Os contratos futuros da soja registraram forte alta na CBOT nesta sexta-feira (4) e abalaram a estabilidade que vinham sendo registrada há meses. Subiram ainda os contratos futuros do milho também em Chicago, do café e do açúcar em Nova York, o Ibovespa e as ações da Petrobras. O dólar, na contramão, despencou.
Com a queda da moeda americana, as vendas no Brasil travaram ainda mais e estimularam os ganhos na CBOT, com os principais vencimentos no fechamento superando os 14 centavos. “Não há oferta no físico e os preços começam a reagir em Chicago”, disse o consultor Vlamir Brandalizze. “Aqui no Brasil, a falta de oferta, em parte, se dá pela forte queda do dólar, que influenciou bastante a retração dos vendedores”.
Na semana, o balanço também foi positivo. Os vencimentos mais negociados subiram de 1,63% a 1,81%, com o maio/16, referência brasileira, cotado a US$ 8,78½ o bushel, e o julho/16 a US$ 8,84½.
Não, ainda não se trata de uma mudança de direção das cotações e as incertezas continuam permeando todos os mercados. Os fundos permanecem às margens do mercado diante de todas as decisões que estão sendo tomadas nas principais economias globais. Os movimentos, no entanto, sinalizaram, somente e mais uma vez, as preferências do mercado financeiro brasileiro e internacional e as perspectivas de uma mudança no quadro político do Brasil com o avanço da operação Lava-Jato, que chegou a sua 24ª fase – batizada de Aletheia – e tinha como alvo principal o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Comercialização dos Grãos
Embora os preços tenham subido de forma expressiva na CBOT, a forte queda do dólar pesou severamente sobre os preços da oleaginosa e do milho no Brasil e essa sexta-feira de euforia acabou travando a comercialização no País.
Os vendedores, que já estavam retraídos, se retiraram ainda mais do mercado. Os compradores, por outro lado, foram a mercado, porém, sem sucesso. Os mercados estiveram parados e as principais praças de comercialização terminaram a semana registrando baixas muito expressivas.
No interior, as quedas foram de 3,17%, em São Gabriel do Oeste, Mato Grosso do Sul, com a saca cotada a R$ 61,00, de 12,90% em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso, com a saca recuando de R$ 62,00 para R$ 54,00.
Nos principais portos do País, as baixas foram chegaram a superar os 5%. Em Paranaguá a saca do produto disponível caiu 5,13%, encerrando a semana cotada a R$ 74,00 e a do produto para entrega futura, caindo 4,52%. Já em Rio Grande, a saca da soja disponível foi cotada a R$ 75,50, em baixa de 5,63%, e a saca do produto para entrega maio/16, caiu 3,16%, cotada a R$ 76,50.
“O fato é que com o atual nível de câmbio – dólar x real – o produtor brasileiro vai se conter. Ele espera algum aumento para voltar ao mercado, quando tiver preços melhores. E isto pode vir com altas nos prêmios, nas cotações da CBOT ou o retorno do dólar a melhores patamares ou, até mesmo, com um misto de todos esses fatores. Ou seja, ao aplicar o câmbio, o preço fica bem mais baixo do que ontem, anteontem e nestes dias passados”, disse Camilo Motter, economista e analista da Granoeste Corretora de Cereais.
Além disso, Motter disse ainda que a formação do preço para o produtor que vende é diferente da composição feita pelas indústrias e tradings que compram. “A formação do preço da indústria é uma composição de custos, e a formação do preço do produtor é uma decomposição do preço internacional, transmitido internamente via câmbio. E é por isso que o produtor recua quando o mercado cai, mas as indústrias e tradings seguem no mercado, tentando comprar”, disse.
Há de se acompanhar, porém, os desdobramentos dos acontecimentos desta sexta-feira em que Lula prestou depoimento, indignado, por quase quatro horas na sala da PF em Congonhas após ser conduzido coercitivamente, explicando volumes na casa de R$ 30 milhões em doações e pagamentos que são investigados pelo Ministério Público Federal. A presidente Dilma Rousseff já fez, de Brasília, sua ligação para o companheiro prestando sua solidariedade.
“O mercado já vinha precificando essa hipótese da investigação da Lava Jato se estender até o ex-presidente Lula e o atual governo, tanto que o dólar já vinha, nos último dias, mostrando isso, o que se refletia em um entendimento dos investidores que o cenário político futuro, que uma queda da presidente Dilma, levaria a uma melhoria do cenário econômico”, disse Carlos Cogo, consultor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.
Ainda segundo o consultor, nesta sexta-feira foram reduzidas de forma bastante acentuada as indicações de vendas não só no mercado disponível e futuro com produto desta safra, mas também as operações que vinham sendo feitas com a segunda safra de milho ou até mesmo com a safra de soja 2016/17.
“Em Mato Grosso, por exemplo, nas primeiras indicações desta manhã de sexta, os traders estavam, praticamente, fora do mercado, mas os compradores presentes, já têm preços, em relação à última segunda-feira (29), de R$ 2,00 a R$ 2,50 por saca mais baratos”, disse o consultor. “Enquanto não houver um estancamento no câmbio, o repasse para os commodities vai continuar ocorrendo, não tenho nenhuma dúvida”, disse.
Dólar
Nesta sexta-feira, o dólar fechou o pregão nervoso e volátil em queda de 1,09%, cotado a R$ 3,7607 para venda. Na semana, a moeda norte-americana recuou 5,93% e registrou, o seu maior recuo semanal desde 2008. Na mínima desta sexta, a divisa bateu em R$ 3,6550.
Se esse movimento vai se manter, se intensificar ou se enfraquecer ainda é uma dúvida para os analistas e consultores do mercado. Estão sendo considerados ainda os impactos do depoimento de Lula sobre o governo Dilma, sobre o andamento real do mercado após o estado de euforia observado nesta sexta-feira e da continuidade das investigações.
Como salientou o analista financeiro Miguel Daoud, esse poderia ser um otimismo exagerado e precipitado para o futuro do dólar, uma vez que há ainda fatores externos a serem considerados, além da divisa já contar com um consolidado ponto de equilíbrio entre R$ 3,80 e R$ 3,90.
“O mercado sempre exagera na alta e na queda”, disse. “O mercado futuro é de uma densidade muito grande, e ele se movimenta de acordo com as informações que podem afetar o futuro. E essa operação de hoje é, sem dúvida, uma operação que podem afetar o futuro do Brasil”, disse Daoud.
O momento é, portanto, de observar com atenção os acontecimentos e desdobramentos e, inclusive, aproveitar as oportunidades que podem surgir com esse comportamento do mercado, como a queda do dólar baixando os preços dos insumos que são indexados pela moeda norte-americana.
“O produtor rural tem que ter consciência do momento que nós estamos vivendo”, disse o analista. “Ele tem que tomar as decisões na hora certa. A grande parte dos produtores faz sua negociação com as tradings, então, que eles já amarrem suas relações de forma que seus custos, independente do preço, estarão garantidos, e deixe uma margem para especular”, disse.
Fonte: Notícias Agrícolas