Diversos Estados brasileiros, que juntos contabilizam em torno de 94 milhões de cabeças de gado, deixaram de registrar casos de febre aftosa no país. “A retirada da vacina contra a aftosa resultaria em uma economia de cerca de R$ 600 milhões por ano”, calcula Sebastião Costa Guedes, presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa), vice-presidente de Relações Internacionais do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC) e presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária (Abramvet).
Algumas das prioridades destacadas por ele, durante a Assembleia Geral Ordinária do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), realizada no último dia 16 de março, em São Paulo, foram a erradicação total da doença, a retirada da vacina e o desenvolvimento de um plano estratégico para a pecuária brasileira, com alternativas para a produção, a indústria, a distribuição, a comercialização de carnes e o consumo.
Segundo Guedes, “é um absurdo transferir R$ 600 milhões do bolso do produtor rural para o segmento industrial que, por causa da obrigatoriedade da vacinação, fica em uma situação bem confortável”.
“O Brasil deve iniciar a retirada da vacinação imediatamente, pois, de acordo com estudos epidemiológicos, ela representa uma grande transferência de recursos do setor primário para o segmento industrial”, argumenta o executivo, acrescentando que há duas opções para retirada da vacinação: ou por faixas etárias do rebanho ou por questões geográficas.
Conforme o presidente do Giefa, o Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) considera seguro que, após quatro anos sem a ocorrência da doença, a vacinação possa ser retirada.
“No Brasil, há áreas que estão livres da febre aftosa há mais de 20 anos, portanto, estamos gastando desnecessariamente na compra e na aplicação da vacina. Precisamos pensar em soluções para deixar de onerar ainda mais o pecuarista”, justifica.
Ainda sobre a situação atual da febra aftosa no Brasil, ele informou que estudos do CNPC mostram que oito Estados estão sem a ocorrência de aftosa há mais de duas décadas, o que representa em torno de 94 milhões de cabeças; 13 Estados estão sem o foco da doença entre 15 e 20 anos, representando 65 milhões de cabeças; e outros quatro estão sem aftosa entre dez e 15 anos, o equivalente a cerca de 53 milhões de cabeças.
“Ainda temos Santa Catarina, que desde 1999 está livre de aftosa sem vacinação. Portanto, são 4,3 milhões de cabeças sem a doença. Isso baliza nosso pensamento de que retirar a vacinação, além de reduzir os custos, é algo viável e praticável”, reforça Guedes.
Ela ainda cita os Estados de São Paulo e Mato Grosso, que estão acenando para a possibilidade de aderirem à não vacinação, algo que já havia ocorrido em um passado recente com o Paraná, mas que não foi possível pelo atraso na finalização das obras de fronteiras.
OUTRAS AÇÕES
Dentro do plano de erradicação da doença e da retirada da vacina, Guedes relata que, juntamente com o ministro Blairo Maggi, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, irá participar da reunião da Comissão Sul-Americana para Luta Contra a Febre Aftosa (Cosalfa), que será realizada entre os dias três e sete de abril, no município de Pirenópolis (GO).
“É totalmente viável a retirada da vacinação, e outros países podem utilizar a estratégia, desde que tenham condição sanitária para tanto, porém, é fundamental um controle de fronteiras para que o processo seja bem-sucedido”, analisa o presidente do Giefa.
Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela e Uruguai também integram o Cosalfa. A reunião terá como objetivo discutir as melhores estratégias para a retirada da vacinação contra aftosa.
PARTICIPAÇÃO
Durante a Assembleia Geral Ordinária do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), Guedes disse que considera fundamental a participação das entidades do setor no processo de retirada da vacinação.
“Quanto mais adeptos tivermos, melhor, pois acredito que todos serão beneficiados com essa resolução”, disse ele, na ocasião. “Espero que outras entidades, assim como a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) também se posicionem a favor dessa medida de erradicação da doença e eliminação da vacina”, acrescentou.
Por equipe SNA/RJ