Soja surpreende em novas áreas do Nordeste

Apresentar os resultados dos ensaios recentes com mais de 50 cultivares de soja e seu alto desempenho produtivo no Agreste e Tabuleiros Costeiros, na nova fronteira agrícola denominada Sealba (recorte territorial que abrange novas áreas com alto potencial para grãos em Sergipe, Alagoas e Bahia). Este foi o objetivo do encontro promovido pela Embrapa com atores do setor produtivo, assistentes técnicos, empresas de insumos e agentes públicos alagoanos, realizado em Maceió no dia 24 de novembro, na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (Faeal).

O pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) Sérgio Procópio, que coordena estudos para adaptação de cultivares à região desde 2013, fez a apresentação dos dados e debateu com os participantes, entre os quais o secretário de estado da Agricultura, Álvaro Vasconcelos.

Diversificação

A soja pode ser uma grande aliada na diversificação, plantios e diminuição das áreas de monocultivo. A cultura pode ajudar no enfrentamento das crises que trazem queda de preço das commodities e perdas para os produtores no Sealba, especialmente no cinturão do milho, em Sergipe, e na secular monocultura da cana em Alagoas, que nos últimos anos tem sofrido com crises severas, com a redução de área plantada e o fechamento de usinas.

De acordo com Procópio, a soja, por ser uma cultura de grande valorização, tem grande potencial de ganhos para os produtores da região, pois é capaz de atender a importantes demandas locais e globais de mercado. “No Nordeste há um grande interesse por soja para compor a alimentação animal nas fazendas e granjas de quase todos os estados, e a posição estratégica do território, com a proximidade de portos, ajuda a baratear custos de frete e escoar parte da produção para exportação”, explica.

Outro fator importante, segundo Procópio, é a diferença entre os ciclos de clima no Sealba e nas regiões tradicionais no restante do país, com chuvas em diferentes épocas do ano. As chuvas no Sealba ocorrem no meio do ano, durante o inverno, e nas demais regiões a estação chuvosa é o verão. “Isto demonstra um grande potencial para atendermos às demandas fora da safra do Sul e Centro-oeste, além de nos dar a oportunidade de sermos um grande banco de sementes de alta qualidade para fornecimento aos produtores dessas regiões, que começam a plantar no final do ano”, acredita o pesquisador.

Desempenho

Além de bom desempenho de produtividade, a soja traz a vantagem de fixar nitrogênio no solo por meio de bactérias inoculadas, dispensando a aplicação de toneladas de fertilizantes nitrogenados, o que traz grande economia de insumos.

Segundo dados dos primeiros ensaios de campo em 2013 e 2014, a produtividade da grande maioria dos materiais apresentou desempenho acima da média nacional – em torno de 48 a 55 sacas por hectare. Especialmente no Agreste, onde o solo é mais rico em nutrientes e apresenta temperaturas mais baixas à noite, mais de 40 variedades e cultivares superaram as médias nacionais, com algumas chegando até 5 toneladas por hectare.

Análises de grãos de soja produzidos em Frei Paulo/SE (safra 2014/2015) demonstraram altos teores de proteína, com valores em torno de 38% a 40% em todas as cultivares e variedades, o que reforça o potencial para atender à demanda de farelo para alimentação animal.

Outro resultado surpreendente foi a produtividade considerável observada mesmo num ano de extrema escassez de chuvas como 2016, que apresenta perdas de até 90% da produção de milho nas principais regiões produtoras. O desempenho produtivo de algumas das cultivares no Agreste chegou a passar de 40 sacas por hectare, apesar de um período extremamente seco para época, com precipitações abaixo de 40 mm em todos os meses de maio a agosto, além de longos veranicos (períodos sem qualquer chuva) em junho e agosto. Nos Tabuleiros Costeiros, região com média de chuvas superior ao Agreste, mas onde em 2016 também se observou baixa precipitação, muitas cultivares chegaram a superar 50 sacas por hectare.

Pesquisa

Com o objetivo de formatar um sistema de produção para essas regiões, diversas ações de pesquisa vêm sendo realizadas pelos cientistas da Embrapa.

As iniciativas englobam a seleção de cultivares com base em adaptabilidade e estabilidade de produção, porte para colheita mecanizada, nível de acamamento das plantas (quando pendem e deitam), e ciclo de produção; determinação dos melhores períodos para o plantio; avaliação dos arranjos de plantas – espaçamento e população; adaptação da cultura no sistema de plantio direto; recomendação para a inoculação de sementes, visando a não dependência de fertilizantes nitrogenados; levantamento das pragas, doenças e plantas daninhas de ocorrência regional, com os seus respectivos métodos de controle; determinação do momento correto da colheita; avaliação da qualidade de sementes – sanidade, germinação e vigor; e inserção da cultura em sistemas conservacionistas junto à agricultura familiar.

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático da soja em Sergipe e Alagoas para a safra 2015/2016, coordenado pela Embrapa e publicado pelo Ministério da Agricultura, abre caminho para o financiamento bancário e o seguro agrícola destinado ao plantio do grão em diversas regiões desses estados.

Perspectivas

O produtor Everaldo Tenório é um dos que acreditam na soja como um novo caminho na diversificação de culturas em Alagoas. “Nas safras recentes, com a crise da cana, tivemos cerca de 30 mil hectares abandonados no estado. A soja é a grande opção para um futuro com boas perspectivas de renda para os produtores, por ser uma commodity com alta liquidez. E a pesquisa da Embrapa é fundamental para orientar os produtores com as cultivares mais adequadas, e todos os aspectos de manejo da cultura”, afirmou.

Para o secretário Vasconcelos, a soja chega como grande perspectiva na diversificação da agricultura no estado, fortalecendo a produção de grãos, que tem estado muito aquém da demanda local há muitos anos. “Com a implantação de um programa de governo e a criação da Comissão de Grãos para alavancar o setor e o aporte de conhecimentos das pesquisas da Embrapa, temos um horizonte muito promissor para a nossa produção agrícola”, declarou.

 

Fonte: Embrapa

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