Brasil é segundo na produção mundial de rãs

André Cribb: ‘Há um evidente desequilíbrio no mercado da cadeia ranícola. A demanda potencial pela carne de rã é atualmente cerca de três vezes maior do que a oferta real’

 

Estimativas mais recentes da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), referentes ao ano de 2009, mostram que o Brasil figura como um dos maiores produtores mundiais de rãs, ficando atrás somente de Taiwan. Nos últimos 20 anos, o setor ranícola no país vem ganhando espaço e muitos envolvidos com o agronegócio já descobriram o nicho de mercado. Mesmo sendo ainda desconhecida do grande público, a carne deste animal é apreciada em diversos restaurantes, principalmente das regiões Nordeste e Sudeste do país. Além do Distrito Federal, os estados com destaque na ranicultura são Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.

As informações são do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) André Yves Cribb, engenheiro agrônomo, mestre em Desenvolvimento Agrícola, doutor em Engenharia de Produção com pós-doutorado em Gestão de P&D Agrícola. Segundo ele, o crescimento da criação nacional de rãs se expandiu significativamente por causa dos resultados das pesquisas desenvolvidas em várias instituições de pesquisa e ensino do país.

Hoje, a produção brasileira deve girar em torno de 400 toneladas por ano. Apesar do cenário promissor, Cribb aponta um dos maiores problemas: demanda versus oferta. “Há um evidente desequilíbrio no mercado da cadeia ranícola. A demanda potencial pela carne de rã é atualmente cerca de três vezes maior do que a oferta real.”

Cribb explica que este desequilíbrio se deve em parte pela ampliação crescente do consumo que não está sendo acompanhado pela produção em nível nacional. “O brasileiro tem consumido em média mais rãs a cada ano. Nos últimos tempos, tem ocorrido redução da rejeição ao consumo da carne de rã, o que tem levado à consequente inserção desta carne nos menus de restaurantes das regiões Nordeste e Sudeste do país”, destaca o pesquisador.

No elo de fornecimento de insumos, relata Cribb, não há ainda no mercado uma dieta específica para as rãs. Em razão disto, são alimentadas com ração extrusada de peixes carnívoros, com 40% de proteína bruta, sem garantia de satisfazer adequadamente suas necessidades nutricionais. “A respeito da criação da rã, há poucas informações disponíveis na literatura comparando os diferentes sistemas de produção existentes em relação ao desempenho zootécnico da rã-touro (espécie mais produzida no Brasil)”, cita.

 

A PRODUÇÃO

Na opinião de Cribb, a maioria dos ranicultores brasileiros luta com a baixa produtividade de sua criação, promovida por instalações deficientes e manejos inadequados, que refletem em problemas sanitários. “Cabe ainda destacar o baixo aproveitamento comercial da carne de dorso de rã, que poderia ser satisfatoriamente usada na produção de novos produtos alimentícios como conserva, salsicha e patê de carne de rã.”

Em relação aos elos de comercialização e consumo, a cadeia ranícola brasileira não se adapta ainda aos exigentes requisitos do consumo moderno tais como praticidade, rapidez, conservação, informação e customização, revela Cribb. “A oferta é irregular e o preço do produto é alto. Porém, a oferta tem crescido em razão da entrada de novos produtores no mercado. Cabe destacar que algumas regiões como Santa Catarina, que não produziam tradicionalmente, passam a ser hoje fortes produtores.”

Atualmente, o Brasil não conta com estatísticas mais precisas sobre o número de criadores de rãs, mas em breve, conta o pesquisador da Embrapa, pode passar a integrar o Censo Agropecuário 2016, que será realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Segundo informações obtidas, a aquicultura será incorporada como um dos temas para os levantamentos de dados.”

 

PRECURSOR

O estado do Rio de Janeiro foi o pioneiro na criação de rãs em cativeiro no Brasil. O início desta atividade ocorreu em 1935, quando um técnico canadense trouxe cerca de 300 casais de rã-touro ou rã americana (Rana catesbeiana) para o país. “A rã-touro se adaptou muito bem ao clima do Brasil e, ainda mais, apresentou desenvolvimento precoce em comparação ao local de origem com ciclo de produção bastante reduzido, uma vez que esse ciclo é grandemente influenciado pela temperatura ambiente”, relata Cribb.

De acordo com ele, para incentivar o mercado da ranicultura no Brasil, a Embrapa vem dedicando parte de seus recursos financeiros e humanos à cadeia e tem se destacado no apoio ao fortalecimento tecnológico no setor. “Na primeira metade da década de 2000, ela desenvolveu uma tecnologia para o aproveitamento da carne de dorso de rã. No período de 2009 a 2012, executou o projeto de transferência dessa tecnologia. No ano passado, lançou o projeto de construção de uma rede de interação e aprendizagem para a transferência de tecnologia na cadeia ranícola”, detalha.

 

CURSOS DE RANICULTURA DA SNA

A Sociedade Nacional de Agricultura, por meio da Escola Wencesláo Bello, com sede na Penha , Rio de Janeiro, ministra os cursos Ranicultura I – Noções Básicas sobre Criação de Rãs; Ranicultura II – Criação intensiva e comercial da rã-touro gigante; e Ranicultura Prática, que treina iniciantes na ranicultura, ensina técnicas práticas de forma simples. Mais informações, acesse www.sna.agr.br/extensao.

 

Por Equipe SNA/RJ

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