Os produtores de leite estão atravessando um período pouco animador nos últimos meses, situação que não deve mudar muito no curto prazo. De acordo com pesquisas do Cepea/ USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço do leite entregue em agosto e recebido pelo produtor em setembro registrou a quarta queda consecutiva no campo, com recuo de R$ 0,07/litro (6,16%) frente a agosto.
A pesquisadora do Cepea Natália Grigol explica que o principal motivo para o recuo nos preços está na retração do consumo de lácteos, em função do menor poder de compra do consumidor brasileiro. Dessa forma, os preços dos derivados têm diminuído significativamente, em uma tentativa de manter o fluxo de negociações.
“Com isso, já estamos observando alguns produtores aumentando seus estoques. Também estão sendo renegociados prazos de pagamento. Já estamos vendo o varejo pedir 40 dias para o pagamento, quando a média era de 30 dias. Toda a cadeia está muito pressionada”, narra ela.
O valor do leite UHT (longa vida), por exemplo, lácteo mais consumido no País, registrou queda de 7,8% em termos reais, entre agosto e setembro, no mercado atacadista do estado de São Paulo.
A formação de estoques também esteve atrelada à maior captação de leite. De acordo com o Índice de Captação de Leite (ICAP-L), de julho para agosto, a captação das indústrias se elevou 4,9% na “média Brasil”. No comparativo entre a média de janeiro a agosto de 2016 com igual período deste ano, o ICAP-L na “média Brasil” registou alta de 14,9%.
“Tivemos a combinação de queda no consumo com aumento da captação. O produtor terá de decidir agora se vai colocar o pé no freio e de que forma. Estamos em um período decisivo para os investimentos. Estamos começando o período de safra do leite nas regiões Centro-oeste e Sudeste, o que significa que a oferta será ainda maior. É justamente agora que o produtor precisa decidir o quanto vai investir, se vai fazer reforma de pasto, se vai preferir abater vacas… Produzir leite já é uma tarefa que exige muita estratégia e, com o atual cenário, esta decisão se torna ainda mais cirúrgica”, comenta Natália Grigol.
Somada à reforma das pastagens, a recente valorização do milho, atrelada ao aumento dos embarques do cereal, e o atraso do plantio da próxima safra (em função da falta de chuvas) indicam a possibilidade de continuidade de aumento nos preços do cereal e da ração. Assim, alguns produtores planejam aumentar as áreas de silagem para diminuir os custos com alimentação no ano que vem.
“Infelizmente ainda não é possível prever um cenário de recuperação para o curto prazo, tendo em vista que a demanda precisa reagir em um momento em que vamos entrar em safra e a oferta vai aumentar. A questão agora é observar a amplitude desta queda nos preços. Se ela diminuirá. No último levantamento a queda no UHT foi de R$ 0,08. É importante lembrar que a cadeia dos produtos lácteos já vem sofrendo há anos com a queda de preços”, avalia Natália Grihol.
Equipe SNA/Rio