Projeto alerta para importância de polinizadores na produção de alimentos

Abelha da espécie Eulaema (Eulaema) meriana em flor da castanha-do-Brasil. A abelha é considerada um dos principais animais que atuam diretamente na polinização de 75% das variedades de cultivos para alimentação humana. Foto: Marcelo Cavalcante
Abelha da espécie Eulaema meriana em flor da castanha-do-Brasil. Ela é um dos principais animais que atuam direta e indiretamente na polinização de 75% da produção alimentar. Foto: Marcelo Cavalcante

Em todo o mundo está acontecendo uma perda sensível de polinizadores – aves, morcegos, besouros, borboletas, mariposas e principalmente abelhas -, que atuam de forma direta na polinização de 75% das variedades de cultivos para a alimentação humana. O fenômeno foi detectado nos últimos anos por várias instituições de pesquisa de diversos países que, juntas, vêm emitindo este alerta. Elas ainda têm cobrado medidas dos governos das nações mais afetadas pelo problema, que tem entre suas principais causas o uso indiscriminado de pesticidas e a adoção de monoculturas.

No Brasil, foi criado o projeto “Polinizadores do Brasil”, com o objetivo de conhecer melhor estes animais e a importância do processo de polinização no desenvolvimento da agricultura. Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), já realizou pesquisas e atividades de capacitação e conscientização nos últimos cinco anos.

O projeto concentra esforços em sete culturas importantes no Brasil – algodão, caju, canola, castanha, maçã, melão e tomate – e está inserido em uma iniciativa internacional da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, do inglês Global Environmental Facility) e que tem o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) como agência responsável pela execução.

Planos de manejo, publicações científicas, educativas e vídeos foram produzidos para produtores rurais e também para criadores de abelhas.

Segundo Ceres Belchior, analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente, “este projeto não foi uma iniciativa isolada, foi produto de uma mobilização internacional, que teve início na década de 1990, junto à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário”. “Essa mobilização representou uma tentativa de compreender e combater o declínio de polinizadores observado em vários países, desde a década de 1970.”

Na verdade, relembra o ano de 1998, quando foi realizado em São Paulo um workshop, que reuniu especialistas de 15 países, para estudar a formulação de um programa global de proteção e uso sustentável de polinizadores. O documento resultante desta reunião foi chamado de “Declaração de São Paulo sobre os Polinizadores”.

Essa declaração, submetida à CDB, foi aprovada na 5ª Conferência das Partes da CDB (COP5), realizada em Nairóbi em 2000, na sessão de diversidade agrícola. Naquela ocasião foi criada a Iniciativa Internacional para o Uso Sustentado e Conservação dos Polinizadores, também conhecida como “International Pollinator Initiative” (IPI).

Uma vez aprovada a IPI, explica Ceres, o governo brasileiro, por meio do MMA, manteve contato estreito com a FAO, auxiliando no planejamento e na execução do projeto FAO/UNEP/GEF “Conservação e Manejo de Polinizadores para a Agricultura Sustentável, através da Abordagem Ecossistêmica”.

AGENDA GOVERNAMENTAL

“O objetivo inicial do governo brasileiro foi colocar os polinizadores na agenda governamental e obter fundos para dar suporte a uma rede de pesquisa para estudar seu papel em várias culturas agrícolas. Em 2004 foi criada a Iniciativa Brasileira de Polinizadores e foram realizadas diversas ações”, relata o analista ambiental.

Ele ainda esclarece que o projeto “Polinizadores do Brasil” é o apelido no País para o gigantesco nome do projeto FAO/UNEP/GEF, implementado de 2010 a 2015 em sete países: África do Sul, Brasil, Índia, Gana, Nepal, Paquistão e Quênia.

Aprovado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente em junho de 2008, teve início em março de 2010, com duração de cinco anos e um orçamento de mais de US$ 20 milhões (R$ 62,8 milhões) para o projeto global, desde a fase de elaboração até a implantação total, dos quais US$ 3,5 milhões foram destinados ao Brasil.

A organização “Bee or not to be”, que tem em seus objetivos pautar a apicultura e a meliponicultura como atividades essenciais da cadeia produtiva agrícola, estabeleceu a parceria com o Polinizadores do Brasil para comunicar e compartilhar estes importantes estudos, que não só comprovam os benefícios dos polinizadores, mas orienta os produtores rurais sobre as técnicas de manejo e preservação de polinizadores em diversas culturas agrícolas.

MENSAGEM

O analista ambiental do MME reforça que “este projeto contribuiu para divulgar a importância do papel dos polinizadores na produção de alimentos e a necessidade de promover a conservação e o uso sustentável desses animais (que podem ser aves, morcegos, mamíferos não voadores, répteis, moscas, besouros, borboletas, mariposas, vespas e, principalmente, abelhas)”.

“Antes, a discussão do tema ‘polinização e polinizadores’ ficava restrita à comunidade acadêmica especialista no assunto”, ressalta Ceres.

Ele ainda destaca que “dentre todas as plantas com flores (angiospermas) conhecidas, 87,5% das espécies dependem, em algum momento, de animais polinizadores. Sem polinizadores muitas plantas não se reproduzem e tampouco produzem sementes, e as populações que delas dependem também declinam”.

“Em torno de 75% da alimentação humana depende direta ou indiretamente de plantas polinizadas ou beneficiadas pela polinização animal. Então, se não nos mobilizarmos para combater as causas do declínio dos polinizadores, nossa segurança alimentar e nutricional ficará comprometida.”

Coordenadora do projeto “Polinizadores do Brasil” na Funbio, Vanina Antunes, ressalta que esta é a maior iniciativa já feita no Brasil sobre a relação entre a polinização e a produção de alimentos. Foto: Arquivo Funbio
Coordenadora do projeto “Polinizadores do Brasil” no Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Vanina Antunes, ressalta que esta é a maior iniciativa já feita no Brasil sobre a relação entre a polinização e a produção de alimentos. Foto: Arquivo Funbio

BOAS PRÁTICAS

Coordenadora do projeto Polinizadores do Brasil no Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Vanina Antunes ressalta que “esta é a maior iniciativa já feita no Brasil sobre a relação entre a polinização e a produção de alimentos”.

“Os estudos mostram que espécies de polinizadores estão presentes e têm protagonismo na polinização de sete culturas economicamente importantes no Brasil (algodão, caju, canola, castanha-do-Brasil, maçã, melão e tomate) e indicam objetivamente as vantagens da polinização para os produtores: maior produtividade e alta qualidade, que proporcionam maior renda”, destaca Vanina.

“A partir do trabalho foram também sistematizadas e disponibilizadas, na internet, listas de boas práticas para intensificar a presença e a ação de polinizadores. Os resultados representam um valioso conhecimento, que poderá ser acessado por produtores de todas as regiões”, relata a representante do Funbio.

Por equipe SNA/SP

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