Seguro Rural: Perdas elevadas reduzem apetite de seguradoras

 

As perdas no campo, em decorrência do clima adverso nas últimas safras e o impacto desses prejuízos nas contas das seguradoras, têm diminuído o apetite das empresas pelo mercado de seguros agrícolas no Brasil.

Indenizações

Segundo o Diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Ministério da Agricultura, Jônatas Pulquério, pelo menos duas das 17 seguradoras habilitadas para ofertar seguro rural no País não estão operando produtos para o campo neste ano. Em 2022, o valor de indenizações pagas ao segmento foi de R$ 10.5 bilhões, aumento de quase 50% em relação ao ano anterior.

“Temos 17 seguradoras habilitadas, algumas delas não estão operando este ano, pois não foi possível ter resseguro. Algumas delas, por conta do alto risco dos dois últimos anos, não conseguiram acesso ao aporte e não quiseram assegurar o risco sozinhas, preferiram sair do mercado”, disse o Diretor durante debate sobre o tema no Superior Tribunal de Justiça (STJ) ontem. “O mercado ainda está sofrendo, está se reerguendo das últimas duas ou três safras”.

Aumento da sinistralidade

A Presidente do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), Raquel Marimon, afirmou no evento, que o aumento da sinistralidade nas últimas safras eleva o risco observado no país pelas resseguradoras e gera impacto direto no preço do seguro cobrado dos produtores. “Essas seguradoras que saíram do mercado, se não tivessem resseguro, teriam fechado as portas. Esse mercado exige resiliência”, disse.

Ela lembrou que as seguradoras corrigiram os preços em 2022, após efeito da seca na produção em 2021, e o resultado foi menos contratos fechados e área coberta menor. “As seguradoras que corrigiram os preços fecharam metade dos negócios, mas se gastou o mesmo valor de subsídio”, disse.

Suplementação do orçamento

Se não houver suplementação do orçamento para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), a realidade será a mesma, disse Jônatas Pulquério. O Ministério da Agricultura tem cerca de R$ 1.06 bilhão para aplicar. Desses, R$ 415 milhões estão reservados para o início da safra de soja e milho, a partir de julho, mas não deverão durar nem um mês.

A meta é dobrar o orçamento para R$ 2 bilhões para conseguir chegar perto dos números de 2021, quando o PSR cobriu 14 milhões de hectares, com 217.000 apólices, mais de 121.000 produtores atendidos e R$ 68.2 bilhões de valores segurados. Com R$ 2 bilhões, o valor segurado poderia passar de R$ 86 bilhões.

No ano passado, com o mesmo orçamento de 2021, mas com preços maiores dos seguros, os números caíram para 7 milhões de hectares, 125.000 apólices emitidas para 78.000 produtores e valor segurado de R$ 43 bilhões.

“Os R$ 415 milhões só serão liberados a partir de julho, porque se liberar o R$ 1 bilhão no início do ano, a safra do 1º semestre consome todo recurso e quando chega a primeira safra, soja e milho, que tem maior demanda, já íamos chegar em julho sem nenhum valor”, disse Pulquério.

“Em menos de três semanas esse valor será consumido na sua totalidade. Quem planta mais tarde, quando for buscar não tem mais acesso à parcela subvencionada do seguro. A gente trabalha para que haja esse adicional, sem isso vamos ter muita dificuldade para trabalhar”, completou.

Dos R$ 648.3 milhões reservados para aplicação na subvenção de grãos de inverno e verão, floresta, frutas, seguro pecuário e de outras culturas no primeiro semestre, menos de R$ 70 milhões estavam disponíveis para contratação nesta semana. Quase R$ 580 milhões já estavam comprometidos, segundo o Ministério da Agricultura.

Preço médio

A apresentação do Diretor do Ministério da Agricultura mostrou que o preço do prêmio médio por hectare saltou de 2019 para cá. Na cultura da soja, por exemplo, os valores saíram de cerca de R$ 100,00 para R$ 500,00 em 2022. No milho primeira safra a evolução foi de R$ 200,00 para quase R$ 700,00. Trigo e milho segunda safra passaram de cerca de R$ 200,00 para quase R$ 500,00.

O Diretor disse que em setembro será instalada uma Câmara Temática de Gestão de Risco no Ministério. Hoje, o tema está dentro da Câmara de Crédito.

Fonte: Valor
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