A desvalorização do real frente ao dólar prejudicou o setor sucroalcooleiro no Brasil em 2015, ao contrário de outros segmentos agropecuários do País. A avaliação é do presidente do Fórum Nacional Sucroenergético (FNS), André Luiz Rocha, em entrevista exclusiva à equipe SNA/RJ.
Para ele, a constante variação do câmbio foi ruim: “Primeiro, por causa do grande endividamento em dólar do setor; segundo, como o Brasil detém 50% do mercado de açúcar, à medida que o real se desvalorizava, o mercado ajustava o preço em reais”.
Prova disto, conforme Rocha, “é que tivemos uma das piores cotações de preços de açúcar na bolsa de Nova York, no ano passado”. “Só tivemos um leve aumento, quando o mercado percebeu a diminuição dos estoques internacionais.”
Mesmo assim, destaca alguns pontos positivos no ano passado, que favoreceram o setor sucroalcooleiro: a elevação da mistura do álcool anidro na gasolina, em todo o País, de 25% para 27%; o retorno da taxa de Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide); e o aumento temporário do PIS/Cofins (Programa de Integração Social/Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), que trouxe maior competitividade ao etanol; além dos leilões de energia para biomassa.
“Alguns Estados aumentaram as alíquotas de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) da gasolina para 30% (o que favoreceu o abastecimento de veículos com etanol): Paraná era 29% e Bahia, 27 %. O Estado de Minas Gerais, além de aumentar a alíquota de gasolina de 27% para 29%, diminuiu a de etanol de 19% para 15%”, destaca o presidente do FNS.
Para Rocha, 2015 também foi marcado por outra medida positiva, que favoreceu o setor sucroalcooleiro nacional, além dos pontos citados anteriormente: o crescimento do mercado de etanol em virtude do aumento de preço do litro da gasolina, aplicado pela Petrobras, após alguns anos sem reajuste deste combustível.
“Isto fez com que houvesse um expressivo aumento da participação do etanol hidratado no mercado de ‘Ciclo de Otto’ – de 25% para 38%.” O termo citado por ele é definido como um ciclo termodinâmico usado nos principais modelos de motores de combustão interna.
PONTOS NEGATIVOS
De acordo com o presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, o setor também encontrou diversos entraves para seu crescimento, no ano passado, como a elevação dos custos produtivos, impulsionada pela alta do diesel, dos preços dos fertilizantes e dos gastos com mão de obra.
“Também registramos um aumento dos custos financeiros, que vieram com a alta da Selic (taxa de juros básicos) e do dólar. Vale destacar que 42% da dívida do segmento é na moeda norte-americana. Ainda enfrentamos restrição de crédito, fazendo com que o preço médio da safra, até o mês de setembro, fosse menor em 5% em relação à safra anterior. Fora a retração da economia brasileira, que colaborou para a queda nas vendas de veículos novos”.
RETORNO DA CIDE
Na avaliação de Rocha, o retorno da Cide, embora seja um tema polêmico, deveria girar em torno de “valores que poderiam valorizar as externalidades positivas do etanol, que é menos poluente”. Para ele, com a volta da cobrança, haveria geração de empregos e de renda, principalmente no interior do País; elevação da balança comercial; existência de uma indústria de base 100% nacional; geração distribuída de energia com menor custo de transmissão; além de menos perdas do setor sucroalcooleiro.
“Também teríamos maior valor de referência no preço da energia produzida por meio da biomassa, possibilitando maior oferta de energia, que levaria o País a ser menos dependente de importação de energia e de térmicas movidas a diesel e óleo combustível, que são mais poluentes e mais caras.”
Ele ainda defende “a liberação dos recursos de Warrantagem no início da safra”. O termo se refere à linha de crédito aprovada pelo governo federal, para a formação de estoques por empresas produtoras e comercializadoras de etanol.
PERSPECTIVAS PARA 2016
Para 2016, Rocha espera “um aumento da safra de cana-de-açúcar e uma safra com maior participação de etanol”. “Também aguardamos por melhorias do preço do açúcar no mercado internacional, com a queda dos estoques. Vale destacar, enfim, que grande parte do setor ainda está em crise, principalmente por causa dos altos custos financeiros e da restrição de crédito.”
POLÍTICA
Presidente do Fórum Nacional Sucroenergético desde julho de 2013 e dos Sindicatos da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás e da Indústria de Fabricação de Açúcar da mesma região (Sifaeg/Sifaçúcar), André Luiz Rocha avalia como positiva a criação e a atuação da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético, comandada pelo deputado federal Sérgio Sousa (PMDB-PR).
“A Frente nos ajudou e muito na interlocução, principalmente com o Executivo, com grande apoio da já consolidada Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), presidida pelo deputado federal Marcos Montes (PSD-MG).”
Segundo Rocha, no ano passado, o setor conquistou uma participação mais ativa em diversas discussões no Congresso Nacional, na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e nos ministérios.
“Preciso destacar o grande apoio da ministra Kátia Abreu, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que muito ajudou em nossa interlocução com outros ministérios, fundamental para as nossas conquistas, papel que já vinha desempenhando em 2014, na CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária) e no Senado.”
Por equipe SNA/RJ