fresco a R$ 1,19 o litro, colocado na indústria no Brasil, segundo os cálculos de Valter Galan, analista da MilkPoint, consultoria especializada em lácteos. O valor, observa, é muito próximo do que se vê no mercado brasileiro hoje.

Para chegar ao valor equivalente do leite fresco no mercado interno, Galan considera o custo do leite em pó importado colocado no Brasil, menos o custo de industrialização e o uso de 8,2 litros de produto fluido para cada quilo de leite em pó produzido.

No caso da matéria-prima nacional colocada na indústria, o valor está entre R$ 1,10 e R$ 1,12, conforme a consultoria. Em outro exemplo de importação, o leite do Mercosul chegaria com valor equivalente a R$ 1,15 por litro colocado na indústria. “Apesar do dólar, os preços internacionais baixos deixam o leite importado competitivo”, afirma Galan.

“Se o dólar se mantiver no patamar de R$ 4,00, ao preço que está o mercado internacional, se estabelece um limite até onde pode ir o valor [do leite] no mercado doméstico”, concorda Laércio Barbosa, do Laticínios Jussara.

Redução de investimentos na produção por causa do alto custo dos grãos e problemas climáticos em bacias leiteiras estão limitando a oferta brasileira de leite. A estimativa da MilkPoint é de que tenha havido queda de 3% a 3,5% em 2015, em relação à produção de 24.747 bilhões de litros do ano anterior. Diante dessa redução que persiste, laticínios nacionais já está pagando mais pela matéria-prima, assim como o consumidor pelo produto final.

Nas negociações do chamado spot (entre laticínios), o preço médio no Brasil, ficou em R$ 1,29 por litro nesta segunda quinzena de fevereiro. Era de R$ 1,22 na primeira quinzena do mês, segundo acompanhamento da MilkPoint. Um mês antes, estava em R$ 1,08.

Embora a produção esteja em queda no Brasil e o leite importado possa ser uma opção para empresas de alimentos ou mesmo laticínios, no atual cenário, analistas e indústrias lembram que a demanda doméstica também está fraca.

Até por isso, Marcelo Costa Martins, diretor-executivo da Viva Lácteos (que reúne empresas do segmento), não vê “possibilidade de crescimento significativo de importações pois não há aumento da demanda interna”. Ele considera que as empresas devem importar para suprir suas necessidades. Mas como a oferta interna de leite é menor, o preço não deve cair no curto prazo.

Já as exportações de lácteos do Brasil estão menos competitivas. E os volumes caem. Em janeiro, foram embarcadas 3.000 toneladas, por US$ 10 milhões. Haviam sido 5.000 em dezembro de 2015, com receita de US$ 17 milhões. Já as importações somaram 8.000 toneladas (por US$ 21 milhões) em janeiro contra 12.000 toneladas (US$ 29 milhões) em dezembro do ano passado.

 

Fonte: Valor Econômico

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