Elaborar políticas para que o Brasil possa expandir acordos comerciais relacionados aos produtos agropecuários, principalmente, para mercados cuja dotação de água é baixa. Foi com esse objetivo que a economista formada Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) Jaquelini Gisele Gerlain realizou um estudo sobre volume e o valor da água virtual – água embutida no processo produtivo de qualquer produto –, presente na exportação de soja da região de Matopiba (formada pelos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
“Por ser um dos grandes exportadores de commodities agrícolas, o Brasil é um dos maiores exportadores de água virtual do mundo, juntamente com os EUA”, diz ela, que destaca o benefício do estudo para agricultores e pecuaristas, “que podem investir em melhorias na produção, uma vez que o aumento no número de acordos comerciais eleva a demanda por produtos agropecuários”.
De acordo com Jaquelini, a água virtual está embutida no processo produtivo agrícola, industrial ou pecuário. Não necessariamente é um tipo de água que o produtor possa utilizar e ter um benefício. “Água virtual é um termo alternativo para pegada hídrica e é melhor utilizado no contexto internacional. A pegada hídrica de um produto diz respeito ao tipo de água utilizada em seu processo produtivo”, explica.
No estudo, a pesquisadora utilizou uma base de dados que apresenta a quantificação para três tipos de água, verde (água da chuva), azul (água superficial e subterrânea) e cinza (água limpa utilizada para diluir a água poluída até que a esta fique dentro de níveis aceitáveis), isso para o setor agrícola. “Para o setor pecuário, há três tipos de água para os seguintes sistemas de produção: pastagem, industrial (confinamento), mista (entre pastagem e industrial) e a média ponderada.”
Segundo a economista, para ter um benefício maior, o produtor rural deveria utilizar o conceito de pegada hídrica, por exemplo, quando for escolher que cultura vai plantar e onde vai fazer isso. “No caso de um produtor de soja, é melhor ele plantar onde haja períodos regulares de chuva, para que a cultura se desenvolva utilizando apenas água verde, o que evita gastos com sistema de irrigação, outorgado para captação de água e possíveis cobranças por essa captação”, esclarece.
EVOLUÇÃO
De acordo com o estudo, que foi apresentado no 23º Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento e 22º Encontro Regional de Economia, no início de julho deste ano, em Fortaleza (CE), em 2002, a área cultivada com soja no Matopiba representava pouco mais de 1 milhão de hectares. Em 2015, este número chegou a quase 4 milhões, gerando um aumento de 198,47% na área plantada. Quanto à produção da soja, saltou de pouco mais de 2 milhões de toneladas para mais de 10 milhões, no mesmo período, representando um aumento de 355,22%.
“Como resultado dessa evolução, houve maior exportação do produto e, consequentemente, de água virtual contida na soja. O crescimento foi de 1.502 %, em toneladas e de US$ 3.173%, em receita, quando comparados aos períodos final e inicial”, diz Jaquelini.
De acordo com a economista, no período analisado, foram exportados cerca de 73,2 bilhões de m3 de água, o equivalente a 28,2 milhões de piscinas olímpicas cheias. Quanto à cobrança pelos recursos hídricos, o estudo identificou o valor total de R$ 75,7 milhões, implicitamente exportados com a água virtual presente na soja em Matopiba. “Uma vez a cultura plantada, colhida e exportada, já está sendo exportada água virtual”, arremata.
Por Equipe SNA/SP