Os efeitos negativos da seca no mercado de café devem se prolongar por, pelo menos, mais dois anos, mesmo com o retorno das chuvas, segundo prevê o Sindicato da Indústria de Torrefação e Moagem de Café do Espírito Santo (Sincafé). A queda na produção, que antes afetava apenas a cadeia produtiva, agora causa prejuízos para o bolso do consumidor final.
De um lado, por causa da seca, os produtores rurais ficaram sem grãos para comercializar, os estoques quase zeraram e o preço da saca deu um salto, chegando a R$ 461,00/conilon tipo 8. A falta de produto no mercado, por outro lado, fez o preço do café subir mais de 43%, nos últimos 12 meses, nas prateleiras dos supermercados. Os dados do Sincafé apontam que 35% dessa alta aconteceu somente nos últimos 30 dias. A explicação para isso está no fato de que, além de faltar café no mercado, a demanda pelo produto no mundo tem aumentado, em média, 5% ao ano.
Mas tem gente que não abre mão do cafezinho, como o bancário Vilker Zucolotto Pessin. “Eu tomo muito, principalmente o expresso, mesmo com o preço mais alto”, disse.
No Brasil, o crescimento anual do consumo é de 3,5%. Segundo o presidente do Sincafé, Egídio Malanquini, no Espírito Santo e no sul da Bahia, a quebra na safra de 2016 foi de 40%. “Houve um crescimento na produção de arábica, mas que não supera a queda do conilon. Como o Espírito Santo é o segundo maior produtor, isso refletiu em nível nacional, em termos de produção e preço”, disse.
Outro efeito da quebra de safra do conilon está na mudança nos chamados “blends”. A indústria tem utilizado, em média, menos de 10% de conilon na mistura que chega ao consumidor. Em períodos normais de produção, essa proporção era de 45%, sendo o restante composto por café arábica.
Mercado
Por ser uma commodity vendida no mercado internacional, o café tem o preço atrelado às oscilações no mercado externo. Como a população mundial tem consumido mais café a cada ano, e alguns países, por questões climáticas, não tiveram uma safra exitosa, o preço dos grãos subiu.
Dessa forma, as indústrias que processam e comercializam café no mercado brasileiro enfrentam a concorrência das indústrias estrangeiras, que também buscam o café brasileiro. Outro empecilho para as indústrias é o fato de o Brasil ter regras que inibem a importação dos grãos, recursos que poderiam ser uma saída para forçar a queda no preço em períodos de baixa produção – mas que é rechaçado pelo setor produtivo, que perderia em competitividade.
Como a importação em larga escala sendo algo inviável, o mercado interno tem remunerado bem, o que diminui o volume de exportações, avalia o presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória, Jorge Luiz Nicchio. Ele alerta, porém, que a safra de 2016 vai cumprir, “em cima da risca”, a demanda de consumo interno e de exportação. “Em 2017, vamos entrar na safra com estoque praticamente zerado”, disse. Nicchio reforça que, com a indústria tendo de pagar mais pelo café verde, o repasse do aumento para o consumidor se torna algo inevitável.
Para se ter uma ideia, em 2013 e 2014 – quando a seca ainda não era severa – 45% do café torrado e moído no Brasil era conilon. Isso quer dizer que, do consumo anual de 20 milhões de sacas, nove milhões eram de conilon. Com a queda de safra, a partir de 2015 a indústria foi diminuindo o percentual do “blend”, o que também puxou para cima o preço do arábica. A produção brasileira de café em 2016 foi de 50 milhões de sacas.
Fonte: G1