Pesquisa agropecuária deve associar sustentabilidade, diz presidente da Embrapa

"A sustentabilidade é móvel, exige a construção de uma jornada, de uma trajetória, e nossa agricultura já incorporou esta visão”, afirma o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Foto: Anna Oliveira/FGV
“A sustentabilidade é móvel, exige a construção de uma jornada, de uma trajetória, e nossa agricultura já incorporou esta visão”, afirma o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Foto: Anna Oliveira/FGV

Focar na prosperidade econômica nacional, com melhorias socioambientais, unindo programas gerenciais e de pesquisas científicas à sustentabilidade no campo, tornando-os conceitos protagonistas e complementares. É o que defende Maurício Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), quanto ao futuro das práticas agrícolas sustentáveis no País.

“Sustentabilidade é um valor considerado essencial, um conceito que tem evoluído nos ultimos anos. Para se ter uma ideia, em 1990 menos de 30 empresas emitiam relatórios sobre sustentabilidade. Em 2014, foram 7 mil. Isto demonstra que o tema  exige a construção de uma atenta trajetória e nossa agricultura já incorporou esta visão”, afirmou Lopes, durante o “Seminário Internacional de Sustentabilidade: Desafios e Oportunidades”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.

Ele destacou que, há 40 anos, o Brasil não tinha o cenário de segurança alimentar como hoje, principalmente porque era importador de alimentos. “Atualmente, nosso País é provedor de alimentos para todo o mundo. Mas o que podemos esperar da próxima trajetória, nas décadas seguintes?”, questionou.

Durante sua palestra, Lopes lembrou que, até os anos 70, o Brasil tinha baixa produção e produtividade no campo; o cultivo agrícola era mais concentrado nas regiões Sul e Sudeste; havia constantes crises de abastecimento e pobreza rural; falta de conhecimento em agricultura tropical, e também a falta de uma política de promoção da inovação agropecuária.

“Para mudar este perfil, fomos obrigados a construir e a desenvolver nossas próprias soluções para o setor agrícola nacional”, destacou o presidente da Embrapa, acrescentando: “A agricultura brasileira tem uma trajetória recente, que veio de uma dependência, passando a ser mais competitiva, graças às inovações de pesquisas e de tecnologias, e à intensificação de sua produção no campo”.

RANKING DA CIÊNCIA

Para que a agricultura crescesse, Lopes citou a importância da Rede de Pesquisa e Inovação formada pela Embrapa, universidades agrárias e demais instituições representantes do setor agropecuário.

“Em 1993, o Brasil era 24º em produção científica; saltou para 17º em 2003; e para 13º, dez anos mais tarde. Neste contexto, o setor agrícola aparece em terceiro lugar, com 13.561 estudos, atrás somente das ciências vegetais e animais, em segundo, e da medicina clínica, em primeiro.” Este êxito do setor do agronegócio no Brasil se deve à “conjugação de esforços entre os setores público e privado”.

“Para haver integração e sinergia, houve e ainda há a necessidade de unir governos, pesquisadores, produtores rurais, empresas, cooperativas, municípios e Estados, além das variadas cadeias de cultivo e produção rural.”

Em sua visão, o Brasil já alcançou a segurança alimentar, situação que outras nações ainda estão em busca. “Os preços dos nossos alimentos caíram pela metade, levando em conta os tempos em que a economia brasileira tinha uma inflação altíssima”, comentou o presidente da Embrapa, também destacando que, em termos de saldo da balança comercial, o País saltou do sétimo lugar, em 1990, para primeiro, em 2012.

MEGATENDÊNCIAS

Lopes reforçou que a “agricultura nacional vem sendo fortalecida pela incorporação de práticas sustentáveis, e por impactos mensuráveis em segurança alimentar, em capacidade produtiva e em exportação de alimentos”.

Para o setor agropecuário manter seu ritmo de crescimento, ele acredita que a produção brasileira deve continuar observando três megatendências, que “incluem clima, urbanização e tecnologia, considerando uma mudança de comportamento da sociedade global, com uma população mais urbana, mais idosa, mais educada, mais exigente e que, por sua vez, vai colocar mais pressão sobre a agricultura, no que diz respeito à produção de alimentos”.

“Conforme as classes socioeconômicas crescem em relação à renda, os consumidores vão demandar por proteínas mais nobres, além de frutas, verduras e legumes com mais qualidade.”

De acordo com o presidente da Embrapa, “outra tendência mundial é pressionar o Brasil por mais produção alimentar, principalmente por parte do continente asiático, cuja demanda continua ascendente, mas a agricultura local não tem como crescer”.

Para conseguir acompanhar tais exigências, portanto, é necessário “pensar em uma produção cada vez mais automatizada. Isto é inevitável”, comentou. “Precisamos, diante deste cenário nacional e internacional, intensificar a produção nacional de forma sustentável, elevando nossa produtividade, especialmente em qualidade, com tecnologias de baixo impacto, reduzindo riscos e poupando recursos. Tudo isto deve estar associado à elevação da renda do produtor rural e à inclusão produtiva.”

Por equipe SNA/RJ

 

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