Redução de combustíveis fósseis no transporte marítimo assinala vitória do agronegócio brasileiro

Mudança pode ajudar país a incrementar embarques nos próximos anos e décadas, além de fomentar o setor de biocombustíveis. Imagem de tawatchai07 no Freepik

País já é referência na produção de biocombustíveis

A Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) aprovou em abril uma versão preliminar do acordo que pretende reduzir, gradualmente, os combustíveis fósseis no transporte marítimo. O entendimento final deve sair ainda esse ano, e almeja zerar as emissões de carbono por navios cargueiros até 2050. A nova regulamentação beneficia diretamente o agronegócio brasileiro, que já é um expoente na produção de biocombustíveis.

O Brasil enfrentou forte resistência durante as tratativas, sobretudo no tocante à substituição do bunker, combustível fóssil utilizado por navios. Países europeus vinham defendendo soluções como eletrificação ou emprego de combustíveis derivados do hidrogênio, a exemplo do metanol. Essas alternativas seriam bem mais caras, demandando bilhões de dólares em investimentos de infraestrutura e adequação das embarcações.

A principal alegação dos europeus era que a utilização de produtos como milho, soja e cana na fabricação dos biocombustíveis poderia aumentar a demanda por essas commodities, elevando seu preço e gerando escassez. Mas a delegação brasileira esteve preparada durante todo o ciclo de debates para defender uma solução mais alinhada aos interesses nacionais, além de comprovadamente mais correta do ponto de vista ambiental.

Análises respaldadas

Para isso, contou com respaldo científico de centenas de estudos minuciosamente revisados, num esforço capitaneado pela Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O levantamento derrubou a resistência ao etanol e ao biodiesel, apontando que, entre 224 análises revisadas, dois terços mostram que o uso de biocombustíveis não tem impacto na disponibilidade dos alimentos empregados na sua fabricação. Em alguns casos, a bioenergia chega a aumentar o acesso à comida, o que no panorama brasileiro se verifica especialmente nas regiões de baixa renda.

Ainda no caso do Brasil, o aumento da demanda por milho para produção de etanol não reduziu a oferta do grão, tanto para os alimentos quanto para uso em ração animal nos mercados doméstico e internacional, considerando a pujança do país como exportador do produto e seus derivados.   Já na cana de açúcar, os estudos mostraram que a alternância com os cultivos de amendoim e soja reduz o uso de fertilizantes, preservando a biodiversidade local e robustecendo a renda na mesma área produtiva. Esse revezamento também é positivo quando se dá entre a soja e o milho, para geração de etanol, permitindo a produção conjunta de alimentos, ração e energia.

Em síntese, os estudos reunidos e analisados pela delegação brasileira contribuíram para o encaminhamento das tratativas na IFO em direção favorável aos interesses nacionais, revelando, além do que já se mencionou, que a produção dos biocombustíveis leva à inovação do agronegócio no país, modernizando a agricultura, desenvolvendo novas e melhores práticas de manejo, o que tornou a produção mais expressiva e sustentável ao mesmo tempo. Os indicadores socioeconômicos também reagem positivamente, com a geração de empregos diretos e indiretos.

Próximos passos

Entre os principais pontos do novo marco estão o padrão global de combustível, que exige redução progressiva da intensidade anual, medida pela emissão de gases por unidade de energia consumida ao longo de toda a cadeia de produção.

Será criado também o Fundo Net-Zero da IMO, que receberá contribuições financeiras provenientes das emissões excedentes, uma espécie de multa. Esses recursos serão utilizados para recompensar navios com baixa emissão, financiar inovação tecnológica, infraestrutura e iniciativas de transição em países em desenvolvimento.

Como se vê, o Brasil e seu agronegócio chamaram para si a responsabilidade da transição energética, protagonizando mais essa negociação bem sucedida e enfrentando a pressão de outros países. Um dos líderes desse movimento, o país tem condições de até dobrar a produção de biocombustíveis e atender às demandas da transição energética, segundo Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio).

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290) marcelosa@sna.agr.br

Com informações complementares da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio).

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