O cultivo de soja da safra 2015/16 está em andamento no País, hora certa para o produtor rural que pretende dar um “up” na cultura, principalmente por meio da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). É o que orienta o pesquisador Fábio Martins Mercante, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS).
Considerada uma “tecnologia limpa”, ele explica que a FBN é um dos métodos agrícolas sustentáveis que integram o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do governo federal. Substitui o fertilizante nitrogenado mineral por um processo de simbiose, em que o nitrogênio é retirado do ar por uma bactéria para ser assimilado pela planta.
“A Fixação Biológica de Nitrogênio é um processo pelo qual um grupo de bactérias benéficas, coletivamente chamadas de rizóbios, se associa simbioticamente com espécies como a soja, formando uma estrutura especializada na raiz – os nódulos radiculares. Estas bactérias captam o N2 atmosférico, transformando-o, para ser assimilável pela planta. Em troca, a planta fornece à bactéria energia obtida pela fotossíntese. Assim, forma-se uma perfeita associação, sendo planta e bactéria mutuamente favorecidas”, informa.
Para que o processo seja implantado, é necessário que o cultivo da soja esteja entre os estágios vegetativos V3 (terceiro nó, com segunda folha trifoliolada completamente desenvolvida) e V5 (quinto nó, com quarta folha trifoliolada completamente desenvolvida).
Essenciais para o processo de Fixação Biológica de Nitrogênio, os micronutrientes cobalto (Co) e molibdênio (Mo) desempenham papéis específicos na eficiência da simbiose entre a planta e a bactéria, especialmente no caso do Mo, enquanto o Co tem efeito específico sobre o crescimento da bactéria e na formação da leghemoglobina.
“As recomendações técnicas atuais para aplicação destes nutrientes são de dois a três gramas de Co ha-1 e de 12g a 30g de Mo ha-1, via semente, ou em pulverização foliar, nos estádios de desenvolvimento V3-V5. Contudo, deve-se destacar que vários problemas têm sido detectados com a aplicação diretamente nas sementes de produtos contendo estes micronutrientes, devido às formulações salinas, ou com pH baixo, o que afeta drasticamente a sobrevivência da bactéria, a nodulação e a eficiência do processo de fixação biológica de nitrogênio.”
Desta forma, comenta o pesquisador, para o sojicultor evitar tais efeitos negativos, tem sido indicada a aplicação destes micronutrientes em pulverização foliar, nos estádios vegetativos de V3 a V5.
PLANTIO DIRETO
Para a maximização da eficiência do inoculante contendo bactérias fixadoras de nitrogênio e o alcance de patamares mais elevados de produtividade da cultura da soja, salienta Mercante, o manejo do solo adotado nas lavouras é de suma importância.
“Neste sentido, o sistema plantio direto tem se mostrado extremamente favorável à biomassa microbiana do solo e a diversos microrganismos de importância agrícola, como bactérias fixadoras de nitrogênio de vida livre ou simbióticas e fungos micorrízicos.”
Quando experimentos sob os sistemas de plantio direto ou convencional foram comparados, constatou-se que, para a soja, ocorreram incrementos no número de células viáveis destas bactérias (Bradyrhizobium) no solo, na diversidade genética de Bradyrhizobium, na nodulação, no crescimento das plantas, nas taxas de fixação biológica do nitrogênio e no rendimento de grãos da cultura.
“Tais efeitos têm sido associados à redução dos estresses de temperatura e umidade no solo proporcionada pelo sistema plantio direto, potencializando a nodulação e a fixação de nitrogênio. Em estudo conduzido em Mato Grosso do Sul, foi verificada uma redução no acúmulo de nitrogênio na planta no sistema convencional, quando comparado ao manejo em plantio direto. Neste caso, com a incorporação dos resíduos (aração e gradagem) no método convencional, verificou-se um atraso no processo de fixação de nitrogênio, por inibição causada por sua mineralização e incorporado ao solo pelos resíduos.”
SEMENTES
“Considerando que a soja não é uma cultura nativa do Brasil e a bactéria (rizóbio) que fixa o nitrogênio atmosférico nesta espécie, de modo eficaz, não existe naturalmente nos solos brasileiros, a inoculação destes rizóbios nas sementes de soja é indispensável”, atesta Mercante.
Segundo ele, como alguns fungicidas aplicados nas sementes podem reduzir a nodulação e a fixação biológica de nitrogênio na cultura da soja, o agricultor poderá optar pela utilização do dobro da dose de inoculante (insumo biológico para substituição de fertilizantes nitrogenados) utilizado em cultivos tradicionais de soja.
“Nestas condições, a garantia de um maior número de células viáveis das bactérias poderá resultar em uma maior nodulação, fixação biológica de nitrogênio e, consequentemente, maiores rendimentos da cultura.”
TEMPERATURA DO SOLO
O estresse hídrico e a temperatura do solo (acima de 32º C, principalmente) são duas condições que merecem mais atenção do agricultor, alerta Mercante. Ambos os fatores, associados ou não, afetam desde a sobrevivência da bactéria até as etapas da interação entre macro e microorganismos que vivem em simbiose. “Nesta situação, manejos de solo mais conservacionistas, como o plantio direto, colaboram para a redução da temperatura nas camadas mais superficiais e para a manutenção da umidade do solo.”
Essas foram algumas das conclusões obtidas após estudo realizado pelos pesquisadores da Embrapa por meio de um Comunicado Técnico (publicação seriada da Embrapa): Fábio Martins Mercante, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados/MS); Mariangela Hungria, da Embrapa Soja (Londrina/PR); Iêda de Carvalho Mendes e Fábio Bueno de Reis Júnior, da Embrapa Cerrados (Planaltina/DF).
Confira a publicação “Estratégias para aumentar a eficiência de inoculantes microbianos na cultura da soja”. Os resultados foram obtidos a partir da parceria entre os pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Soja e Embrapa Cerrados, que está disponível em http://bit.ly/1M1GhaU.
Por equipe SNA/RJ