Cargill e USJ dão a largada para a produção do etanol de milho em Goiás

A subutilização da capacidade industrial das usinas de cana-de-açúcar no Brasil sempre foi algo intrigante para a americana Cargill, uma das maiores tradings de commodities do mundo e também um grande player industrial. No setor há cerca de dez anos com uma unidade em São Paulo (Cevasa), a multinacional há três se associou ao Grupo USJ para investir na produção de açúcar e etanol em Goiás. Desde então, se planeja para fazer a fábrica rodar nos 12 meses do ano.

Tradicionalmente, as usinas moem cana por oito meses, depois as máquinas são desligadas para manutenção, permanecendo assim por um quadrimestre, até o início do ciclo seguinte. A entressafra que termina em 31 de março deste ano, no entanto, será a última de ‘ociosidade’ para a usina São Francisco, um das duas unidades canavieiras que a americana controla com o grupo USJ, sob o guarda-chuva da joint venture SJC Bioenergia.

Instalada em Quirinópolis (GO), essa unidade vai passar a operar também com milho a partir de janeiro de 2016. A escolha do grão para “encher” a fábrica veio da grande oferta do cereal na região, além da experiência que a americana já tem nos Estados Unidos com suas usinas que produzem etanol de milho.

Com R$ 160 milhões de investimento, o projeto adicionará à planta goiana produção de etanol de milho, mais eletricidade e o chamado DDGS (sigla em inglês para Resíduos Secos de Destilaria Contendo Solúveis) – uma espécie de farelo de milho que é extraído na produção do etanol e usado para ração animal. “O potencial é de elevarmos em 20% a 30% nosso resultado operacional, uma vez que a receita vai crescer, com o mesmo custo fixo”, calcula o presidente do conselho de administração da SJC Bioenergia, Marcelo de Andrade.

Quando chegar à sua capacidade máxima, em três anos, a São Francisco estará produzindo mais etanol a partir do grão do que da própria cana, afirma Andrade. O cronograma é fabricar nos primeiros doze meses de operação 80 milhões de litros de etanol com o uso de milho, metade do que a unidade produz a partir da cana – 160 milhões de litros. Nos três anos seguintes, a meta é elevar esse volume a 200 milhões de litros feitos a partir do grão.

“É um volume equivalente a uma usina tradicional de cana com moagem de 2.5 milhões de toneladas”, compara Andrade, que é também o responsável pela operação de Açúcar e Etanol da Cargill no País. Ele cita ainda como vantagem, além da otimização dos ativos, o fato de o projeto graneleiro demandar bem menos capital e ter menores riscos comparado a um projeto canavieiro. “Uma usina de cana a partir do zero custaria cerca de R$ 750 milhões, sem contar que ela começaria a gerar caixa positivo em cinco anos”.

Do total de R$ 160 milhões que serão investidos no projeto de etanol de milho, 70% serão financiados pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o restante, de capital dos sócios, na distribuição de 50% para cada um. O apoio da FINEP se deu porque há um desenvolvimento tecnológico associado ao projeto, explica o superintendente de apoio a projetos inovadores da financiadora, Alexandre Velloso. “Isso vai trazer um encaminhamento novo ao setor, criando um modelo de negócio para as usinas de cana do Centro-Oeste”, acredita Velloso.

O cronograma é rodar a fábrica com milho na entressafra canavieira, por volta de dezembro até o fim de março, e também durante safra, nas ‘janelas’ em que a chuva impedir a colheita da cana. No período em que a unidade estiver operando com milho, à planta vai poder continuar cogerando energia com o bagaço estocado. Conforme Andrade, a fabricação adicional de eletricidade será de 40 mil Megawatts hora (MW-h), elevando o volume total da produção da SJC Bioenergia para 480.000 MW-h já na safra 2015/16.

Além da receita adicional com a produção de etanol de milho e eletricidade, a São Francisco vai vender o DDGS aos pecuaristas locais. A intenção é também estimular os produtores de grãos da região a introduzirem a atividade pecuária, com confinamento bovino, diz Andrade. Está ainda em estudo projeto para agregar ainda mais valor ao processamento de milho, com a fabricação de produtos voltados à alimentação humana, mas Andrade ainda não comenta o tema.

Tradicional grupo sucroalcooleiro de São Paulo, o USJ começou a planejar a expansão para Goiás em 2004. Das duas unidades programadas, somente a São Francisco ficou pronta num primeiro momento. A segunda só foi construída quando a Cargill entrou no negócio, em 2011.

Vice-presidente do conselho de administração da SJC Bioenergia, Maria Carolina Ometto Fontanari, diz que quando foi idealizado, o projeto goiano tinha clara a percepção de que havia espaço na região para cana e outras culturas. “E a Cargill trouxe a viabilidade de incluir o milho e otimizar o uso dos ativos”, afirmou Maria Carolina.

Na sua visão, agora a SJC Bioenergia está entrando na “maturidade”, operando praticamente com toda sua capacidade. “Estamos obtendo resultados como poucos ‘greenfields’ [usinas construídas a partir do zero] recentes”.

A Cargill é uma grande processadora de milho no mundo e, no Brasil, detém a maior fábrica fora dos Estados Unidos – Uberlândia (MG). A planta de Goiás, no entanto, vai superar a unidade mineira, voltada à produção de amidos e adoçantes.

 

 

Fonte: Valor Econômico

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