O acréscimo de 2% nas taxas de juros, fixados a 8,5%, e o financiamento a tarifas livres para custeio, estabelecidos pelo Ministério da Agricultura neste mês através do Plano Safra 2015/ 2016, já ocasionaram escassez de crédito nos bancos.
Sendo assim, para adquirir os insumos – que estão mais caros – o setor produtivo se volta para os fornecedores em busca de financiamento, mesmo que o custo deste recurso seja ainda maior.
Em entrevista ao DCI, o gerente de crédito e cobrança da Yara Fertilizantes, Mathias Friendrich, conta que identificou aumento na demanda por custeio direto com a companhia. “A diferença das tarifas praticadas entre as linhas do governo e as empresas depende de diversos fatores, dentre eles o tamanho do cliente. Cada fornecedora de insumos aplica o juro de uma forma, mas podemos dizer que, em média, as taxas são 40% maiores”, disse. Anualmente, a empresa fatura cerca de R$ 4 bilhões a prazo.
Para o executivo, a medida denota comportamento de risco por parte do produtor que, capitalizado, tenta fugir de juros mais altos. Na atual conjuntura econômica e de aumento nos custos, o agricultor vai conseguir adquirir o insumo a prazo, porém, a despesa financeira aumenta e prejudica investimentos posteriores.
“Os bancos, que antes suportavam o cliente com as linhas de crédito para giro, agora fazem os pagamentos e não renovam o contrato”, acrescentou Friendrich.
Alternativa
Neste cenário, uma das modalidades de negociação que tem se destacado é o “barter”, configurado por meio da troca de insumos pelo produto final, seja este saca de grãos ou até mesmo máquinas agrícolas.
Luís Flávio Araújo, gerente da companhia Ceagro – que opera com “barter” – diz que a escassez de crédito neste ano favorece a expansão da modalidade. “Quando o produtor tem menos dinheiro no bolso, ele está aberto a fazer as operações de troca, este é o ponto positivo”, enfatizou. Em contrapartida, no momento, o preço futuro do grão não cobre o custo do insumo, fato que retrai a adesão dos agricultores.
“A saída é buscar alternativas para que o produtor faça a troca, mas com mecanismos do mercado de opções que lhe deem a possibilidade de participar de uma eventual alta. Na nossa empresa, observamos o momento em que a commodity está bem para travar o preço. O desafio é fazer um negócio que seja bom para os dois lados e que ele volte a fazer”, explicou Araújo.
No setor de máquinas e implementos agrícolas, há alguns meses a New Holland adotou o barter para comercialização e estabeleceu parceria com a trading Cargill para intermediar o pagamento. Segundo a empresa, uma das maiores fabricantes de tratores e colheitadeiras do mundo, a expectativa é chegar a R$ 20 milhões em negócios com este tipo de operação.
“Começamos com um projeto piloto em três estados e agora liberamos a venda para o Brasil inteiro. A triangulação funciona da seguinte forma: ofertamos o equipamento para o produtor, ele negocia o valor da soja com a trading e esta nos faz o pagamento da máquina. A vantagem para o agricultor é que a entrega está prevista para maio de 2016, na safra de verão, enquanto, para nós, o recebimento acontece agora. Foi uma forma que encontramos para alavancar a comercialização no ano e podemos dizer que somos a primeira empresa do segmento a operar por barter”, conta o gerente de marketing da New Holland, Jefferson Kohler.
Esta última deu início à primeira operação recentemente.
Qualquer operação financeira, de fato, envolve riscos. Na agricultura, a conjuntura de fatores envolvidos (como clima, câmbio, juros, inflação, preços internacionais e outros) maximiza possíveis prejuízos.
Um levantamento do Rabobank mostra que 75,8% dos produtores não gostam de correr risco, entretanto, 80% deles não realizam análise adequada para mitigação. A gerente executiva do banco, Pollyana Saraiva, ressalta que uma das fortes recomendações da instituição é proteger o preço através de operações do mercado, seja “barter”, opções, etc.
Fonte: DCI