2017/18: Qual o potencial da nova safra de grãos dos Estados Unidos?

A nova safra de grãos dos Estados Unidos têm gerado, como sempre, bastante especulação e ao mesmo tempo, muita divergência. As condições do clima causaram alguma irregularidade nos últimos dias, após um início de plantio marcado pelo excesso de chuvas em boa parte do Corn Belt.

Na última segunda-feira (12), o USDA divulgou pela primeira vez que o percentual de lavouras de soja para esta safra, em boas ou excelentes condições, era de 66%. O número ficou dentro de um intervalo de 65% a 70% que vinha sendo esperado pelo mercado, porém, bem abaixo dos 74% registrados no mesmo período do ano passado.

Não só a soja exige atenção nos EUA nesta safra, mas também o milho e, principalmente, a nova safra de trigo de primavera. No mesmo relatório, o USDA mostrou que ocorreu uma redução de 10% no percentual de lavouras do trigo em boas ou excelentes condições, atualmente em apenas 45% das lavouras.

E a cultura e seu desenvolvimento têm estado no centro das atenções e do movimento de recuperação dos preços dos grãos na Bolsa de Chicago. “O trigo de primavera norte-americano continua sendo o epicentro da ação no mercado de grãos”, disse o analista internacioanl Tobin Gorey, do Commonwealth Bank, da Austrália.

O clima seco nas principais áreas produtoras dos EUA preocupa, com chuvas ainda limitadas nos últimos dias. Em alguns pontos já não chove há semanas. E as previsões para os próximos dias e semanas ainda têm divergido, o que traz ainda mais apreensão e volatilidade aos negócios.

A empresa especializada em meteorologia WxRisk.com divulgou que para os próximos seis a dez dias, “o modelo europeu mostra chuvas moderadas em partes do Meio-Oeste, mas que ainda há extensas áreas com pouca ou nenhuma precipitação, especialmente no oeste do Corn Belt e no centro das Planícies”.

 

 

Diante deste cenário, o Notícias Agrícolas buscou quatro diferentes opiniões sobre este início de safra nos Estados Unidos. Os pontos comuns entre elas são a atenção e o impacto causado pelo trigo, a volatilidade que poderá se intensificar e as previsões ainda divergindo para as próximas semanas.

Vlamir Brandalizze – Brandalizze Consulting

Para o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, o percentual de 66% de lavouras em boas ou excelentes condições indica um início de uma safra regular para a soja. “Esse é um percentual que fica dentro do normal, não é negativo e nem muito positivo, por enquanto”, disse.

No entanto, lembra ainda que não é possível comparar esta safra com a anterior, uma vez que a temporada 2016/17 se aproximou bastante da perfeição. “A safra passada foi a melhor dos últimos tempos”, disse o consultor. Essa deverá ser, portanto, uma safra de produtividade média.

Seu impacto real sobre as cotações em Chicago, porém, só poderá ser avaliado mais adiante, uma vez que os meses-chave para a oleaginosa são julho e agosto nos EUA.

Camilo Motter – Granoeste Corretora de Cereais

Entre as expectativas do mercado acompanhadas pelo analista Camilo Motter, da Granoeste Corretora de Cereais, o percentual de 66% das lavouras em boas ou excelentes condições divulgado pelo USDA ficou cerca de 3% abaixo do esperado. “Tudo isto pode ser por causa do clima ruim da fase inicial”, disse.

Dessa forma, as expectativas são de melhora do clima, mais adiante, para a recuperação dessas condições. “Porém, o clima já começa a mostrar alguns sobressaltos” disse Motter, e as Dakotas do Sul e do Norte são dois estados bastante falados nesta temporada.

“Uma nova onda de chuvas começando exatamente pelas Planícies deve avançar pelo Meio-Oeste e precisamos monitorar isto. Outra coisa importante é que, historicamente, entre a última quinzena de junho e a primeira de julho, o mercado vê mudanças de rota, com o clima dos EUA como guia”, disse o analista.

Neste momento, para Motter, uma nova perspectiva especulativa se abre para o mercado futuro. Porém, ele acredita que o momento atual seja de mais sensibilidade para o milho, em função de expressiva redução de área nos EUA.

“Mas, dependendo de eventuais problemas mais sérios, a soja também terá reflexos. Na questão do trigo, o impacto mais direto se dá, claro, primeiro sobre o próprio trigo, mais sobre o milho do que na soja. Cerca de 15% do trigo mundial vai para ração”, disse o consultor.

Andrea Cordeiro – Labhoro Corretora

Segundo Andrea Cordeiro, analista da Labhoro Corretora, os 66% divulgados pelos USDA para as lavouras de soja indicam que o percentual veio do lado de baixo das expectativas, e isso exige atenção. “Mas temos uma temporada inteirinha pela frente pra observar a curva. Há estados, como as Dakotas, que são os que registraram menos chuvas hoje e que, se comparados aos dados do ano passado, mostram uma impressionante diferença de qualidade”, disse.

Especulando sobre o assunto, os fundos seguem aproveitando o momento para realizar lucros. “Os fundos estão carregando grandes posições vendidas e com qualquer noticia com viés positivo eles aproveitam a oportunidade de realizar lucro”, disse a analista.

“Precisa chover nessa região das Dakotas. Se chover, a soja se recupera rapidamente. Com condições abaixo do que vimos no ano passado, não é nada demais se você tiver uma regularidade de chuvas daqui para frente”, disse Andrea.

Matheus Pereira – AgResource Brasil

O chamado de atenção do analista Matheus Pereira, da AgResource Brasil (ARC Brasil) é de que este é o pior começo de safra de soja nos EUA desde 2013. “Isso já era esperado, com os atuais níveis de umidade no solo comparados com os níveis da grande seca de 2012”, disse.

Apesar disso, Pereira lembra ainda que a genética das plantas está bastante avançada hoje em dia. Ainda assim, disse que já foi colocado um teto nos índices de produtividade. “Entretanto, ainda há chances de uma produção gigantesca. Um recorde, porém, seria bem improvável”, disse o analista da ARC Brasil.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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