Setor de nozes e castanhas é opção de investimento do agro, afirma Fiesp

Diretor do Deagro/Fiesp, José Eduardo Mendes de Camargo diz que o consumo mundial de nozes e castanhas vem crescendo de 6% a 8% ao ano, enquanto os preços aumentaram 400%, na última década. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp
Diretor do Deagro/Fiesp, José Eduardo Mendes de Camargo diz que o consumo mundial de nozes e castanhas vem crescendo de 6% a 8% ao ano, enquanto os preços aumentaram 400%, na última década. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp

A produção brasileira de nozes e castanhas vem crescendo ano a ano e apresenta boas oportunidades de investimento para o produtor rural. Em 2015, este mercado movimentou US$ 153 milhões, ante US$ 135 milhões no ciclo anterior. A análise foi apresentada por José Eduardo Mendes de Camargo, diretor da área de Nozes e Castanhas do Departamento de Agronegócio da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Deagro/Fiesp).

Os dados foram repassados durante o 5º Encontro Brasileiro e 1º Encontro Latino Americano de Nozes e Castanhas, realizado na segunda-feira, 29 de agosto, na capital de São Paulo. Na abertura do evento, o presidente do Conselho Superior de Agronegócio (Cosag) da Fiesp, João de Almeida Sampaio Filho, afirmou que há espaço para novas culturas em São Paulo, como nozes e castanhas, por exemplo.

“Olhamos para a soja e para a laranja, mas precisamos diversificar. Nesse sentido, as castanhas e as nozes têm tudo para se desenvolver no Estado, que conta com gente preparada para produzir e mercado consumidor”, disse.

Embora o setor esteja em crescimento constante, Camargo salientou que ele ainda é um mercado bastante modesto, considerando que o Chile, por exemplo, saiu de US$ 20 milhões para US$ 350 milhões, em 12 anos. “O País multiplicou a receita em 17 vezes”, calculou o executivo, que também é vice-presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Na mesma linha, Sampaio Filho citou o exemplo da Califórnia, nos Estados Unidos, que produz amêndoas, pistache e nozes em 560 mil hectares e que exportou US$ 7,2 milhões, em 2014.

De acordo com diretor da área de Nozes e Castanhas do Deagro/Fiesp, o consumo mundial de nozes e castanhas vem crescendo na faixa de 6% a 8% ao ano, enquanto os preços desses produtos aumentaram 400% nos últimos 10 anos, segundo dados do International Nut and Dried Fruit Council Foundation (INC), entidade representativa do setor, com sede em Reus, na Espanha, e que realiza reuniões rotativas pelo mundo.

“Nozes e castanhas não podem ser vistas como culturas de fundo de quintal. Se tivermos o mesmo nível de profissionalismo do Chile e da Califórnia e o apoio da pesquisa e do governo, esses produtos podem se tornar um grande negócio para o Brasil”, acentuou Camargo.

Na opinião dele, o Brasil tem feito muito pouco comparado aos dois países mencionados, “por isso, estamos nos organizando como grupo para que possamos nos desenvolver espelhados nesses dois modelos”. A Fiesp também estuda fechar parcerias com órgãos internacionais para ações de estímulo à produção dos nuts no Brasil e na América do Sul.

 

Presidente do Conselho Superior de Agronegócio (Cosag) da Fiesp, João de Almeida Sampaio Filho afirma que as castanhas e as nozes têm tudo para se desenvolver São Paulo, que dispõe de gente preparada para produzir e mercado consumidor. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp
Presidente do Conselho Superior de Agronegócio (Cosag) da Fiesp, João de Almeida Sampaio Filho afirma que as castanhas e as nozes têm tudo para se desenvolver São Paulo, que dispõe de gente preparada para produzir e mercado consumidor. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp

CASE DE SUCESSO

“Este ano, trouxemos um palestrante do Chile para apresentar o case de sucesso deste país da América do Sul, onde existe um grande apoio da pesquisa e de financiamento, que são duas alavancas importantes para o fomento da atividade”, contou e acrescentou que a ideia é mostrar a experiência da Califórnia no evento do próximo ano.

De acordo com o diretor e embaixador para o Chile do International Nut and Died Fruit Council (INC) Siegfried Von Gehr, que apresentou a experiência chilena, o país responde por 6% da produção mundial de nozes e por 11% das exportações. “Vendemos para o exterior 90% da nossa produção”, disse Gehr.

“Além do clima mediterrâneo na zona central do Chile, muito propício à agricultura, incentivamos a produção de muitas formas, como, por exemplo, com uma lei que só permite a venda de alimentos saudáveis, como frutos secos e sementes, nas escolas chilenas”, disse ele, explicando o bom desempenho do segmento naquele país.

Segundo Gehr, a entrada da China no mercado internacional, devido ao aumento do poder aquisitivo de sua classe média, também contribuiu para o crescimento da demanda por nozes e castanhas. “Outro fator importante é o grande número de acordos comerciais firmados pelo Chile, que exporta para países que representam 84% do PIB mundial”, disse.

 

Diretor-embaixador para o Chile do International Nut and Died Fruit Council (INC), Siegfried Von Gehr informou que o mercado chileno responde por 6% da produção mundial de nozes e por 11% das exportações em todo o planeta. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp
Diretor-embaixador para o Chile do International Nut and Died Fruit Council (INC), Siegfried Von Gehr informou que o mercado chileno responde por 6% da produção mundial de nozes e por 11% das exportações em todo o planeta. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp

NOZ PECAN

Presente ao evento, o representante da Pecanita Agroindustrial, do Rio Grande do Sul, Claiton Wallauer destacou a produção da noz pecan. “Essa noz ainda é pouco conhecida no Brasil”, disse. “Nossa meta é trazer cada vez mais renda para o pequeno agricultor, assumindo o desafio da sustentabilidade do campo”, explicou.

Segundo Wallauer, no Brasil, o crescimento da produção de pecan é de 500 a 600 hectares por ano em novas áreas de cultivo.

 

CASTANHA-DO-PARÁ

“A castanha-do-Brasil ou castanha-do-pará (como também é conhecida) é o principal produto ecologicamente amigável, atualmente, e representa a maior fonte de renda do interior do Amazonas”, destacou em seu pronunciamento o gerente de Desenvolvimento do Ciex do Amazonas Daniel Benzecry.

“Quem trabalha com castanha-do-Brasil tem interesse em manter a floresta em pé”, enfatizou o executivo, lembrando que a coleta dessa cultura depende da floresta, da preservação das árvores.

De acordo com Benzecry, a Bolívia responde por 70% da produção mundial de castanha e é também uma grande compradora do produto brasileiro. “Em 2015, 90% da castanha com casca do Brasil (o equivalente a 17 mil toneladas anuais) foram importadas pela Bolívia e pelo Peru, o que mostra o nosso potencial e também a importância de processar o produto internamente”, enfatizou.

 

BARU

Por sua vez, Peter Oliveira, diretor comercial da Flora do Cerrado, de Goiás, é entusiasta do baru, castanha extraída do fruto da árvore baruzeiro, considerada um símbolo do cerrado brasileiro e que vem ganhando espaço nessa região. Atualmente, há produção do baru nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins.

“A castanha de baru é antioxidante, rica em cálcio, fósforo e manganês, ajudando a combater a anemia e fortalecer os ossos”, descreveu as vantagens do produto.

 

MACADÂMIA

Outra cultura com grande potencial econômico para o Brasil é a noz macadâmia. Segundo Ricardo Picard da Tribeca Agroindustrial e Comercial, do Rio de Janeiro, a macadâmia representa apenas 2% das vendas mundiais do setor. “No Brasil, pequenas e médias empresas podem conseguir um bom retorno econômico em médio prazo, durante muito tempo, pois o ciclo produtivo da planta pode durar até 70 anos”, dimensionou.

São Paulo é o maior produtor de macadâmia do Brasil, com 48% do total, seguido do Espírito Santo (16%), Minas Gerais (13%), Bahia (10%) e Rio Janeiro (8%).

A QueenNut Macadamia possui 400 hectares próprios, viveiro de mudas e indústria processadora em Dois Córregos, no interior de São Paulo. “Além da produção própria, também processamos noz macadâmia de 20 fornecedores parceiros, totalizando duas mil toneladas anuais de noz em casca”, informou a diretora da empresa, Maria Teresa Egreja Camargo, em entrevista à equipe SNA/SP.

 

Maria Teresa Egreja Camargo, da QueenNuts Macadamia
“Temos, hoje, uma demanda muito maior que a oferta, o que representa uma oportunidade interessante para os agricultores que queiram diversificar as atividades”, garante Maria Teresa Egreja Camargo, da QueenNuts Macadamia. Foto: Helcio Nagamine/Fiesp

 

REFERÊNCIA

“Em mais de 20 anos de existência, a QueenNut Macadamia tornou-se referência em produtos de qualidade, abrindo mercados da Europa, Estados Unidos, Ásia e América Latina, assim como está desenvolvendo o mercado nacional para esse produto”, conta Maria Teresa.

“Temos, hoje, uma demanda muito maior que a oferta, o que representa uma oportunidade interessante para os agricultores que queiram diversificar as atividades em sua propriedade”, garante.

De acordo com a diretora da QueenNut Macadamia, a produtividade dos pomares adultos chega a quatro toneladas por hectare, o que garante o faturamento anual de R$ 30 mil por hectare, gerando lucro de aproximadamente R$ 15 mil por hectare, superando as culturas tradicionais.

“Conseguimos cadastrar a noz Macadâmia para o financiamento na linha ABC, com cinco anos de carência e pagamento em 12 anos”, conta e acrescenta que, além disto, é possível realizar o consórcio com cereais, o que ajuda no financiamento da cultura até que a mesma comece a produção, a partir do quinto ano, chegando à estabilidade por volta dos dez anos.

 

MAIOR PROCESSADORA

Conforme Maria Teresa, a QueenNut Macadamia é a maior processadora brasileira, com cerca de 2.000 toneladas anuais de noz em casca que são transformadas em vários produtos, de nozes inteiras a farinha, passando por de óleo e pasta de Macadâmia, até o produto torrado e em sabores embalado para a comercialização no varejo.

“Metade da produção atende à demanda do mercado interno e metade às exportações”, diz a diretora acrescentando que a empresa tem as certificações HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points), voltada para a segurança alimentar, e kosher – que estabelece padrões para a comercialização com a comunidade Judaica.

“Por ser uma cultura diferente e de longo prazo, nosso desafio tem sido comunicar as vantagens do plantio da noz Macadâmia em relação às outras lavouras”, informa.

 

Por equipe SNA/SP

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