Intolerância à lactose: cadeia leiteira precisa se adaptar a novos mercados

Tratamento do leite zero lactose é feito dentro das agroindústrias, a exemplo do recém-lançado Leite Barra Mansa Zero Lactores, produzido no Rio. Foto: Divulgação Barra Mansa
Tratamento do leite zero lactose é feito dentro das agroindústrias, a exemplo do recém-lançado Leite Barra Mansa Zero Lactose, produzido no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação Barra Mansa

Praticamente três entre quatro pessoas em todo o mundo, o que significa algo em torno de 75%, sofrem algum tipo de intolerância ao leite e seus derivados, conforme estimativas globais. No Brasil, uma pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp) aponta que, pelo menos, 40% da população sentem algum tipo de desconforto ou problema digestivo ao ingerir produtos lácteos em geral. Diante do cenário, produtores rurais e agroindústrias voltadas à cadeia leiteira precisam se adaptar à realidade dos novos mercados consumidores.

Publicado em outubro de 2016, o Boletim de Tendências “Leite: Teor de lactose em produtos lácteos – Potencializando mudanças no setor”, elaborado pelo Sistema de Inteligência Setorial do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SIS/Sebrae), recomenda que os pecuaristas de leite acompanhem as mudanças no comportamento das pessoas, investindo, inclusive, na produção de alimentos sem lactose.

“Com o aumento no número de intolerantes em todo o planeta, é importante que os empreendedores conheçam essa tendência dos alimentos zero lactose, se capacitem e busquem informações detalhadas sobre o assunto”, reforça Victor Bueno, analista de informação do SIS/Sebrae, em entrevista à equipe SNA/RJ.

Ele ainda destaca a elaboração de outros materiais sobre o assunto, entre eles o relatório sobre “Leite com baixo teor de lactose”, que também contam com ações recomendadas voltadas às micro e pequenas empresas.

De acordo com especialistas, diferentemente da alergia, quem sofre de intolerância tem carência de lactase, uma enzima que atua na digestão da lactose. Os sintomas podem variar conforme o organismo de cada um, podendo ser um desconforto intestinal, indigestão e até enxaqueca.

Para atender a esse público específico ou àquele que deseja ter uma alimentação diária diferenciada, têm surgido cada vez mais bebidas do gênero. Um dos exemplos é o recém-lançado leite Barra Mansa Zero Lactose, produzido no município de Barra Mansa, interior do Estado do Rio de Janeiro.

 

INOVAÇÃO

Presidente da Cooperativa Agropecuária de Barra Mansa Ltda. desde 1984, o produtor e agroindustrial Cláudio Martini Meirelles ressalta que a organização “sempre teve, em sua essência, a modernidade e a inovação e hoje não é diferente”.

“Contamos com o que há de mais moderno em tecnologia de leite UHT. Agora, em 2017, a família dos nossos produtos aumentou com o lançamento do Leite Barra Mansa Zero Lactose, pensando exatamente no consumidor que necessita adotar dietas restritivas”, informa Meirelles, em entrevista à equipe SNA/RJ.

Ele explica que a lactose, principal açúcar encontrado no leite e seus derivados, para ser digerida, necessita da presença da enzima lactase. “Para que pessoas com baixa produção de enzima lactase possam usufruir dos benefícios dos produtos lácteos, a indústria tem criado cada vez mais produtos na versão zero lactose”, afirma.

 

“Para que pessoas com baixa produção de enzima lactase possam usufruir dos benefícios dos produtos lácteos, a indústria tem criado cada vez mais produtos na versão zero lactose”, comenta o presidente da Cooperativa Agropecuária Barra Mansa, Cláudio Martini Meirelles. Foto: Arquivo SNA
“Para que pessoas com baixa produção de enzima lactase possam usufruir dos benefícios dos produtos lácteos, a indústria tem criado cada vez mais produtos na versão zero lactose”, comenta o presidente da Cooperativa Agropecuária Barra Mansa, Cláudio Martini Meirelles. Foto: Arquivo SNA

CARACTERÍSTICAS

De acordo com o documento do SIS/Sebrae, “o leite sem lactose nada mais é do que o leite de vaca comum em que a lactose foi parcialmente ou completamente ‘quebrada’ pelo processo de hidrólise, com adição de lactase”. Assim como outros leites de origem animal, o de vaca apresenta, em média, cinco gramas de lactose para cada cem mililitros de leite. Isso significa que um copo de 250 ml contém 12,5 gramas de lactose.

“Ao contrário do que se pensa, a lactose não é retirada do produto lácteo. Ela passa pelo processo de hidrólise, ou seja, a molécula deste açúcar é quebrada em duas outras moléculas menores – a glicose e a galactose –, com a adição da enzima lactase”, explica o presidente da Cooperativa Barra Mansa.

Segundo Meirelles, “os produtos zero lactose não perdem as características sensoriais e nutricionais, que fazem do leite um alimento tão completo, e apresentam uma melhora de sua digestibilidade, fato que tem chamado a atenção até mesmo de pessoas que não apresentam intolerância à lactose”.

 

PROCESSAMENTO

O agroindustrial relata que o leite é recebido cru, direto das propriedades rurais, passa pela pasteurização e depois pelo tratamento UHT: “Antes do envase asséptico, fazemos a dosagem da enzima lactase em linha, por meio do equipamento Tetra Pak Flexdos, que executa a aplicação asséptica”.

Conforme Meirelles, “a dosagem asséptica de lactase foi desenvolvida com o intuito de proporcionar um produto, no caso o leite zero lactose, de altíssima qualidade e segurança alimentar, para uma determinada camada da população com restrições à ingestão de lactose”.

 

o leite é recebido cru, direto das propriedades rurais, passa pela pasteurização e depois pelo tratamento UHT: “Antes do envase asséptico, fazemos a dosagem da enzima lactase em linha, por meio do equipamento Tetra Pak Flexdos, que executa a aplicação asséptica. Foto: Divulgação Barra Mansa
O leite é recebido cru, direto das propriedades rurais, passa pela pasteurização e depois pelo tratamento UHT. Antes do envase asséptico, é feita a dosagem da enzima lactase em linha, por meio do equipamento Tetra Pak FlexDos, que executa a aplicação asséptica. Foto: Divulgação Barra Mansa

INTOLERÂNCIA VERSUS ALERGIA ALIMENTAR

Conforme o SIS/Sebrae, é importante não confundir intolerância com alergia alimentar: “A primeira é muito mais frequente e pode afetar qualquer individuo sem histórico familiar, enquanto a segunda, geralmente, é um problema mais raro e hereditário, surgindo em vários membros de uma mesma família”.

Em ambos os casos, o tratamento consiste em retirar da dieta os alimentos que causam os sintomas. “Nos casos de produtos alergênicos, como o leite, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu, em julho de 2016, com base na resolução (RDC 26/2015), que todos os rótulos de produtos alimentícios tragam informações sobre os ingredientes que podem causar alergias”, relata a instituição, em relatório.

De acordo com a Lei nº 13.305/2016, alimentos que contenham lactose deverão possuir essa informação no rótulo da embalagem.

O presidente da Cooperativa Barra Mansa lembra que os alimentos lácteos estão presentes em quase todas as refeições e são apreciados por crianças e adultos de todas as idades.

“O diagnóstico de intolerância à lactose não precisa ser interpretado como uma restrição completa de consumo de lácteos. Com a inclusão de produtos zero lactose na dieta, é possível eliminar os sintomas de dores abdominais, inchaços, gases e diarreia, que tanto incomodam os intolerantes, sem perder o prazer de tomar aquele café com leite que tantos gostam”, comenta Meirelles.

Ele ainda garante que “a Cooperativa Agropecuária de Barra Mansa entende que, deste modo, é possível oferecer o leite, um alimento de alto valor nutricional, para pessoas que, sem o desenvolvimento desta tecnologia, não teriam acesso ao consumo de leites e derivados”.

 

AÇÕES RECOMENDADAS PELO SIS/SEBRAE:

* Conheça o portal Semlactose, criado em 2007, com a finalidade de esclarecer e informar a população sobre a intolerância à lactose e outras alergias alimentares;

* Confira a entrevista publicada na Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) sobre “O futuro dos produtos lácteos sem lactose”;

* Conheça a Rede de Pesquisa e Inovação em Leite – REPILeite, rede social que visa ao debate de ideias e assuntos de interesse comum sobre o setor leiteiro;

* Acesse o Boletim de Tendências publicado no SIS sobre “Leite com baixo teor de lactose”, para consumidores com intolerância.

 

Por equipe SNA/RJ

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