Em um contexto de transição energética e demanda por diversificação nos negócios, acompanhado por um bom momento de preços, as sucroenergéticas voltaram a falar em novos investimentos. Conforme acompanhamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), até o final de maio, 17 novas usinas de etanol estavam em construção e outras 47 estavam em ampliação.
Mas aportes em capacidade, obviamente, não são o único caminho. Segundo o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), por exemplo, as usinas têm apostado na adoção de variedades de cana-de-açúcar mais recentes buscando aumento da produtividade e maior segurança genética. Por sua vez, o Pecege realizou uma pesquisa que colocou irrigação e vinhaça como as campeãs na intenção de investimento para 2023/24.
A decisão de onde investir, de que forma obter os recursos, quais condições são mais vantajosas e até onde é possível ir em busca de crescimento – principalmente considerando a natureza cíclica do setor sucroenergético – pode ser complexa. Por isso, a Conferência NovaCana 2023 decidiu realizar um painel formado por quem conhece esta realidade: os diretores financeiros das usinas.
O encontro já tem presença confirmada de Marcus Miranda Schlösser (BP Bunge Bioenergia), Rodrigo Penna (Jalles), Eduardo Lambiasi (Maringá) e Thiago Gasparotto (Tereos).
Entre os tópicos que devem ser abordados no painel estão as alternativas para captação de recursos – financiamentos tradicionais, mercado de capitais, debêntures, Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) –, as possibilidades trazidas pelo RenovaBio e as oportunidades “verdes” dentro de uma agenda ESG (sigla em inglês para princípios ambientais, sociais e de governança).
A sexta edição da Conferência NovaCana acontece em São Paulo (SP) nos dias 4 e 5 de setembro de 2023. O evento já está com inscrições abertas e a programação completa pode ser acessada neste link.
Uma opção de obtenção de recursos que tem ganhado espaço nos últimos anos é a emissão de debêntures com incentivos aos investidores. A abertura desta possibilidade para as sucroenergéticas foi feita em 2019, pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O principal objetivo era justamente alavancar o setor e aumentar a oferta de etanol, reduzindo seu custo unitário e, consequentemente, também o preço final para os consumidores.
Em quatro anos, o setor sucroenergético captou R$ 8,9 bilhões por meio das debêntures incentivadas. Só no primeiro semestre de 2022, nove séries dos papéis foram emitidas por seis companhias, somando R$ 3,22 bilhões captados. O montante deste período quase supera o total realizado durante todo o ano anterior, de R$ 3,24 bilhões.
Considerando todas as emissões feitas pelo setor sucroenergético entre 2019 e junho de 2022, a companhia que mais obteve recursos foi a Raízen. A gigante sucroenergética somou R$ 2,26 bilhões em quatro operações.
Na sequência, a São Martinho captou R$ 1,7 bilhão com debêntures incentivadas no mesmo período. Já a Alcoeste obteve R$ 718,30 milhões e ficou em terceiro lugar na lista. Por sua vez, a Delta Sucroenergia emitiu R$ 500 milhões, enquanto a Tereos contabilizou R$ 480 milhões.
Ainda assim, alternativas mais tradicionais para obtenção de recursos seguem ao alcance das sucroenergéticas. Em 2022, os financiamentos contratados via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) somaram R$ 1,69 bilhão, com uma ligeira alta de 0,7% ante os R$ 1,68 bilhão do ano anterior.
Entre os maiores contratos, o destaque foi para a linha vinculada ao programa RenovaBio, que totalizou R$ 467,37 milhões em recursos disponibilizados, alta anual de 12,6%. O montante foi direcionado para quatro empresas: a usina Limeira do Oeste, do grupo Tércio Wanderley, com R$ 193,13 milhões; a Caeté, do grupo Carlos Lyra, com R$ 100 milhões; a usina Barra Grande, da Zilor, com R$ 100 milhões; e Ferrari Agroindústria, com R$ 74,26 milhões.
O valor obtido pela linha RenovaBio em 2022, aliás, permitiu que a usina Limeira do Oeste, localizada no município mineiro de mesmo nome, ocupasse a liderança entre as companhias que obtiveram empréstimos via BNDES no ano passado.
Mas nem todos os valores obtidos no ano foram vinculados ao programa. A companhia ainda contratou R$ 18,07 milhões pelo Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame) para a fabricação de etanol, totalizando R$ 211,2 milhões.
Na sequência, a segunda sucroenergética que mais obteve recursos pelo BNDES em 2022 foi a usina Rio Vermelho, da Viterra Bioenergia (antiga Glencane), localizada em Junqueirópolis (SP). Os R$ 150 milhões vieram do Finame, com destino à fabricação de etanol, e representaram o primeiro empréstimo da empresa junto ao banco desde os R$ 12,21 milhões obtidos em 2019.
Por sua vez, a Caeté, de Alagoas, fez captações que totalizaram R$ 116,68 milhões. A maior parte do montante – R$ 100 milhões – está vinculada ao programa RenovaBio. Os R$ 16,68 milhões restantes foram obtidos pelo Finame e estão divididos em três objetivos: plantio de cana-de-açúcar (R$ 11 mi), fabricação de etanol (R$ 3,09 mi) e fabricação de açúcar (R$ 2,58 mi). A companhia não realizava empréstimos via BNDES desde 2014.
Já a Bioenergética Aroeira financiou R$ 111,5 milhões para sua usina em Tupaciguara (MG), alta de 175,7% na comparação com o valor registrado em 2021. Dentro do novo montante, R$ 85,4 milhões estão vinculados ao financiamento de máquinas e equipamentos e ao capital de giro associado; os R$ 26,1 milhões restantes foram obtidos via Finame para a fabricação de açúcar.
Encerrando a lista das cinco empresas que mais financiaram por meio do BNDES em 2022 está a Barra Grande, unidade da Zilor situada em Lençóis Paulista (SP). Neste caso, o valor total de R$ 100 milhões veio da linha relacionada ao RenovaBio.
Fonte: NovaCana