Representantes do agro avaliam o crescimento sustentável do setor

Os sistemas agroflorestais são alguns dos exemplos de soluções sustentáveis do agronegócio brasileiro que devem ser mostradas para o mundo, afirmou o professor Marcos Jank durante o Enaex 2020. Foto: Pixabay

O presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antônio Alvarenga, participou como moderador do primeiro painel do Encontro Nacional de Comércio Exterior (ENAEX 2020), realizado nesta quinta-feira, por videoconferência, pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), reunindo alguns representantes do agronegócio.

“O agro brasileiro está dando uma demonstração inequívoca de competência”, disse Alvarenga ao abrir o painel “O Agronegócio gerando crescimento sustentável e empregos, no presente e no futuro”.

Na ocasião, o presidente da SNA destacou os recordes sucessivos registrados nas exportações, a conquista de novos mercados e a capacidade do agro em superar a atual crise, garantindo produção e abastecimento.

Por outro lado, salientou que o setor “precisa melhorar a sua comunicação para que possa mudar sua imagem” e ressaltou os esforços da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), junto a outras entidades do agro para a elaboração de um plano estratégico de comunicação.

Alvarenga também falou sobre os avanços no setor de logística, destacando o aumento das exportações pelo Arco Norte, que, segundo ele, garantem mais competitividade para o agro. “Este ano, as exportações vão bater todos os recordes de receita”, disse.

Funrural

Ainda no início do encontro, o presidente da AEB, José Augusto de Castro, anunciou que uma ação de inconstitucionalidade movida pela Associação, referente à cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) sobre as receitas das exportações indiretas, recebeu, nesta semana, parecer favorável do Supremo Tribunal Federal (STF)”.

Essa iniciativa, segundo Castro, “irá beneficiar um grande número de produtores, dos mais variados segmentos do agronegócio, que a partir de agora estarão automaticamente desonerados dessa cobrança”.

Política

Cesário Ramalho, presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), reforçou as expectativas positivas com relação às exportações e defendeu “uma política pública adequada” para reestruturar e fortalecer as terras brasileiras e incentivar os agricultores com financiamentos de longo prazo a juros compatíveis, para reduzir os riscos climáticos e aumentar a produção.

Ramalho comentou que os estoques brasileiros “foram quase a zero”, e que é preciso aumentar a produção de milho. Segundo ele, neste ano o País não conseguiu atender à demanda de principais clientes como o Japão e o Egito. A Abramilho estima que a produção de milho no Brasil atinja um volume entre 150 milhões e 200 milhões de toneladas em 2030.

Estados Unidos

Ao comentar a eleição de Joe Biden para a Presidência dos EUA, o presidente da Abramilho afirmou que a escolha não deverá afetar o agro brasileiro, pois, segundo ele, “o País é extremamente eficiente e competitivo em sua produção”.

Por outro lado, acrescentou que o novo governo dos EUA irá proporcionar um comércio internacional “menos politizado”, devendo resgatar as relações com as organizações multilaterais e restaurar a participação americana no Acordo de Paris, promovendo “um debate equilibrado” sobre meio ambiente.

“Precisamos de mais coordenação entre os países para lidar com problemas da atual crise e o Biden está trazendo isso”, disse Marcos Jank, professor sênior de Agronegócio e coordenador do Centro Insper Agro Global.

Alguns participantes da videoconferência também concordaram com a retomada da agenda entre Brasil e EUA. “É preciso trabalhar uma agenda pró-ativa, construir um diálogo positivo que priorize a questão da segurança alimentar nos dois países, entre outros temas”, comentou o vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gedeão Pereira.

Por sua vez, Jank defendeu uma cooperação maior com a China, pautada por mais previsibilidade e transparência no comércio. “Temos grandes oportunidades com esse país. Não precisamos ficar muito dependentes de soja. Podemos diversificar”.

Código Florestal

A legislação brasileira sobre meio ambiente também foi um dos temas em debate durante o encontro. Cesário Ramalho ressaltou a importância do Código Florestal, mas observou que o assunto não é tratado como prioridade.

“A questão ambiental está nos afetando seriamente. Lei existe, mas falta aplicação. O governo não fala sobre o Código e estamos sendo culpados injustamente por prejudicar o meio ambiente. Essa questão deve ser revertida a favor dos produtores e também dos empresários”.

“95% dos desmatamentos no País são ilegais. O Brasil precisa cumprir o Código Florestal. A Amazônia precisa de fiscalização, mas sem titularização de terras isso não é possível”, enfatizou Jank.

“Em vez de ficarmos nos defendendo de críticas, temos de mostrar nossas soluções para o mundo nas áreas de biocombustíveis, sistemas agroflorestais, programas de baixo carbono, etc. A agenda tem de ser atacada de frente, com muito diálogo”.

“Somos detentores de 27% das florestas mundiais. Dispomos de uma legislação moderna como o Código Florestal. Temos escritórios em alguns países para informar sobre a realidade da produção brasileira. Estamos mostrando a cara”, ressaltou Francisco Turra, presidente do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), acrescentando que a recente visita de embaixadores à Amazônia colaborou de forma considerável para o resgate da imagem do País.

Carnes

Turra lembrou ainda que, mesmo durante a pandemia, a pecuária manteve a produção no mercado interno, o consumo de proteína animal aumentou com o auxílio emergencial do governo e houve excedente para exportação. “O consumo de aves, por exemplo, aumentou de 42% para 45%”, afirmou o presidente da ABPA.

Ele acrescentou que no atual cenário as perspectivas são boas, com empresas recuperadas judicialmente, plantas novas começando e outras programadas para entrar em atividade. “Nossa produção de aves corresponde a 13% da produção mundial. Em matéria de suínos, estamos exportando 40% a mais do que no ano passado. Temos sanidade, sustentabilidade, qualidade e vocação. Mas precisamos ser pró-ativos”, disse.

Desafios

Para Jank, sustentabilidade, sanidade e infraestrutura ainda são desafios do setor. “Estamos sendo vistos como vilões. Ao mesmo tempo somos vítimas das mudanças climáticas. Mas as soluções que temos de encontrar não estão no uso da terra, e sim no setor de energia limpa, pois 73% das emissões de carbono do mundo não estão ligadas ao uso da terra e sim ao uso de combustíveis fósseis. Temos também de valorizar nosso sistema integrado de produção”.

O coordenador do Insper mencionou ainda os avanços na área de logística, principalmente em relação à abertura de novas ferrovias, disse que o Brasil evoluiu em infraestrutura de exportação, mas enfrenta problemas de abastecimento de milho e soja no País, e chamou a atenção para uma eventual possibilidade de taxação das exportações, o que, segundo ele, prejudicaria o setor.

Jank estimou as exportações brasileiras do agro, para este ano, com foco nos países asiáticos, em US$ 100 bilhões, e um crescimento de 5% do PIB do setor.

“A China, por exemplo, aumentou sua participação nas importações do Brasil de 34% para 40%, com crescimento de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões. O mercado do sudeste da Ásia também tem crescido muito, com as importações aumentando em torno de 22%”, disse.

Frutas

No setor de fruticultura, Luiz Roberto Barcelos, diretor da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), destacou que o Brasil é o terceiro produtor de frutas do mundo e o 23º exportador, e que a atividade consegue gerar sustentabilidade e empregos, principalmente em regiões carentes como as do semiárido brasileiro.

Barcelos explicou que a fruticultura irrigada precisa da seca para se desenvolver, por meio da utilização de aquíferos (reservatórios de água) e sistemas de transposição de rios. “O semiárido não é sinônimo de pobreza. O clima ajuda na atividade, que gera muita mão de obra, atende às necessidades do mercado externo e contribui para a distribuição de renda”.

Segundo o diretor da Abrafrutas, a fruticultura, para que seja sustentável, precisa estar apoiada em segurança alimentar, que inclui, entre outros aspectos, o correto uso de defensivos; responsabilidade social, que abrange o cumprimento de normas de produção, e proteção ao meio ambiente.

Barcelos também chamou a atenção para o desafio de melhorar a imagem do Brasil no exterior, e informou que a Abrafrutas desenvolve um trabalho para informar sobre o desempenho sustentável do agro brasileiro, mostrando a importância da fruticultura que, segundo ele, continua a abrir novos mercados.

 

Fonte: AEB

Equipe SNA

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