O comércio mundial de lácteos sofreu uma série de golpes nos últimos três anos e deve continuar a enfrentar “ventos contrários”, afirma relatório do banco holandês Rabobank sobre o “mapa do mercado de lácteos” divulgado ontem. A expectativa do banco é de que nos próximos três anos o crescimento no comércio do setor diminua ligeiramente depois de um avanço de apenas 0,3% entre 2015 e 2014.
O relatório elenca, entre os golpes sofridos por esse mercado, nos últimos três anos, o embargo comercial russo, a desaceleração do crescimento da demanda da China, o impacto dos preços baixos do petróleo na demanda dos países exportadores do produto e o fortalecimento do dólar. Além disso, segundo o Rabobank, o aumento da produção de leite após o fim do sistema de cotas na União Europeia (a partir de abril de 2015) também afetou o mercado e levou a um período de preços internacionais extremamente baixos.
“E quando olhamos para frente vemos que nenhuma dessas questões foi resolvida”, disse Kevin Bellamy, estrategista global de lácteos do Rabobank no relatório. Ele observa que o embargo russo a alguns produtos do Ocidente – após sanções que foram impostas ao país por conta do conflito na Ucrânia – deve continuar ao menos até o fim de 2017.
Bellamy acrescenta que a demanda da China continuará a crescer, mas a uma taxa menor, que os preços do petróleo devem permanecer na casa dos US$ 50 o barril e que a alta do dólar ante outras moedas deve persistir. “Como resultado, o comércio de lácteos deve crescer a uma taxa menor do que em anos recentes, puxado mais pelo crescimento da população do que pelo aumento do consumo per capita”, destaca o relatório.
Para o banco, “felizmente” isso acontece num momento em que há dificuldade de ampliar os excedentes exportáveis de lácteos de forma rápida nos países exportadores. Isso porque um maior avanço na Nova Zelândia – responsável por 28% das exportações mundiais de lácteos – está limitado pela disponibilidade de terra no país; há estabilização da produção na Europa depois da remoção do sistema de cotas; e as ambições exportadoras dos EUA são limitadas pelo crescimento da demanda doméstica e pelo dólar forte.
Ademais, o comércio de lácteos deve seguir dominado por rotas regionais mais do que por rotas globais, com tratados de livre comércio influenciando sobremaneira os volumes. A exceção, segundo o Rabobank, será a Ásia, que continuará a ser “um campo de batalha altamente competitivo para os exportadores (de lácteos) ao redor do globo”.
E tudo isso deve ser combinado com o potencial de renegociação ou o cancelamento de acordos comerciais após a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, disse o banco holandês.
Diante desses fatores, o banco estima que nos próximos três anos o crescimento no comércio de lácteos irá diminuir ligeiramente. Para o Rabobank, deve haver menor crescimento dos volumes importados pela China, porém, com maior foco em valor. Isso significa que, enquanto a volatilidade deve continuar, aumentos nos preços médios no longo prazo devem ser limitados.
As incertezas no mundo de hoje também podem ter impacto importante sobre o comércio global de lácteos, observa o Rabobank. Entre eles estão a eleição de Donald Trump nos EUA, as incertezas nas relações com Rússia, as incertezas no Oriente Médio, o desempenho da economia chinesa, o Brexit e o destino da Parceria Transpacífico (TPP) e da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP).
Fonte: Valor Econômico