A comercialização antecipada da soja que será produzida no País da safra 2018/19, cuja semeadura terá início em setembro, continua praticamente parada no País. Como as discussões em torno da tabela de fretes mínimos rodoviários perduram e alimentam incertezas que só serão dissipadas nas próximas semanas, a partir do posicionamento do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), produtores e tradings relutam em fixar valores nas negociações com o grão por temerem prejuízos no transporte.
Dados divulgados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostram que, no Estado que lidera a produção de soja do País, essas vendas avançaram pífios 0,48% em um mês e chegaram ao início de agosto a 21,5% de uma colheita total prevista em 32.3 milhões de toneladas. Graças a transações fechadas antes da greve dos caminhoneiros, no fim de maio, o volume da nova safra já negociado ainda é maior que o do mesmo período do ano passado (4.9 milhões de toneladas), quando estava em jogo a comercialização da safra 2017/18.
[Atualmente] o preço em Chicago está em níveis baixos e os prêmios para soja com entrega em fevereiro de 2019 estão bem abaixo dos prêmios pagos pela soja no mercado físico, disse Evandro Oliveira, consultor da Safras & Mercado. Segundo ele, o prêmio da soja em Paranaguá (PR) para entrega em setembro sobre a cotação da bolsa de Chicago está em US$ 1,95 por bushel (medida equivalente a 27,2 quilos). A saca para entrega em fevereiro/19 tem prêmio de US$ 1,10, e a para entrega em março/19 tem prêmio a US$ 0,94, ainda acima da média de US$ 0,40 para o período.
Independentemente dos prêmios, as dúvidas que pairam sobre os fretes freiam as negociações no mercado futuro. Em Mato Grosso, as tradings nem estão indicando preço futuro para a safra por causa dessas incertezas, disse Oliveira. Murilo Parada, presidente da Louis Dreyfus Company Brasil, lembrou nesta semana em evento em São Paulo que mesmo as negociações por meio de “barter”, operações de troca de insumos por grãos,, que ganharam força no País nos últimos anos, estão travada em razão do tabelamento. Só posso falar da minha empresa. A comercialização de fertilizante e defensivo via “barter” está travada. Segundo o executivo, 30% do preço da soja é composto pelo frete.
Zilto Donatelo, produtor no médio-norte de Mato Grosso, região que responde por 35% da produção do Estado, disse que suas vendas da próxima safra estão paradas a zero. Desde a confusão causada pelo governo, não sai praticamente nada de vendas. Mesmo no mercado físico as vendas estão muito lentas, disse. As tradings estão muito receosas com possíveis multas, então, as vendas estão lentas. Caso no futuro a Justiça entenda que fretes foram fechados por valores abaixo dos estabelecidos, as tradings ficarão sujeitas a multas equivalentes ao dobro da diferença.
A falta de clareza do frete faz com que as tradings tenham uma dificuldade muito grande de colocar o preço futuro. Isso acaba afetando a todos, disse Giuliano Tozzi, gerente de operações de “barter” da Syngenta, que é controlada pela ChemChina e lidera as vendas de defensivos no Brasil. Segundo Tozzi, antes da tabela de fretes as operações de “barter” da Syngenta estavam indo bem. “Depois parou mesmo”, disse. Nesse cenário, destacou, novas formas de financiar a safra de grãos 2018/19, como a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) lastreados em produção agrícola. A própria Syngenta recentemente fez uma emissão de R$ 350 milhões.
Segundo a Safras & Mercado, em outros Estados as vendas antecipadas estão um pouco mais animadas. No País, até 3 de agosto chegaram a 18% de uma produção estimada em 119.8 milhões de toneladas. No mês anterior, o percentual estava em 8,5%. Essas vendas foram de operações de troca em locais onde os produtores precisaram negociar insumo, como em Mato Grosso do Sul e na Bahia, disse Oliveira. No caso da produção da safra 2017/18, que já foi totalmente colhida, as vendas de soja já alcançaram 84% do total.
Fonte: Valor