Demanda por corantes naturais aquece mercado brasileiro de urucum

O Brasil é responsável por 57% da produção mundial de urucum, neste ano estimada entre 10 mil e 12 mil toneladas, mas o cultivo já chegou a 16 mil toneladas. Foto: Divulgação IAC

O cultivo de urucum traz boas perspectivas para o produtor rural, já que a demanda por corantes naturais tem sido cada vez mais crescente e os novos produtos que entram no mercado têm aumentado a procura pelos grãos da planta. As principais utilizações da cultura são para a produção de colorífico e de corantes para as indústrias alimentícias (doces, sorvetes, laticínios, massas, pães, bebidas, embutidos, óleos e gorduras), farmacêuticas, têxteis, de cosméticos, de perfumarias e de tintas, além da extração de lipídeos, geranilgeraniol e tocotrienol para fins farmacêuticos e medicinais (inovação).

Segundo Eliane Gomes Fabri, pesquisadora do Centro de Horticultura – Setor Plantas Aromáticas e Medicinais do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), em São Paulo, o mercado de urucum corresponde a 90% do total do consumo de corantes naturais no Brasil e a 70% de corantes naturais no mundo. Ela acrescenta que 40% da colheita brasileira são utilizadas para a extração de bixina (o corante), 50% para a produção de colorífico e 10% para outras aplicações.

O Brasil é responsável por 57% da produção mundial de urucum, este ano, estimada entre 10.000 t e 12.000 t anuais (mas já chegou a 16.000 t). “A safra de 2015 não será suficiente para atender a demanda das indústrias brasileiras, que terão de importar o produto”, prevê Eliane. Segundo ela, outros importantes produtores mundiais são Peru com 31% (6.000 t), Costa do Marfim e Gana (5.000 t), Quênia (2.000 t), Guatemala (1.500 t), República Dominicana (900 t), Bolívia (500 t), Equador (400 t), Índia (300 t) e México (200 t).

São Paulo é o maior produtor brasileiro, seguido de Rondônia, Pará e Paraná. As principais empresas processadoras de urucum estão instaladas principalmente ao redor da Grande São Paulo e na região metropolitana de Campinas.

O CULTIVO

O plantio do urucum é realizado principalmente por produtores da agricultura familiar tradicional ou oriundos da reforma agrária em assentamentos nos diversos Estados.

A pesquisadora sugere adquirir mudas de viveiristas idôneos, se possível com garantia de que o material genético tenha um bom teor de bixina.

“Vale lembrar que há pouco material registrado, além de ser comum a troca de sementes entre os produtores”, destaca.

Os custos do plantio e de manejo da cultura são baixos e, de acordo com Eliane, variam em função do histórico da área.

“O preço médio das mudas oscila entre R$ 0,20 e R$ 1,00, mas o custo da colheita é elevado para o pequeno agricultor, que necessita contratar mão de obra”, avalia.

Pesquisadora do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Eliane Gomes Fabri afirma que a safra de urucum deste ano está estimada entre 10 mil e 12 mil toneladas. Mesmo assim, a quantidade não será suficiente para atender à demanda das indústrias. Foto: Divulgação IAC

RECOMENDAÇÃO

A principal recomendação é fazer um bom planejamento de implantação da lavoura e realizar o plantio no período chuvoso.

“Embora o urucum sejauma planta rústica ede manejo simples, responde bem aos tratos culturais. Além disso, por se tratar de uma cultura perene, os cuidados na implantação e no manejo farão a diferença para o sucesso ou insucesso da lavoura”.

A pesquisadora afirma que os produtores podem utilizar o consórcio no início do plantio do urucum ou adotar o sistema agroflorestal, e destaca a importância do preparo do solo e do controle do mato nas entrelinhas, utilizando sempre a roçadeira ao invés da grade aradora.

“O arado corta as raízes, facilitando o surgimento de doenças causadas por fungos como a podridão das raízes e o secamento das plantas porPythiumsp”, justifica.

De acordo com Eliane, o urucum também pode ser afetado por doenças da parte aérea da planta, como o oídio e a cercosporiose. As principais pragas da cultura são formigas, percevejos, ácaros e cochonilhas.

A pesquisadora do IAC também orienta sobre a colheita, que deve ser realizada quando 20% a 30%dos frutos dos cachos estiverem secos.

“Quando colhidos verdes, os grãos possuem maior índice de bixina, mas apresentam baixo peso e estarão enrugados, dificultando a retirada da bixina durante o processamento industrial, não sendo atrativo para a indústria”, explica.

Normalmente, os grãos adquiridos pelas empresas apresentam de 4% a 5,5% de bixina, mas a média nacional é de 3,5%.

“A remuneração dos produtores está relacionada ao teor deste componente. A indústria paga, em média, R$ 1,00 por ponto de bixina, ou seja, se uma cultivar que apresenta teor de 4% o produtor recebe R$ 4,00 por quilo”, calcula.   A média da produção brasileira é de 14 mil toneladas, por ano.

PESQUISAS

O Instituto Agronômico de Campinas desenvolve pesquisas com urucum desde meados da década de 80 do século passado e mantém um banco de germoplasma com 63 materiais (variedades) diferentes no Polo Regional Centro Norte, em Pindorama (SP).

“Além de vários experimentos realizados com o banco de germoplasma, também selecionamos genótipos com altos teores de bixina (na coleção do IAC há variedades com teor acima de 6%), lipídeos, geranilgeraniol e tocotrienol. Também avaliamos o porte das plantas, a produtividade e a resistência a doenças como oídio e cercosporiose”, conta a pesquisadora, que antecipa: “Estamos selecionando uma nova cultivar com alto teor de bixina e grande potencial produtivo que deverá ser lançada no próximo ano”.

Por equipe SNA/SP

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