USP: Brasil precisa investir R$ 1,09 trilhão em infraestrutura de transportes até 2030

Do total de R$ 1,09 trilhão que precisa ser investido em infraestrutura de transportes no Brasil, até 2030, seria necessário aplicar R$ 607 bilhões em estradas/rodovias, R$ 364 bi em ferrovias, R$ 85 bi em portos e R$ 34 bi no serviço aeroportuário
Do total de R$ 1,09 trilhão que precisa ser investido em infraestrutura de transportes no Brasil, até 2030, seria necessário aplicar R$ 607 bilhões em estradas/rodovias, R$ 364 bi em ferrovias, R$ 85 bi em portos e R$ 34 bi no serviço aeroportuário, aponta estudo da USP

 

Um investimento de R$ 1,09 trilhão até o ano de 2030. Esta é a quantia que o Brasil deve aplicar em infraestrutura de transportes se quiser ter, algum dia, um sistema digno de países de primeiro mundo. O valor é resultado do estudo “Infraestrutura de transportes no Brasil: aspectos que sugerem a necessidade de investimento privado no País”, feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e que foi apresentado durante a 14ª Conferência Internacional da Latin American Real Estate Society (Lares), no Rio de Janeiro.

Para chegar à quantia de R$ 1,09 trilhão, Flávio Abdalla Lage, um dos responsáveis pela pesquisa, com a co-autoria dos professores da Escola Politécnica da USP Claudio Tavares de Alencar e João da Rocha Lima Júnior, considerou os cálculos do Fórum Internacional de Transporte (ITF, da sigla em inglês), que atestam: a média de investimentos anuais em infraestrutura de transportes, em 47 países no mundo, entre os anos de 2002 e 2013, foi de 1,17% do Produto Interno Bruto (PIB) de cada nação.

“O PIB utilizado em nossa pesquisa foi o de R$ 4,8 trilhões, em 2013 (segundo dado do IBGE). A porcentagem foi de 1,17% do PIB investido a cada ano, considerando sua evolução de acordo com as expectativas de mercado, divulgadas pelo Banco Central. Os valores não consideram a inflação do período, ou seja, estão em moedas do ano de 2014”, explica Lage.

Conforme o pesquisador, a quantia proposta pela pesquisa da Universidade de São Paulo envolve a implantação, pavimentação e manutenção de rodovias; melhorar e/ou erguer aeroportos; destravar o sistema logístico dos portos; e ainda ampliar as malhas hidroviárias e ferroviárias.

“Se quisermos ganhar mais competitividade frente a países desenvolvidos é vital o investimento adequado em infraestrutura de transportes.”

O valor sugerido por Lage se aproxima de outro estudo semelhante, publicado recentemente pela Confederação Nacional do Transporte. A entidade estipulou um investimento de R$ 987 bilhões para 2.045 projetos ou intervenções compatíveis com o desenvolvimento econômico e social atual e futuro do Brasil, que inclui a modernização e ampliação de aeroportos, ferrovias, hidrovias, portos, rodovias e terminais.

O “Plano CNT de Transporte e Logística 2014”, que está em sua quinta edição, ainda propõe que os investimentos prioritários sejam organizados por regiões: Eixo Amazônico, Eixo Litorâneo, Eixo Nordeste-Sul, Eixo Norte-Sul, entre outros. O estudo da Confederação também conta com projetos voltados para melhorias e ampliações do sistema de transporte público, dentro do espaço urbano das cidades e regiões metropolitanas.

De acordo com Lage, do total de R$ 1,09 trilhão que precisa ser investido até 2030, seria necessário aplicar R$ 607 bilhões em estradas/rodovias, R$ 364 bilhões em ferrovias, R$ 85 bilhões em portos e R$ 34 bilhões no serviço aeroportuário.

Sem estipular um prazo, a CNT sugere investimentos na ordem de R$ 448,8 bilhões em ferrovias, R$ 361,7 bilhões para rodovias, R$ 24,9 bilhões em aeroportos, R$ 61 bilhões em hidrovias, outros R$ 61 bilhões nos portos e 29,7 bilhões para terminais multimodais, que englobam os sistemas aéreo, aquaviário, ferroviário, rodoviário e terminais.

RANKING

Para justificar a importância de o Brasil investir na infraestrutura de transportes, a Confederação Nacional de Transportes cita o “Relatório de Competitividade Global para 2013-2014”, feito pelo Fórum Econômico Mundial com 148 países. Ele aponta que o País não vai muito bem neste quesito – antes estava em 48º e agora caiu para 56º lugar no índice global de competitividade. E um dos fatores que contribuiu para este resultado foi, segundo a CNT, exatamente o setor de transportes (114º lugar).

No que diz respeito à qualidade das rodovias, o sistema brasileiro amarga uma 120ª colocação. Se considerar a atual situação da zona portuária, o desempenho é ainda pior: 131º lugar. Os aeroportos do País estão em 123º e as ferrovias em 103º. Em relação aos 19 países da América Latina avaliados pelo Fórum, a qualidade geral da infraestrutura do Brasil está em 13º lugar no ranking de competitividade.

A falta de investimentos no setor de transportes no Brasil pode ser comparada ao que é aplicado pelos Estados Unidos, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Enquanto os norte-americanos investem 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) neste segmento, o Brasil aplica apenas 0,6%. E a precariedade do sistema nacional de infraestrutura reflete naquilo que o País acaba tendo de gastar a mais em relação aos custos logísticos: 6,7% do PIB, sendo que os EUA gastam cerca de 4%.

SETOR PRIVADO

Mesmo R$ 1,09 trilhão sendo aparentemente alto para a realidade brasileira, mas não impossível, Lage afirma que a quantia não representa, ainda, o ideal.

“Logicamente que o investimento é maior do que o proposto para o período. Por muitos anos, não se investiu adequadamente na infraestrutura de transportes no Brasil e recuperar o tempo perdido em 16 anos é inviável. Quando apontamos R$ 1,09 trilhão, a quantia está dentro de um macro-planejamento que identificamos como viável de se realizar no País. Obviamente será necessário o interesse por parte do poder público e parcerias com o setor privado”, disse o pesquisador.

Em sua opinião, é necessário, sim, firmar parcerias. “O poder público possui orçamento e capacidade de investimentos limitados, dificilmente conseguirá implementar todas as intervenções necessárias. Para isso é importante  para o Governo fomentar  parcerias com o investidor privado a fim suportar a lacuna que vier  a ser deixada pelo poder público.”

 

Por equipe SNA/RJ

 

 

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