‘Liga do Araguaia’ quer tornar região de MT um polo de pecuária sustentável

“A Liga do Araguaia quer ser um instrumento para estar à frente de todos os trabalhos que envolvam a agropecuária e que exijam do setor uma atuação diferenciada”, diz Caio Penido, diretor do Projeto Roncador e idealizador da Liga do Araguaia. Foto: Divulgação
“A Liga do Araguaia quer ser um instrumento para estar à frente de todos os trabalhos que envolvam a agropecuária e que exijam do setor uma atuação diferenciada”, diz Caio Penido, diretor do Projeto Roncador e idealizador da Liga do Araguaia. Foto: Divulgação

Criada em 2015 com o objetivo de estimular e replicar práticas de intensificação sustentável na pecuária de cria da região a partir da difusão e adoção de técnicas modernas, a Liga de Desenvolvimento Regional do Araguaia – Liga do Araguaia, é parte de um amplo programa de desenvolvimento sustentável no Vale do Araguaia, em Mato Grosso.

Segundo Caio Penido, diretor de Novos Negócios e Sustentabilidade do Grupo Roncador e idealizador do projeto, a região poderá cumprir o papel de centro difusor de alta tecnologia na pecuária de cria, possibilitando a realização de uma pecuária sustentável e integrada à toda cadeia produtiva utilizando boas práticas e produzindo uma carne diferenciada.

De acordo com Penido, para ser um fornecedor de bezerro de qualidade e aderir ao projeto é necessário se dispor a atender uma série de requisitos de boas práticas, dentre os quais elaborar o Cadastro Ambiental Rural (CAR), não ter sobreposição em comunidades de conservação, nem com terras indígenas, não ter realizado desmatamento ilegal após 2008, não constar na lista de terras embargadas nem na lista de trabalho escravo.

Segundo ele, desde a década de 1980, o mundo está se movimentando em busca de produtos e processos resultantes de práticas sustentáveis. Visando alcançar o compromisso com as questões ambientais e sociais, surgiu a Liga do Araguaia, idealizada por Penido, motivado a trazer soluções e desenvolvimento sustentável para a agropecuária na região, por meio de uma gestão otimizada, que reúna os quatro pilares essenciais de eficiência para o setor: gestão, financeira, de sustentabilidade, de produtividade e de qualidade.

“A Liga do Araguaia quer ser um instrumento para estar à frente de todos os trabalhos que envolvam a agropecuária e que exijam do setor uma atuação diferenciada”, diz Penido, acrescentando que o Dia de Campo Fazenda Água Viva, realizado em Cocalinho, MT, pelo Grupo Roncador, em 15 de abril, marcou o início das atividades da Liga.

 

TECNOLOGIAS

“Com as novas exigências do mercado, o surgimento de novas tecnologias e as necessidades de vencer as dificuldades do setor, o produtor precisa entender a importância de estar envolvido com práticas sustentáveis e efetivas, dando, assim, suporte, apoio, recursos e formas de atuação que funcionem e que atendem às exigências desses mercados”, comenta.

“Precisamos investir em tecnologia; cuidar dos recursos naturais; dar a devida importância à biodiversidade; ter uma boa dinâmica dentro da fazenda – incluindo um modelo de gestão adequado, com boas assessorias; realizar um diagnóstico assertivo dos problemas que envolvem a atividade; criar um padrão de carne com alta maciez; fazer com que o consumidor reconheça o valor da qualidade desse trabalho e produtos; e promover a união do setor de forma a pensar na cadeia como todo”, elenca os pontos principais que norteiam as ações da Liga do Araguaia.

O projeto prevê o uso intensivo de tecnologias como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF), rotação de pastagem, adubação, entre outras. “Trabalhando com o pasto rotacionado, com divisão de piquetes menores, o pecuarista vai soltar até 100 bois em um piquete de 10 hectares, por um período de cinco dias. Dessa forma, é possível aproveitar melhor o capim que já foi plantado e, assim, estimular a rotatividade de vários piquetes, permitindo condições ideais para o manejo e nutrição do gado”, ensina Penido.

“Nossa proposta é criar, por meio da Liga do Araguaia, um padrão de carne macia, precoce (abate em 24 meses), desenvolvendo sustentabilidade e trazendo retorno financeiro para o produtor, o que resultará em maior acesso ao mercado de carne bovina fora do Brasil e dentro do país também, graças ao padrão de qualidade”, preconiza.

 

VISÃO DE NEGÓCIO

De acordo com o engenheiro agrônomo José Carlos Pedreira de Freitas, consultor em Sustentabilidade do Grupo Roncador, o projeto Liga do Araguaia procura atender, simultaneamente, duas importantes dimensões para a sustentabilidade do processo produtivo.

“É importante destacar o fato de que o Grupo Roncador, a partir do momento em que percebe que as dimensões social e ambiental podem ser olhadas de uma maneira estratégica, as incorpora em sua estratégia de negócio e usa a experiência do Vale do Araguaia para aplicar esse conceito e para se diferenciar”, explica.

Pedreira acrescenta que a Liga do Araguaia faz diferença, “porque é um case concreto de um grupo econômico em determinado bioma que, percebendo as dimensões social e ambiental, em uma perspectiva de vantagem competitiva, não olha estes atributos como um passivo e sim como um ativo capaz de gerar valor e diferenciação, ao tempo em que contribui para a perenidade de seus negócios”.

 

o engenheiro agrônomo José Carlos Pedreira de Freitas, consultor em Sustentabilidade do Grupo Roncador, o projeto Liga do Araguaia procura atender, simultaneamente, duas importantes dimensões para a sustentabilidade do processo produtivo. Foto: Divulgação
O engenheiro agrônomo José Carlos Pedreira de Freitas, consultor em Sustentabilidade do Grupo Roncador, destaca que o projeto “Liga do Araguaia” procura atender, simultaneamente, a duas importantes dimensões para a sustentabilidade do processo produtivo. Foto: Divulgação

APRENDIZADO

De acordo com Penido, com o apoio de especialistas e atividades de capacitação, os pecuaristas participantes do projeto aprendem como cumprir os critérios de sustentabilidade, sobre suplementação e nutrição animal, confinamento, rotação de pasto (divisão de piquetes para melhor aproveitamento da pastagem e melhora da condição nutricional do gado), responsabilidade ambiental, boas práticas, formas de financiamento e recebem orientação sobre como se regularizar.

“Um dos maiores benefícios do programa é que, a partir desses atributos e modelo de gestão, o mercado reconhecerá o compromisso, investimento de tempo e recursos para padronizar essa carne e torná-la macia e de alta qualidade atendendo, assim, os mais exigentes critérios que o mundo solicita, o que influenciará nos preços”, pontua. “Ou seja, o consumidor entenderá que precisará pagar mais por isso”.

Conforme explica, o projeto também visa esclarecer aos pecuaristas sobre regularização de terras, recuperação de APP, entre outros problemas. “A Liga do Araguaia tem dado um grande apoio aos pecuaristas que desejam melhorar e maximizar o trabalho”, destaca e acrescenta que, através dessa atuação, é possível haver um envolvimento com a rastreabilidade, desde o bezerro, de forma que todas as exigências do mercado sejam cumpridas em termos de alta qualidade.

Penido afirma que o trabalho da Liga do Araguaia envolve parcerias com organizações nacionais e internacionais e fazendas que se apoiam e que trabalham em conjunto para assegurar a rastreabilidade de toda uma cadeia de suprimentos; a realização de dias de campo para a troca de experiências e para replicar o trabalho desenvolvido com o objetivo de tornar as fazendas sustentáveis; a diferenciação e a agregação de valor, por intermédio de boas práticas adotadas, buscando maiores vantagens competitivas; bem como o fornecimento de uma cadeia de produtos e serviços de alto valor e qualidade.

 

CARBONO

Outro projeto que integra a Liga do Araguaia é o Projeto Carbono Araguaia, uma iniciativa do Grupo Roncador em parceria com a Dow AgroSciences. O objetivo é promover, como lembra Pedreira, “o monitoramento da redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GHG, na sigla em inglês) resultante da adoção de práticas de intensificação sustentável pelos criadores da região do Vale do Araguaia (MT) na recuperação de pastagens degradadas, regularização ambiental e manejo racional”.

“A companhia entra com o conhecimento em diagnóstico, controle de plantas invasoras e recuperação de pastagens, além de assistência técnica e operacional”, informa Roberto Risolia, líder de Sustentabilidade da Dow AgroSciences. “A proposta do projeto Carbono Araguaia é, por meio do aumento da produtividade, mitigar as emissões de carbono de cerca de 60 mil hectares de pastagens em fazendas de pecuária da região, dos quais, aproximadamente mil hectares de pastagens nas propriedades da Agropecuária Água Viva, em Cocalinho (MT). Até o momento, já atingimos 70 mil hectares”, comemora Risolia.

Pedreira informa que os inventários de emissão de GHG estão sendo realizados através da ferramenta do GHG Protocol Agrícola, metodologia pioneira desenvolvida pelo World Resource Institute (WRI), que utiliza fatores de emissão levantados pela Embrapa nas condições da pecuária tropical.

Os benefícios climáticos apurados com as medidas de redução adotadas no Projeto Carbono Araguaia serão disponibilizados e vinculados ao programa de mitigação de pegada de carbono dos Jogos Olímpicos Rio 2016, liderado pela Dow.

Ainda no âmbito da Liga do Araguaia está sendo assinado com a TNC, The Nature Conservancy, um convênio para a implantação de projeto de apoio à adequação ambiental e produtiva da pecuária na região.  “A Liga tem o intuito de fomentar essa intensificação sustentável nas áreas que já estão desmatadas e essa é a grande oportunidade que nós temos, hoje, pois o Brasil já está com uma área desmatada grande com produtividade baixa, então, o desafio é tornar essas áreas produtivas e, ao mesmo tempo, reduzir essa pressão sobre novos desmatamentos”, enfatiza Penido.

 

Por equipe SNA/SP

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