Por Glauber Silveira, da Aprosoja
Os produtores brasileiros vivem em um embate diário com legislações, questões indígenas, ambientais. No Mato Grosso são 680 mil hectares embargados pelo IBAMA retirados da produção. A todo o momento somos surpreendidos com algo novo: suspensão de defensivos, emenda para tributação da soja, um novo formulário que precisa ser preenchido, uma nova licença exigida. Coisas que surgem e vão minando o nosso prazer de produzir e aí me pergunto, tem valido a pena financeiramente?
Segundo o IMEA, no Mato Grosso o custo variável para a soja, considerando (fertilizantes, defensivos, semente, mão de obra, operações agrícolas etc.), subiram 100% nas últimas quatro safras, um crescimento de custo médio de 25% ao ano. Este custo saiu de R$ 1.129,85 na safra 2010/11 para um valor estimado de R$ 2.317,87 na safra 2014/15, com tendência de crescer.
Aí aparece novamente a pergunta: temos rentabilidade com a baixa escala? Quando analisamos item por item do custo de produção vemos que o preço da semente foi um dos grandes vilões. Só nas últimas duas safras a semente subiu 37% segundo a CONAB, e o que mais me espantou foi ver que na safra 2012/13 o Paraná teve um dos custos mais altos do Brasil, R$ 131,25 por hectare, enquanto no Mato Grosso foi de R$ 95,17 e no Rio Grande do Sul, do ladinho, R$ 95,00.
Na última safra, 2013/14, o Paraná seguiu se destacando com um custo de semente acima da média nacional, R$ 169,50 por hectare, um crescimento de 29% comparado a anterior. O custo médio Brasil foi de R$ 145 por hectare. Mas foi no Mato Grosso onde o custo mais cresceu, subindo 43%, passando a R$ 136,00 por hectare. Goiás vem em seguida com 38% de aumento, chegando aos R$ 173,25 por hectare. Mas é do Mato Grosso do Sul o posto de maior preço de semente do Brasil, R$ 135 e R$ 175 por hectare, nas duas últimas safras, respectivamente.
Os agroquímicos sem dúvida nestas últimas safras foram os maiores vilões com um crescimento de custo de 83% entre safras, saímos de um gasto médio nacional de R$ 190,00 na safra 2012/13 para R$ 347,21 segundo a CONAB, dados muito próximos aos do IMEA para o Mato Grosso. Estado que neste quesito foi o de maior custo do Brasil na safra 2013/14, com R$ 523, seguido pela Bahia R$ 411,94, Mato Grosso do sul R$ 380 e do PR com R$ 254.
E quando comparamos nosso custo para soja até o porto (sem o custo da terra) entre nossos principais competidores, o Brasil só empata com a Argentina devido aos 35% de impostos sobre a produção. Os produtores de soja dos Estados Unidos estão com um custo por hectare de U$ 750 a Argentina com impostos U$ 900 e U$ 300 sem impostos, o Brasil na média com U$ 900 e o MT com U$ 1.300.
É interessante lembrar, que há dez anos o custo do Brasil era menor que dos EUA e da Argentina, por exemplo, na safra 2003/04 o do Brasil era de U$450, da Argentina U$ 510 e dos EUA U$ 600. Como podemos observar, no Brasil tivemos um crescimento no custo de 100% em dólar nos últimos dez anos, enquanto que nos EUA apenas 25%, isto é um reflexo claro da falta de logística e outras deficiências brasileiras.
Aí fica novamente o questionamento, onde vai parar este custo? Teremos rentabilidade? O custos variável de produção médio de soja no Brasil para a próxima safra deve crescer de 22% a 25%, ou seja, chegaremos aos de R$ 2.126,00 por hectare e a um câmbio de 2,2. Então, serão gastos US$ 966,36 por hectare a uma produtividade média de 50 sacas por hectare, isso dá US$ 19,32 por saca. Aí pergunto: e os custos fixos? Prestações de máquinas? O custo da terra? E o arrendamento?
Quando vejo a planilha do IMEA para o custo de produção do estado de Mato Grosso, para a safra 2014/15, apontando R$ 2.317,87 de custos variáveis e R$ 2.913,38 de custo total, ao câmbio de R$ 2,2 estamos falando de U$ 1.053,57 e U$ 1.324,26 o custo total da lavoura. A uma produtividade média de 54 sacas por hectare, são U$ 24,52 a saca de soja produzida, sinceramente, é desanimador. Ou seja, o arrendatário daqui também está em maus lençóis, assim como o argentino.
Embora recheado de números, o objetivo aqui é chamar a atenção, pois além de questões Indígenas, Quilombolas, Ambientais, Trabalhistas, Lei de Caminhoneiros, Tributos, Biotecnologia, Pesquisa e etc., nós ainda temos um custo que de forma sorrateira está nos matando e tirando muitos produtores da atividade. E quando falamos em quebra de produtividade o drama se instala, afinal o governo vê a média e não o regional ou individual.
Quando partirmos para uma safra com custos tão altos e sem nenhum mecanismo real de seguro de safra e de renda, com ameaças de menos defensivos agrícolas, de nos tomarem as terras, o que devemos fazer? Precisamos ter uma pauta comum de reinvindicação, uma cobrança imediata ao governo. Precisamos de seguro de produção, de renda, segurança jurídica e produtos competitivos para produzir. Caso contrário, o que nos resta é dar a resposta adequada, aquela mais desaforada e presa na garganta de todos.
Fonte: Aprosoja