Novo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no último dia 28 de agosto, apontou uma queda de 2,7% no Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no segundo trimestre de 2015 (abril, maio e junho) em relação aos três meses imediatamente anteriores (janeiro, fevereiro e março). A redução foi atribuída, principalmente, à desaceleração da produção de soja, vista pelo diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Fernando Pimentel como normal.
“As perdas da soja ocorreram de forma pontual em Goiás e no MAPITOBA (região que engloba os Estados de Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará). Mesmo assim, a safra foi positiva. O segmento agrícola teve queda, enquanto o pecuário cresceu no segundo trimestre do ano. Na agricultura, esta queda de preços (para a agricultura) explica impacto negativo do PIB agrícola”, comenta.
Apesar da queda de abril a junho deste ano, o Produto Interno Bruto agropecuário acumula alta de 3% no primeiro semestre de 2015 se comparado a igual período do ano passado. Já o PIB geral, que inclui outros setores da economia brasileira, caiu 1,9% no trimestre avaliado pelo IBGE e registrou uma diminuição de 2,1% no primeiro semestre e de 1,2% em 12 meses.
Na visão do diretor da SNA, “a alta do dólar poderá influenciar positivamente no PIB do segundo semestre, apesar de os preços em USD (moeda norte-americana) estarem mais baixos”.
Pimentel destaca ainda que, no segundo trimestre de 2015, as principais perdas de valor ocorreram em alguns dos principais produtos agrícolas – milho, algodão, arroz, soja e trigo.
“Apesar da compensação do dólar alto, o valor em reais, na maioria dos casos, caiu. Já na pecuária, a entressafra na oferta de boi gordo e o vigor nas exportações de carne, puxadas pela desvalorização do real, explicam a melhor situação da pecuária de corte.”
CAFÉ
Outro segmento que afetou o PIB agropecuário negativamente, no segundo trimestre de 2015, foi o de café, que vem registrando safra menor.
“No café, as perdas de produção foram bem mais significativas que na soja. A colheita, ainda em curso, mostra que os números podem piorar ainda mais um pouco, pois os grãos em muitas regiões do Sul de Minas estão pequenos, o que impacta na produtividade.”
SOJA E CAFÉ
De acordo com o IBGE, 61% da safra de soja são concentrados no primeiro trimestre e outros 36% no segundo trimestre. Além disto, agora é que entrarão os dados da safra de café, que continuam com perspectiva ruim para 2015.
“O cronograma de comercialização da soja é este mesmo, pois a safra brasileira deste grão, colhida de janeiro a abril, deve escoar antes da entrada, em setembro, das safras de soja do Hemisfério Norte, principalmente Estados Unidos e China. Já o café começou a ser colhido em julho para ser escoado agora (no segundo semestre de 2015), depois deve reduzir o ritmo no primeiro semestre de 2016”.
Para Pimentel, “sem dúvida, os problemas no café deverão impactar os próximos meses, porém a questão cambial poderá minimizar este efeito, já que a alta do dólar está coincidindo com o melhor momento das vendas do café”.
PERSPECTIVAS
“A agropecuária tende a ser o único setor positivo em um ambiente de perdas em geral. Para 2016, já temos de nos preocupar mais, porque a restrição de crédito poderá afetar muito o setor, ao contrário do que ocorreu na crise de 2008”, acredita o diretor da SNA.
No entendimento dele, “o peso deve continuar sobre os ombros do produtor rural brasileiro”. “Esta é uma missão histórica da agropecuária: servir de âncora cambial e atenuar a volatilidade do PIB em condições econômicas adversas. O setor trabalha forte para não ser reconhecido positivamente pela sociedade como um todo. O produtor é visto como ameaça ambiental, quando, na verdade, é ele quem mantém a roda girando nessas horas.”
ORÇAMENTO
O diretor da SNA ainda destaca os cortes sofridos no orçamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. “O orçamento do Mapa foi cortado e o próprio Ministério está precisando de ajuda. Historicamente, o agronegócio tem sobrevivido e prosperado em cima de uma máxima, que é a da menor intervenção estatal possível. Só assim evoluímos.”
No início de agosto, o setor agropecuário foi surpreendido com o anúncio de um novo corte, o segundo do ano, nos recursos destinados ao Ministério da Agricultura, em um montante de R$ 287,2 milhões, o equivalente a 15%, passando a ter um limite global de R$ 1.935 bilhão. Em maio, foi cortado R$ 1,395 bilhão, pouco antes do anúncio do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2015/16, feito no início de junho.
Na opinião de Pimentel, há falhas por parte do governo federal, que vão além do corte do orçamento. “Nos lugares que precisamos do Estado, no que tange à vigilância sanitária, registro de produtos, vias de escoamento e armazenagem, e segurança jurídica no campo, entre outros, não temos tido a contrapartida que deveria vir do recolhimento dos impostos gerados pelo setor. E isto é lamentável.”
Por equipe SNA/RJ