As vendas de importantes insumos para a safra de grãos 2015/16, como sementes e fertilizantes, estão praticamente concluídas, mas revendas de todo o País colocam-se em estado de alerta com o aperto no fluxo de caixa dos produtores e riscos de inadimplência, afirmaram importantes executivos do setor.
“Num ano desses, de custos aumentando e o preço das commodities caindo, o mais difícil é você fazer essa seleção de clientes”, disse à Reuters o vice-presidente da Agro Amazônia, uma das maiores distribuidoras de insumos do Centro-Oeste, Roberto Motta.
Produtores brasileiros têm enfrentando dificuldades com o crédito este ano, com menos subsídios do governo federal aos financiamentos, no contexto do ajuste fiscal capitaneado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Além disso, os preços internacionais de commodities como a soja e o milho recuaram cerca de 30% desde os picos de 2014. Com os preços de insumos como fertilizantes e defensivos também atrelados ao mercado externo, os benefícios da desvalorização do real vêm sendo limitados.
“Em ano de margens apertadas, o foco é o fluxo de caixa. Vender à prazo é fácil… mas se você não tiver atenção ao fluxo de caixa, você não sobrevive para chegar lá na frente e receber essas contas”, afirmou o presidente da Terrena Agronegócios, de Minas Gerais, Marco Antônio Nasser de Carvalho.
Segundo ele, o momento atual, de implementação e manejo das lavouras de grãos, é o que mais exige capital de giro nas fazendas, com necessidade de pagamento de combustíveis, maquinário e compra de alguns insumos, como defensivos. É neste estágio que começam a surgir dificuldades de fluxo de caixa para produtores menos capitalizados ou com pouco acesso a crédito bancário, com possibilidade de repercussão também para seus fornecedores.
“A falta do recurso de custeio é grave… Nós somos altamente impactados. Se ele está apertado aqui, como ele vai liquidar (suas dívidas) lá na frente?”, ponderou Carvalho.
A Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários (ANDAV), entidade que reuniu executivos do setor esta semana em São Paulo para marcar seus 25 anos de atuação, já vem registrando casos de empresas com problemas financeiros e pedidos de falência.
“Já começou a aparecer… Todos os que vinham com gestão arriscada no passado, estão começando a aparecer agora com algumas quebras”, disse o presidente da ANDAV, Carlos Henrique Nottar, citando problemas em Mato Grosso, mas sem dar outros detalhes.
“BARTER”
No contexto de crédito apertado e maiores riscos, as revendas buscam selecionar com mais cuidado o perfil dos clientes para quem vendem a prazo.
Na Agro Amazônia, por exemplo, é aplicado um questionário com 70 perguntas para avaliar anualmente as condições dos compradores.
Na avaliação de Motta, cerca de metade das vendas de defensivos de Mato Grosso são feitas com operações de crédito das próprias revendas.
Outra estratégia que volta com força em anos de crédito bancário mais difícil e caro é o “barter”, no qual o agricultor paga pelo insumo com a entrega do grão após a colheita.
“Em anos de crise, isso se acentua… Na próxima safra (2015/16) de soja devemos ter algo em torno de 50 por cento dos negócios em “barter”, revelou o sócio-gerente da Ferrari Zagatto, Ferreirinha Costa, com forte atuação na distribuição de insumos no centro-norte do Paraná.
Segundo ele, as operações de “barter” representavam 25% a 30% dos negócios das revendas da região em anos anteriores.
Na estimativa de Motta, da Agro Amazônia, essa modalidade para a safra 2015/16 pode chegar a 30% das vendas de alguns produtos pelas revendas de Mato Grosso.
Fonte: Reuters