Oferta do biocombustível pode crescer 10% com uso de milho

Se fosse direcionado à fabricação de etanol, o superávit de milho no Brasil neste ano seria suficiente para produzir 2,6 bilhões de litros, ou 10% da produção nacional do biocombustível derivado da cana. Os cálculos, feitos pela consultoria americana FCStone, trazem consigo uma certeza: é economicamente viável produzir etanol de milho em algumas regiões no Brasil.

A maior taxa de retorno é projetada para Mato Grosso, afirma o consultor Thadeu Silva, um dos autores do estudo. Maior produtor nacional de milho, o Estado tem atualmente o milho com os preços mais baixos do país e é onde os combustíveis em geral se situam nos patamares mais elevados.

Para erguer a partir do zero uma fábrica de etanol de milho no Cerrado mato-grossense seriam necessários R$ 241 milhões, incluindo a infraestrutura de armazenagem O retorno é estimado em 28% ao ano. Isso significa que em três anos e meio o empresário poderia obter o retorno do capital. O valor do investimento recua para entre R$ 120 milhões e R$ 150 milhões se o projeto for apenas de construção de uma planta industrial anexa a uma esmagadora de soja, já que ambas as unidades podem compartilhar a infraestrutura de logística e armazenagem.

O retorno calculado para Mato Grosso considera a construção de uma usina em Lucas do Rio Verde, ao norte do Estado, com um custo de aquisição do milho a R$ 14,70 a saca. Atualmente, o grão é negociado nessa região por R$ 14,50 a saca, mas em 2012 chegou ao pico de R$ 22,80. O especialista afirma que a premissa de um milho a R$ 14,70 foi definida com base em uma média das cotações nos últimos anos, mas que ainda que o preço do grão voltasse ao nível recorde de R$ 22,80 o projeto seria rentável. “Mas a uma taxa de retorno menor, de 3,5% ao ano”.

Diferentemente das usinas de etanol de cana, que convertem o bagaço da própria matéria-prima em energia, o projeto com milho demanda outra fonte para operar. Assim, a taxa de retorno de 28% ao ano embute um gasto com energia de R$ 12,50 (por MBTU), considerando-se os custos de uso da lenha como energia. “Tanto em Mato Grosso como em Mato Grosso do Sul, o custo energético teria que triplicar para tornar o projeto inviável”, compara o consultor.

Não há diferenças entre o etanol de cana e o de milho, explica Silva. O curioso, afirma, é que por conta de características específicas da matéria-prima o processamento de milho resulta primeiramente no etanol anidro (detentor de uma menor concentração de água na comparação com o hidratado).

Para fabricar o etanol anidro, a usina de cana precisa instalar equipamentos específicos para extrair água do bicombustível. “Se o dono da usina de etanol de milho optar em algum momento por transformar anidro em hidratado, o processo de conversão é relativamente simples. Se dá basicamente com adição de água”, detalha Silva.

No fim das contas, o etanol anidro de milho em Mato Grosso sairia a um custo de R$ 1,023 por litro, segundo a FCStone, e com preço médio de venda pela usina a R$ 1,36, já livre de ICMS.

Mato Grosso do Sul é o segundo Estado com maior viabilidade econômica na implantação de uma usina de etanol de milho, segundo a FCStone. A taxa de retorno estimada é de 26,1%, com a saca de milho a R$ 22,44. Em Minas Gerais, a consultoria projeta retorno de 18,8% ao ano e em Goiás, de 5,4%. “Em Goiás, o preço do milho é alto [R$ 23,7 a saca] e o preço de venda do etanol pela usina é mais baixo [R$ 1,44 por litro]. Já há muitas destilarias nessa região”, diz Silva.

Para todos os Estados para os quais foi avaliada a viabilidade desse tipo de projeto, o custo de energia considerado foi de R$ 12,50 por MBTU. O risco para Minas Gerais e Goiás é maior, diz Silva, pois se essa despesa subir 50% torna o projeto inviável.

Todas as projeções da FCStone consideram que o investimento será feito com 60% de capital próprio e 40% com recursos de terceiros, esta última parte a uma taxa de juros nominal de 6,5% ao ano. A necessidade anual de capital de giro para operar a planta é de R$ 55 milhões, a uma taxa de 9% ao ano. Os cálculos consideram um câmbio de R$ 2,40.

Atualmente, dois projetos de etanol de milho estão em operação em Mato Grosso – Usimat e Libra, que são usinas de cana que agregaram uma planta para processar milho. A Fiagril, uma esmagadora de soja de capital nacional, também está investindo para colocar em operação a partir de 2015, em Lucas do Rio Verde (MT), uma usina de etanol feito exclusivamente a partir de milho.

No Brasil, a produção de etanol de milho ainda é muito pequena se comparada à de etanol de cana. Na safra 2013/14, o país (basicamente Mato Grosso) fabricou 11,27 milhões de litros (3,93 milhões de anidro e 7,34 milhões de hidratado) de etanol feito a partir do grão, ou 0,04% da produção nacional (26 bilhões de litros).

Fonte: Valor Econômico

 

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp