Embora o leite adquirido pelas indústrias do País para processamento em julho e pago neste mês de agosto ainda deva ter valorização, já há sinais de que as cotações da matéria prima começam a perder força no País após vários meses de alta em decorrência da menor oferta.
Os preços do leite no spot (negociação entre os laticínios) já recuam assim como os do produto longa vida no atacado. Além disso, os preços de referência dos Conseleites (Conselho Paritário Produtor/Indústria de Leite) de Estados do Sul do país também projetam retrações nos valores pagos aos produtores pelo leite entregue neste mês. Esses três indicadores sinalizam para o recuo.
Levantamento da consultoria especializada em lácteos MilkPoint mostra que o preço no spot na média do País ficou em R$ 1,55 por litro na segunda quinzena deste mês, R$ 0,27 abaixo dos R$ 1,82 da primeira quinzena. A cotação da primeira quinzena se refere ao produto negociado em 31 de julho e fornecido entre 1 e 15 de agosto e a da segunda quinzena, ao que foi negociado no dia 15 deste mês e está sendo entregue nesta segunda metade de agosto.
“O spot caiu porque o UHT (longa vida) recuou e o nível de produção de leite está um pouco mais forte no Sul do País”, disse Valter Galan, analista da MilkPoint. Nesse cenário, o preço ao produtor também começa a ser pressionado. A produção está em alta no Sul porque é período de safra na região, o que deve elevar a oferta de leite até o mês de outubro.
Os preços do leite longa vida da indústria para o varejo também iniciaram movimento de queda, de acordo com a MilkPoint. A última pesquisa indica que na terceira semana de agosto, o preço médio no atacado em São Paulo ficou em R$ 2,73 por litro, uma queda de R$ 0,21 em relação à semana anterior. Na comparação com a primeira semana do mês, o recuo é de R$ 0,44. Em um mês, a retração alcança R$ 0,90, segundo a consultoria.
Esse comportamento das cotações no atacado indica que o preço do leite longa vida “bateu no teto no varejo e o consumidor se retraiu”, disse Galan.
De acordo com Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria, “com a produção de leite aumentando no País e as quedas no atacado, a pressão de baixa ganhou força a partir de meados de julho”. Para ele, a expectativa “daqui para frente” é de pressão de baixa no mercado do leite em todos os elos da cadeia.
Levantamentos de consultorias, como a Scot, e do CEPEA mostram dados referentes ao mês de pagamento do leite ao produtor. Assim, o último dado disponível nos dois casos são os valores recebidos pelos produtores em julho pela matéria-prima entregue no mês anterior. E esses dados ainda mostram alta. Segundo a Scot, que pesquisa preços em 17 Estados, o litro subiu 6% na média nacional em julho sobre o mês anterior. O levantamento do CEPEA, que considera preços em sete Estados, indicou alta de 12,9% na cotação média no mesmo período.
Mas os levantamentos dos Conseleites estaduais têm dados mais atuais, já que projetam o preço de referência do leite que está sendo entregue no mês corrente. Esse preço é um valor médio calculado a partir das cotações de venda dos derivados de leite por indústrias participantes do Conseleite.
O conselho de Santa Catarina, por exemplo, projeta um preço referência para o leite padrão ao produtor de R$ 1,4303 em agosto – o valor final em julho, havia sido de R$ 1,55 ao produtor. Já o Conseleite do Paraná projeta um valor de R$ 1,4021 o litro para agosto, também abaixo do preço final de R$ 1,4348 em julho.
No Rio Grande do Sul, a projeção também é de baixa. O valor projetado pelo Conseleite para o leite entregue em agosto é de R$ 1,2391 o litro, 6,15% abaixo do preço final de julho, que ficou em R$ 1,3203 o litro.
Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindilat-RS, disse que “a produção [de leite] está respondendo no campo, já que o clima está mais ameno” no Estado. Além disso, outra explicação para o recuo é que a importação de lácteos equilibrou a oferta, disse.
Valor